Sebastião Nery
(05 / 03 / 2017)
ROMA – Ontem, no voo Rio-Roma, li um livro imperdível.
Até surpreendente, pela idade do autor. Todo brasileiro deve ler, pois preenche
um pedaço fundamental da historia do pais. E foi escrito com honra, alma e
verdade. A partir de agora ninguém mais poderá falar sobre o golpe militar de
1964 sem ler e citar “JANGO E EU- Memórias de um Exílio Sem Volta”, de João Vicente
Goulart, filho do grande e saudoso ex – Presidente João Goulart (Ed.
Civilização Brasileira – Rio)
Não se põe um livro em uma lauda. Em vez de tentar
resumi-lo, prefiro citar entre aspas apenas alguns pequenos trechos, que o
resumem:
– “Jango chegou a Porto Alegre no auge da crise. Após
vários encontros com políticos e militares e de longas conversas para avaliar
se haveria condições ou não de resistência, preferiu partir para o exílio,
depois de constatar que resistir naquelas precárias condições
logísticas seria ocasionar inutilmente um derramamento de sangue entre
brasileiros, o que levaria o país a uma guerra civil de proporções
inimagináveis, provocando, possivelmente, até a divisão territorial da nação.
Sua atitude, sem dúvida, foi a mais acertada, mesmo que
as diferente forças políticas, de esquerda e de direita, continuassem a
criticá-lo duramente por não resistir. Por que essa crítica seria dirigida
apenas a ele?, eu me pergunto. Por que o Partido Comunista não resistiu? Por que
Brizola não resistiu? Por que os sindicatos não resistiram? Por que as Ligas
Camponesas não resistiram? Por que Arraes não resistiu? Ora, Jango seria o
único a se submeter? E onde estavam aqueles que o criticavam?”
“Jango sempre foi legalista. Alguns setores da esquerda –
entre as quais estava Brizola -, que desejavam impedir o avanço da direita, é
que queriam dar o golpe”….
“Pregavam o avanço, mesmo que pela força ou pela ruptura
institucional antes do golpe de direita, o que acabou ocorrendo…
– “Jango não caiu por seus erros, e sim por seus
acertos”, como disse Darcy Ribeiro, muito pragmaticamente, em suas declarações
sobre o golpe.
“Brizola queria ser nomeado ministro da Justiça e indicar
o general Ladário para ministro da Guerra”.
“Jango sabia disso e não jogaria seu povo numa
resistência fratricida em nome do poder. Sua atitude preservou a paz da nação
brasileira, e, principalmente, nosso território.
– “Por anos, uma pesquisa feita pelo Ibope foi escondida
nos escaninhos da Unicamp. Segundo ela, quando ocorreu o golpe, Jango tinha
aprovação da maior parte da população brasileira, e, se pudesse concorrer em
1965, venceria as eleições, perdendo para Juscelino apenas em Belo Horizonte e
Fortaleza.
Certa vez, enquanto conversávamos perto da lareira em
casa, meu pai me contou como ele e o tio Leonel romperam relações. No dia 2 de
abril, na casa do general Ladário, Jango decidiu não resistir ao golpe e
Brizola queria que ele o nomeasse ministro da Justiça e o general Ladário
ministro da Guerra. Jango não quis, e Brizola disse que ficaria no Brasil para
lutar e morrer, porque não concordava em renunciar à luta e ir para o exílio.
“Brizola, no entanto, não conseguiu viabilizar a
resistência no Rio Grande do Sul. Jango não concordava com a luta armada que
Brizola queria implantar no Brasil.”
“Jango fez as pazes com Brizola pouco tempo antes de
morrer”…
“Eles passaram um longo período sem se falar”…
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Este blog só aceita comentários ou críticas que não ofendam a dignidade das pessoas.