Liege Albuquerque*
(09/06/2014)
Quantos animais morrem por dia na floresta Amazônica? Não
há estimativa. Mas há estimativas de quantas árvores morrem, ou quantos
hectares de verde se perde por mês aqui. Dá para acompanhar, por exemplo, o
fato de o Amazonas estar perdendo aos poucos a folga de números para o segundo
lugar - perdendo o status de estado menos desmatado da Amazônia. O sul do
Amazonas está muito castigado.
As fotos de satélite permitem aos cientistas calcular as
estimativas do tamanho do estrago na floresta, mostram as clareiras formadas
por árvores derrubadas ou queimadas. Nenhum governo ou ONG - relevo - faz
estimativas ou levantamentos da quantidade de animais da floresta que perdem
seus habitats, que morrem queimados, ou esmagados por tratores no meio desse
desmatamento.
Sinto angústia quando vejo notícias nos jornais de Manaus
(ou no meu WhatsApp) com fotos de preguiças atropeladas ou jacarézinhos
assustados pelos igarapés da cidade. Esse da foto (que recebi no WhatsApp) foi
encontrado essa semana perto de um prédio público. O bichinho estava muito
assustado. Um homem tinha uma corda no carro e amarrou o animal até que ele
fosse resgatado pelo Batalhão Ambiental da PM. Que bom que ninguém o maltratou.
Também recebi uma foto terrível de um jacaré maior que
esse com a cabeça cortada, muito triste, que prefiro nem divulgar aqui. Assim
como há pessoas monstruosas que lincham outras por causa de um boato, há outros
monstros que matam um animal porque consideram que ele é perigoso, mesmo que o
bicho nada tenha feito e esteja perdido no meio de um igarapé fétido sem
entender como foi parar ali em meio a tanto lixo.
Manaus é uma cidade no meio da floresta e os animais que
viviam por aqui (e ainda vivem) obviamente ficam muito confusos quando
encontram no meio do caminho um pedaço de asfalto onde antes era terra e mata.
Vivem acuados e assustados. No ano passado, na ampliação da Avenida das Torres,
em Manaus, o massacre de macacos e preguiças foi grande.
Mesmo sendo poucos os animais resgatados com vida, há
para eles bem pouco espaço para se abrigar. Alguns sobrevivem com alguma
sequela e muitos não têm mais condições de voltar à floresta e precisam passar
o resto da vida em cativeiro. Muitos a resgatar e pouca ou quase nenhuma
estrutura ou investimento nesses resgates.
Só ano passado, O Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e
Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e o Instituto de Proteção Ambiental do
Amazonas (Ipaam) acolheram 789 animais silvestres. Na média, dá dois animais
resgatados por dia. Destes, 42% foram devolvidos à natureza, 12% destinados aos
criadores comerciais, 11% a mantenedores de fauna, 8% permanecem no Ibama e 28%
tiveram outro destino (como zoológicos em outros Estado).
São jacarés, tartarugas, bichos-preguiça, araras,
periquitos, papagaios, cobras, macacos e iguanas. Todos donos legítimos dessa
floresta, seus primeiros habitantes, seus habitantes puros, que nada destroem
de seu lar e são cruelmente expulsos dele. Meu desejo é que as pessoas aqui na
minha cidade querida (e que maltrata seu meio ambiente) tenham mais compaixão
com os animais (selvagens e domésticos), com as árvores e com o verde. Como eu
sempre digo, a floresta e seus animais são o melhor de Manaus. E infelizmente
estão sempre no fim (ou nem estão) na lista de prioridades nas ações de
preservação dos governos locais.
*Liege Albuquerque é jornalista e mestre em Ciências
Políticas
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Este blog só aceita comentários ou críticas que não ofendam a dignidade das pessoas.