Nesta sexta-feira (17), a maior operação de combate à
corrupção e à lavagem de dinheiro do país completa três anos. Tudo começou com
quatro investigações da Polícia Federal: Dolce Vita, Bidone, Casablanca e Lava
Jato. As três primeiras são nomes de filmes clássicos, escolhidos de acordo com
o perfil de cada doleiro investigado. A última fazia referência a uma lavanderia e a um posto de combustíveis em
Brasília, que eram usados pelas organizações criminosas. Desde então, já se
foram 38 fases da Operação Lava Jato. Nesse período, os investigadores apuraram
fatos relacionados a empreiteiras, doleiros, funcionários da Petrobras e
políticos.
De acordo com dados do Ministério Público Federal no
Paraná atualizados em fevereiro, foram 57 acusações criminais contra 260
pessoas, sendo que em 25 já houve sentença por crimes como lavagem de dinheiro,
corrupção, organização criminosa e tráfico transnacional de drogas. Até agora,
a Lava Jato conseguiu recuperar R$ 10 bilhões aos cofres públicos, entre
valores que já foram devolvidos ou estão em processo de recuperação.
Para o procurador da República Diogo Castor, que faz
parte da força-tarefa, a operação começou a mudar a ideia de que crimes do
colarinho branco ficam impunes. “A Lava Jato democratizou a Justiça Criminal,
demonstrou como deve ser uma Justiça Criminal eficiente, uma coisa que o
brasileiro não está acostumado. O povo está acostumado ao setor público
ineficiente em todas as esferas, desde o Judiciário, Legislativo, Ministério
Público. A Lava Jato é a única coisa que deu certo no sistema de Justiça
Criminal no Brasil”, avalia.
Prisões em Curitiba
Nesse período, importantes políticos e empresários foram
condenados pelos crimes apurados na operação. No Complexo Médico Penal de
Pinhais (CMP), na região metropolitana de Curitiba, estão presos nove réus da
Lava Jato, entre eles o ex-ministro José Dirceu, o deputado cassado Eduardo
Cunha, o ex-senador Gim Argello, o ex-diretor da área Internacional da
Petrobras, Jorge Zelada, e o ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto.
O diretor do Departamento Penitenciário do Paraná, Luiz
Alberto Cartaxo, garante que não há nenhuma regalia para esses presos. Ele
explica que o CMP foi criado como uma unidade de saúde para abrigar presos com
problemas mentais, mas hoje reúne também servidores públicos e policiais
condenados por diversos crimes, além dos internos da Lava Jato. O local abriga
cerca de 670 presos que ficam em celas de 12 metros quadrados.
Cartaxo diz que há apenas algumas diferenças no CMP em
relação às outras unidades prisionais. O uniforme, por exemplo, é formado por
calça cinza e camiseta branca - nas outras unidades a roupa é alaranjada. No
complexo, os internos têm acesso à água quente, mas as visitas íntimas são
proibidas, já que se trata de uma unidade de saúde.
“A rotina deles é o seguinte: às 6h, alvorada e café-da-manhã.
São dois pães, café com leite ou só café. Após isso, eles saem das celas, têm
banho e banho de sol. Às 11h30 é o almoço, quando é servida uma alimentação
composta por carboidrato e proteína, que varia entre 850 e 900 gramas, que
envolve uma carne, arroz e feijão ou macarrão, verduras e legumes”, diz.
O diretor também diz que cada preso, inclusive os da Lava
Jato, tem direito a uma sacola com peças íntimas e produtos de higiene pessoal.
“Não há nenhuma diferenciação. Uma vez por semana, todos os presos do Sistema
Penitenciário do Paraná podem receber uma sacola que envolve comidas não-
perecíveis, produtos de higiene pessoal e algumas roupas íntimas, que o sistema
não fornece. Mas é evidente que existe uma diferença entre a sacola do então preso,
que já saiu da lá, Marcelo Odebrecht, para a sacola do 'João Antônio das
Neves', que é um ladrão de varal”, compara.
Além do CMP, também há presos da Lava Jato na carceragem
da Polícia Federal em Curitiba e até em outras cidades, como o Rio de Janeiro.
Na carceragem estão, por exemplo, o empresário Marcelo Odebrecht, o ex-ministro
Antônio Palocci, o ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque e o
ex-presidente da OAS Léo Pinheiro.
Perfil diferente
Alguns presos da Lava Jato estão remindo a pena por meio
do trabalho ou da leitura. José Dirceu, por exemplo, trabalha na distribuição
de livros. A cada três dias exercendo a função, reduz a sentença em um dia.
Outros fazem a remissão a partir da leitura: a cada exemplar lido – que é
escolhido pelo professor de acordo com o perfil do preso – o detento faz uma
resenha e uma apresentação oral e, se aprovado, consegue diminuir a pena em
quatro dias.
O juiz Eduardo Lino, da Vara de Execuções Penais do
Paraná, explica que recebe com frequência atestados de trabalho ou leitura de
presos da Lava Jato para reduzir a pena. E diz que o perfil dos detentos de
crimes do colarinho branco destoa do restante da população carcerária.
“É uma coisa nova esse perfil de sentenciados. Geralmente
o espectro econômico é muito ruim, são pessoas pobres. E agora tem essa
situação nova com pessoas de melhor condição econômica, mas estão condenadas e
têm que se submeter a penas privativas de liberdade. E estão encontrando uma
forma de que isso possa ser feito sem riscos para ninguém. Que eles possam
cumprir essa pena, com dignidade como todos devem e, passado esse período,
ganharão a liberdade e que parem de praticar novas atividades criminosas de
todo o tipo.”
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