Sebastião Nery
MILÃO – Cheguei a Roma em janeiro de 1991, há 26 anos,
como Adido Cultural do Brasil, e logo me vi escrevendo sobre a “Operação Mãos
Limpas”, que nasceu exatamente em um Instituto Educacional Municipal aqui de
Milão. Os jornalistas brasileiros me perguntavam o que era aquilo. Aprendi, com
os colegas italianos, que era um bruto escândalo nascido nas entranhas do
Partido Socialista italiano e espraiado para o Partido da Democracia Cristã e o
Partido Liberal. Quer dizer, todos com a mão na massa.
De repente o jovem e valente procurador, Antonio Di
Pietro, assumiu o comando das apurações e emocionou a Itália pela firmeza com
que conduziu as apurações. A reação nasceu imediata sobretudo vinda da máfia do
sul da Itália. E o escândalo estourou quando apareceu morto na Sicília o também
jovem juiz Falcone. A partir dai ninguém segurou a imprensa. E os partidos
políticos estrebucharam tentando explicações que nada explicavam.
Havia um cadáver em Palermo e uma opinião pública
exigindo respostas e o procurador Prieto, bravo, valente, inatacável, seguia em
frente. Foram milhares de prisões, tardes de interrogatórios, delações
premiadas, suicídios. Os partidos tentaram virar o jogo na Câmara e no Senado.
Mas não adiantou. Houve dezenas de punições e a justiça cumpriu seu dever.
Hoje a roda virou. Os jornalistas italianos é que nos
perguntam sobre o sucesso da Lava Jato, que a Itália compara com a operação
Mãos Limpas. O juiz Sérgio Moro é aplaudido nos debates públicos e nas entrevistas.
Ainda bem que a lição quem está dando é o Brasil. E o competente e valoroso
juiz do Paraná e seus companheiros do Rio, São Paulo e Brasília.
Há instantes em que os países precisam construir lições
que eventualmente sejam transmitidas a outros povos. A Lava Jato é uma delas.
No Brasil a sociedade, igualmente, pela sua maioria
dormitava no sono profundo do otimismo nefasto construído pelos marqueteiros do
poder. A ilha da fantasia edificada em soluções mágicas garantia popularidade
ao governo na sustentação de uma política econômica equivocada que não pouparia
nenhum setor produtivo.
Omite-se a responsabilidade dos grandes empresários na
construção desse desastre histórico. Ela não é marginal. Ao contrário, auferiu
vantagens, engordando os seus lucros, ampliando a concentração da renda
nacional, penalizando a população. O jornalista Fábio Zanini, no livro “Euforia
e Fracasso do Brasil Grande – Política Externa e Multinacionais Brasileiras na
Era Lula” destaca:
– “A reboque da sua figura hiperativa vieram
empreendedores e aproveitadores na construção civil, no agronegócio e no setor
petrolífero, entusiasmados com o novo ambiente de permissividade que se
instalava.”
A promiscuidade geradora de corrupção no governo e no
mundo empresarial, infelizmente, é herança histórica. Empenham-se nos esquemas
de proteção e na economia fechada à competição.
As reinvindicações recorrentes do grande mundo
empresarial e atendidas pelos governos Lula-Dilma, forçaram a derrubada
artificial da taxa de juros, acreditando que garantiria a elevação da
competitividade das empresas. O artificialismo produziu efeito contrário com a
desvalorização do real.
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