A Polícia Federal deflagrou nesta sexta (17) a Operação
Carne Fraca, com foco na venda ilegal de carnes por frigoríficos, e deverá
cumprir 38 mandados de prisão.
Alguns dos principais frigoríficos do país estão na mira
da operação, como BRF, JBS e Seara. A Justiça Federal do Paraná determinou o
bloqueio de R$ 1 bilhão das investigadas.
O objetivo é desarticular uma suposta organização
criminosa liderada por fiscais agropecuários do Ministério da Agricultura, que,
com o pagamento de propina, facilitavam a produção de produtos adulterados,
emitindo certificados sanitários sem fiscalização.
A investigação revelou até mesmo o uso de carnes podres,
maquiadas com ácido ascórbico, por alguns frigoríficos, e a re-embalagem de
produtos vencidos.
Entre os presos, estão executivos da BRF como Roney
Nogueira dos Santos, gerente de relações institucionais e governamentais, e
André Baldissera, diretor da BRF para o Centro-Oeste.
Também estão na lista funcionários da Seara e do
frigorífico Peccin -um dos que tinha irregularidades gravíssimas, como uso de
carnes podres, segundo a PF-, além de fiscais do Ministério da Agricultura.
A reportagem entrou em contato com as empresas envolvidas,
mas não obteve resposta.
Segundo a PF, essa é a maior operação já realizada na
história da instituição. Estão sendo mobilizados 1.100 policiais em seis
Estados (Paraná, São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e
Goiás) e no Distrito Federal.
A investigação aponta que os frigoríficos exerciam
influência direta no Ministério da Agricultura para escolher os servidores que
iriam efetuar as fiscalizações na empresa, por meio do pagamento de vantagens
indevidas. Roney dos Santos, executivo da BRF, tinha acesso inclusive ao login
e senha do sistema de processos administrativos do órgão, de uso interno.
"Parece realismo mágico. Infelizmente, não é",
diz o juiz Marcos Josegrei da Silva, da 14ª Vara Federal do Paraná, que
determinou as prisões.
"Dedo", "luva" e
"documento" eram alguns dos termos usados pelos fiscais agropecuários
para o pedido de propina. Mas até mesmo caixas de carne, frango, pizzas, ração
para animais e botas eram dadas em favor pela vista grossa na fiscalização, diz
o juiz Josegrei.
"É um cenário desolador", afirma Josegrei.
"Resta claro o poderio de intimidação, de influência e de uso abusivo dos
cargos públicos que ostentam para se locupletarem, recebendo somas variáveis de
dinheiro e benesses in natura das empresas que deveriam fiscalizar com isenção
e profissionalismo."
Serão cumpridos 27 mandados de prisão preventiva, 11 de
temporária (válida por cinco dias) e 194 buscas e apreensões.
MAIOR OPERAÇÃO
Segundo a PF, essa é a maior operação já realizada na
história da instituição.
Em nota, a Polícia Federal afirma que detectou em quase
dois anos de investigação que as superintendências regionais do Ministério da
Pesca e Agricultura dos Estados do Paraná, Minas Gerais e Goiás atuavam para
proteger empresas, prejudicado o interesse público.
O esquema, ainda segundo os investigadores, funcionava
por meio de agentes públicos que se utilizavam do poder de fiscalização para
cobrar propina e, em contrapartida, facilitar a produção de alimentos
adulterados, emitindo certificados sanitários sem qualquer fiscalização.
Dentre as ilegalidades praticadas pela suposta quadrilha
está a remoção de agentes públicos com desvio de finalidade para atender
interesses dos grupos empresariais.
O nome "Carne Fraca" da operação faz alusão à conhecida
expressão popular em sintonia com a própria qualidade dos alimentos fornecidos
ao consumidor por grandes grupos corporativos do ramo alimentício.
A expressão popular também mostra "a fragilidade
moral de agentes públicos federais que deveriam zelar e fiscalizar a qualidade
dos alimentos fornecidos a sociedade"
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