Jorge Oliveira
Brasília - Os procuradores estão assanhados. E a turma do
Janot – que perdeu o poder – não vai dar sossego a nova procuradora-geral da
República, Raquel Dodge, que toma posse em setembro. Os descontentes não
admitem que Dodge tenha sido indicada por Temer e seu nome aprovado pelo Senado
Federal, mesmo sendo a segunda na escolha da lista tríplice em eleição
realizada pela Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR). Dodge
está pagando dois preços: o de ser mulher e o de ter enfrentado os ressentidos
lá dentro da procuradoria, que virou uma espécie de latifúndio de alguns.
Diante da ousadia de Raquel Dodge, que decidiu desafiar Rodrigo Janot, seu conhecido rival lá dentro, existe uma campanha difamatória contra ela, que a mídia registra como notícia mas que, na verdade, é usada para desestabilizar a nova procuradora depois do seu encontro com Temer no Palácio Jaburu para marcar a sua posse. Ora, Dodge não deve pagar por um erro infantil como esse. Um erro infantil, sim, pois a posse dos procuradores, por tradição, é na sede da procuradoria e não no Palácio do Planalto, como o Temer sugeriu.
O preço que estão cobrando dela por esse deslize político
é alto demais. Como futura procuradora-geral da República, que tem que zelar
pela operação Lava Jato na qual o presidente da República está envolvido, ela
não deveria ter aceito o convite do Temer. Mas e daí, alguém acha que Raquel
Dodge, cuja ficha é exemplar no cargo de subprocuradora, vai ser parcial nos
julgamentos dos réus da Lava Jato daqui por diante? Claro que não. Os mesmos
procuradores que tentam atear fogo ao circo são os mesmos que deram aos irmãos
Batista o salvo conduto que os livrou de vários crimes, inclusive o de formação
de quadrilha.
Raquel Dodge entrou em parafuso depois que viu a sua
audiência com o presidente da República virar o principal acontecimento do
país. A TV Globo, inclusive, enalteceu o cinegrafista que a flagrou entrando no
Palácio do Jaburu como se isso fosse um acontecimento extraordinário. Bobagem,
idiotice de um noticiário comprometido por razões desconhecidas. A mídia
dirigida chega a insinuar que ela teria aconselhado o presidente a entrar com
uma ação de suspeição contra Janot, alegando perseguição política. Alguém de
bom senso acredita numa idiotice dessa? Os perdedores – aqueles que fizeram
campanha pró sucessor de Janot –
acreditam, sim. Por isso, magoados, espalham versões mentirosas para
desestabilizar a nova procuradora.
Ora, não vamos esquecer que a turma do Janot, que deixa o
poder, foi responsável pelo maior favorecimento de uma delação premiada da
história do país. E que isso o deixa numa situação de vulnerabilidade, caso a
Raquel Dodge decida reabrir a delação premiada dos irmãos Batista. Uma
investigação interna iria, portanto, vasculhar os bastidores do acordo que deu
a Joesley o salvo conduto que ele precisava para se safar de todas as acusações
que recaem sobre ele de formação de quadrilha. Tudo baseado na sua própria
confissão da distribuição de mais de l bilhão de reais a políticos e lobistas
para que suas empresas fossem favorecidas com empréstimos em bancos oficiais.
Ao tentarem denegrir a imagem de Raquel Dodge os seus
detratores não estão considerando a sua biografia ciosa, zelosa e sem mácula à
frente da justiça brasileira. São essas qualidades que nos dão a garantia de
que os responsáveis pelos escândalos públicos vão continuar a ser julgados com
a isenção de quem quer apenas fazer justiça e não política, como se desdobram
atualmente as últimas investigações de Janot e sua equipe. Se Dodge quisesse
fazer política à frente da procuradoria-geral da República teria outra forma de
encontrar Temer, como fazem alguns na calada da noite. Não iria, evidentemente,
ao Jaburu naquela hora onde os jornalistas ficam a espreita dos convidados do
presidente.
Janot deixa a chefia da procuradoria sem responder
convenientemente a dois fatos que jogam nódoas na sua toga: a insinuação de
Temer de que ele estaria envolvido em casos obscuros com os irmãos Batista, e o
envolvimento de um dos seus colaboradores (que deixou a PGR) com a JBS para
negociar os casos de leniência.
Pela retidão do seu comportamento e a sua magnanimidade é
difícil imaginar que casos como esses respinguem na toga de Raquel Dodge no
exercício do novo cargo.
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