Marli Gonçalves
A mais nova arma não letal que vem sendo usada aqui para
expressar desagrado e beicinho é geometricamente perfeita. Não para em pé,
verdade, mas seu formato, exatamente nele inspirado, o oval, é bonito e serve
bem para um monte de coisas. Se fresquinhos, recém-postos, postura; se no
ninho, ninhada; na panela, se vira todo.
Frágil, delicadinho, o ovo está sempre no meio das
polêmicas. Já começa do princípio de sua própria existência. Quem nasceu
primeiro? O ovo ou sua mãe? A galinha? A pata? Ovos de quê? A humanidade se
depara com suas grandes questões. Seria a Terra oval? - perguntaram-se até os
conquistadores, abrindo aí dissidência histórica com o redondo, com o quadrado,
isso sem esquecer o retângulo, ou o losango e suas arestas.
Para ficar em pé precisa de suporte. Para chocar precisam
ser aquecidos.
Sua geometria, contudo, faz com que, atirado, voe célere
pelos ares se partindo no alvo, esparramado, esbanjando seu amarelo e branco
pegajoso. Andam voando para cima de quem se apresenta fora da hora para a
missão impossível que se torna a cada dia o quadro eleitoral a se definir ano
que vem. Homens públicos ressuscitarão o hábito de usar elegantes e bem
dobrados lenços de pano em seus bolsos. Talvez se ressuscite também o galante
que o oferece a uma mulher que chore ao seu lado, ou que dele necessite que
seja estendido sobre uma poça de água.
Ovo jogado dá boa foto, vira notícia. Só precisa ter
bastante cuidado para carregar o armamento, que pode fazer estrago se quebrado,
rompido dentro da bolsa. Aí mostra seu pequeno, mas porcalhão, potencial
ofensivo. Não é bomba que estoure no colo. É arma infantil.
Por aqui o bombardeio é assim leve, embora gaste alimento
tão nutritivo. Certo que ele tem fases: épocas em que é execrado, bandido,
vilão, assassino silencioso. No momento, pelo menos nesse sentido, os ânimos
estão apaziguados e até indicado está sendo para fortalecer o corpo, fonte de
nutrientes, proteínas, e sabe-se lá mais quanta coisa que aparece a cada dia,
impressionante, para elogiá-lo. Coma pelo menos um ao dia. Já apareceu quem
coma mais de 30 para ficar fortinho – mas esses dizem que separam a gema –
ficam só com a clara.
Do branco ou do caipira. O preço está pela hora da morte.
Cozido, frito, mexido, batido, cru, mole, duro – é
dinâmico esse moço dentro da sua casquinha. E, se do limão faz-se a limonada,
dele os políticos fazem um omelete quando se mostram coitadinhos indignados
pela perseguição de um desses elementos dos quais tentam sempre se esquivar, e
que tanto os humilham.
Ovos voam em todas as direções, vindos da esquerda e da
direita. Se servissem para algo, logo viriam os que gostam de pisar no tomate.
Em ovos, pisamos nós.
Marli Gonçalves é jornalista
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