Paulo Kramer
1) Ele pode virar o candidato do mercado e das reformas, o
'nome do Centro' que os políticos e a mídia têm tido tanta dificuldade para
identificar.
2) Já tem 3% de recall e ainda pode conquistar
'pré-eleitores' de Alckmin, que enfrenta problemas para crescer em razão de sua
tibieza (ambiguidade em relação à agenda de reformas), e de Bolsonaro, que
ainda precisa persuadir o mercado de seus compromissos reformistas.
3) Diferentemente de presidenciáveis noviços como Bolsonaro
e Huck, Collor não precisa prometer a ninguém que será um presidente
reformista; já provou isso nos dois anos durante os quais governou o Brasil;
4) Por falar em Bolsonaro, cujo 'teto' de intenções de voto
está prestes a se revelar nas próximas pesquisas do Poder 360 e do Instituto
Paraná, uma fatia dos eleitores hoje adeptos do ex-militar, composta por jovens
com diploma universitário e inclinações econômicas liberais, vai ver em Collor
uma nova alternativa, menos 'arriscada' até.
5) Até mesmo a magnitude dos obstáculos de natureza ética à
nova candidatura presidencial do senador alagoano tende a ser relativizada em
função de três pontos: (a) parcela significativa do eleitorado ainda não tinha
chegado sequer à adolescência na época dos polêmicos e tumultuosos
acontecimentos que culminaram no seu impeachment; (b) lembranças mais
desprimorosas da presidência Collor simplesmente empalidecem, quase chegando a
desaparecer em contraste com os gigantescos e recentes escândalos praticados
durante o reinado lulodilmista, ou mesmo com os também recentes casos surgidos
em São Paulo sob o governo Alckmin, a exemplo do rodoanel, entre outros; (c)
Collor foi criminalmente absolvido por instâncias judiciais colegiadas, o que
lhe permite ostentar a credencial de candidato ficha-limpa.
6) Por último, mas não em último, com a provável saída de
Lula da corrida presidencial, Collor estará bem posicionado para disputar o
rótulo de candidato do Nordeste com Ciro, com a vantagem de projetar um perfil
mais 'presidencial' que o do iracundo ex-governador cearense.
Enfim, a pré-candidatura presidencial do senador Fernando
Collor de Mello representa um 'fato novo' cujo alcance merece ainda ser cuidadosamente aquilatado.
Paulo Kramer é cientista político.
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