Edson Vidigal
O Rei Momo, na origem, isto é, na mitologia grega, foi uma
mulher que depois foi até deusa e juíza à qual
se atribuía poderes de só fazer
o bem.
Conhecida também como Reclamação, filha de pai
desconhecido, Momo personificava a noite.
Contam os etimólogos que os romanos escolhiam três dias a
cada ano para uma grande festança tendo como lema o seja você quem for, seja o
que Deus quiser. Em torno de uma enorme vala faziam churrascos, vindo dessa
vala da carne chamada carnivália a palavra carnaval.
Para o governo do carnaval os romanos elegeram Rei a deusa
Momo dos gregos. Não era bem um Rei homem, mas originariamente uma mulher que
com o passar do tempo se assumiu e alcançou.
A condição de elegibilidade para Rei Momo era ser
militante, defensor do Império de César, dono de insuspeitável alegria,
irradiante simpatia e, ademais, muito bonito. O que para estas paragens não
chega a ser o caso.
Uma reforma eleitoral feita às pressas, no maior casuísmo,
tornou inelegível quem não pesasse no mínimo 120 quilos, exigindo-se a vistosa
obesidade também para as candidatas a Rainha Momo.
Tudo isso ideia da bancada do agronegócio e de um pessoal
da OAB do Maranhão sob a justificativa de que o sobrepeso simboliza a fartura,
o dólar em queda, a inflação controlada, o real valorizado, os salários com
poder de compra, enfim, o crescimento da produção, inclusive a industrial.
Mas como isso tudo foi sumindo do cenário e constatando-se
que metade da população do País está obesa, o que só aumenta as despesas do
governo e dos planos de saúde, a primeira condição de elegibilidade para os
tronos de Rei e de Rainha do carnaval foi revogada.
Agora só terão vez os magros, na proporção de altura e
peso.
Ora, quem sob a visibilidade geral inerente ao Poder, Rei
ou Rainha, Presidente ou Presidenta de qualquer coisa, não tem que se mostrar
como símbolo do bom exemplo?
Quando algum ungido para alguma altura diz que não gosta de
ler livros e que seu primeiro diploma na vida foi aquele que lhe permitiu
ascender a curaca, isso então não é apologia contra a instrução e a educação?
Qual a criança que depois disso vai querer ir para a escola?
Vale também para o Rei Momo e Rainha Momo, enquadráveis na
lei ficha suja da obesidade, caso não se apresentem magros e sarados. Casal de
monarcas obesos é o mesmo que dizer às crianças – bebam mais refrigerantes,
comam mais batata frita, comam mais sanduiches de lanchonetes carregados de
maionese.
Em Palmátria, a capital de um País descoberto pelo poeta
Tribuzi no último século, houve há pouco uma grande confusão na escolha do novo
Rei e da nova Rainha Momo.
Quando tudo parecia seguir nos conformes dos previamente
combinados, como sói acontecer igualmente no Maranhão, sabendo-se antemão nos
bastidores quem seria a Rainha Momo eleita, eis que desponta uma morena que
parecia saída de uma tela do Di Cavalcanti.
Alta, esguia, dedos de pianista, sorriso cativante,
daqueles de encarcerar doleiro e até diretor da Petrobrás, dir-se-ia que era a
reencarnação da modelo do gênio pintor, a Marina Montini.
Ah o júri não gostou. Seria a revogação do que havia sido
negociado antes. Esgotados todos os argumentos, um inflamado jurado saiu com
mais este:
- Esta candidata é muito alta, gente. E mulher alta cansa.
- Quem falou que mulher alta cansa? Quis saber outro
jurado.
– Ora, o Sarney...
Ninguém achou graça. Mas o Sarney que acompanhava tudo pela
televisão, qual o dono da tabacaria, sorriu.
Edson Vidigal, Advogado, foi Presidente do Superior
Tribunal de Justiça e do Conselho da Justiça Federal.
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