Percival Puggina
A intervenção federal na segurança pública do Rio de
Janeiro, a primeira sob a égide da Constituição de 1988, é apenas mais um
sintoma dos gravíssimos males que afetam a segurança e a ordem pública no
Brasil. É sintoma, é ação necessária, mas não é, nem de longe, a solução. O
verdadeiro mal, se quisermos lhe dar um nome, se chama “cadeia produtiva da
insegurança pública”. Ela é imensa, extensa e vem sendo caprichosamente
desenvolvida ao longo dos anos. É ela que precisa ser enfrentada em toda sua
extensão.
O Rio de Janeiro é a unidade da federação onde esse mal
mais avançou. Em diferentes estágios, porém, ele está em curso em todo o
território nacional. Refiro-me à revolução empreendida com as armas do crime
organizado e do crime desorganizado, revolução que deles se vale para alcançar
objetivos políticos. Queríamos o quê? Não se chega a essa situação sem muito
investimento, sem muita dedicação ao projeto de enfraquecer a cultura da defesa
da ordem e sem desarticular a cadeia produtiva da segurança pública. Não se
chega ao arremedo de legislação, persecução e execução penal que temos sem
muita doutrinação no ambiente acadêmico e, em especial, sem infiltração
ideológica nos cursos de Direito.
Soltar bandidos com um sexto da pena cumprida? Semiaberto
de brincadeirinha? Presídios entregues às facções? Não se chega ao caos sem que
a ideologia do caos alcance os parlamentos, o Poder Judiciário, o Ministério
Público e o conjunto dos formadores de opinião, onde se multiplicam por osmose
e em precavida posição remota os “auditores” da ação policial, as carpideiras
de bandidos. O cidadão tem medo de sair de casa e os defensores da bandidagem
proclamam que ... “Temos presos em excesso!”.
Que esperavam nossos legisladores, nossos políticos, nossos
juristas? Imaginavam conter facínoras com pombas brancas, desarmando a
população de bem, descuidando e maldizendo a atividade das instituições
policiais, abandonando o sistema penitenciário à insuficiência, à ruína e à
desgraça? Esperavam colher quais resultados, os que se dedicam a interditar a
disciplina, a deformar consciências, a derrubar valores, a desconstituir a
instituição familiar, a esmaecer a autoridade e a missão paterna, a amordaçar
as igrejas?
A insegurança pública em nosso país, com todas as suas
funestas consequências sociais e psicossociais, é mais um sintoma do mesmo mal
que se abate sobre a política e sobre a economia brasileira. O Brasil aceitou,
por tempo excessivo, dormir com o inimigo. Na medida em que avançavam os
números dos homicídios no Brasil, eu ia alertando em artigos, ao longo dos
últimos anos, para o fato de que ainda era possível piorar. E a Venezuela era
um exemplo disso.
(Nota do autor: Estou ultimando uma segunda edição ampliada
e atualizada de “Cuba, a tragédia da utopia”. Ela estará disponível nos
próximos meses.)
Percival Puggina, membro da Academia Rio-Grandense de
Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org,
colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o
totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do
Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Este blog só aceita comentários ou críticas que não ofendam a dignidade das pessoas.