Minha reflexão da manhã
Hélcio Silva
(09 / 05 / 2018)
Cemitério de obras!
Quantas obras iniciadas sob a orientação dos diversos ministérios e que acabaram condenadas ao abandono ?
O Brasil está cheio de obras abandonadas!...
Dinheiro jogado fora!
Quase que não damos conta de que isso é grave e prejudicial a todos nós brasileiros...
Todos temos olhos para ver!
Um cemitério de obras!
Li agora pela manhã em minha sala de trabalho, na Ilha de Upaon-Açu, entre as águas do Atlântico, um editorial do Jornal do Brasil sobre o assunto que peço por leitura profunda e com interesse para que se tenha a dimensão e gravidade do problema.
Jornal do Brasil
O governo federal não deve conhecer, mesmo que em números
razoavelmente confiáveis, o volume de suas obras iniciadas sob a orientação dos
diversos ministérios e que acabaram condenadas ao abandono, destino que lhes
foi dado por rubricas orçamentárias insuficientes. Há cerca de dois anos, sem
indicar exatamente os recursos de que se valeu para chegar a essa apuração,
confessou que tais obras estariam em torno de 2.200. Para menos ou para mais,
como se costuma considerar nas pesquisas eleitorais.
Não dá para calcular o conjunto dos prejuízos decorrentes
dos projetos interrompidos. E esse é um cálculo que nem o governo ousa fazer.
Se o fizesse, não se limitaria ao que se gastou dos cofres do Erário, mas
também os desempregos causados, além do comprometimento dos muitos serviços que
deixaram de ser prestados, como hospitais, escolas e rodovias. Essas, não
raramente descuidadas em vários estados, e, em alguns casos, com detalhes
pitorescos, não fossem trágicos. Em Minas, onde situações semelhantes já foram
objeto de comentário, há uma estrada cujo traçado se surpreendeu ao “mergulhar”
em uma represa... Refez-se o projeto, ao custo de dinheiro e tempo perdidos.
As fortunas a serem consumidas para a retomada de centenas
de construções, hoje cobertas por mato e ferrugem, estariam fora do alcance do
Tesouro da União, não só para o atual, como para vários governos que se
seguirão. Uma ou outra, isoladamente, poderia ser concluída. Mas a grande
maioria, para não se falar da quase totalidade, perdeu-se definitivamente.
Ainda tentando explicar quadro tão calamitoso, indispensável
é questionar os critérios aplicados pelos ministérios para definir prioridades,
partindo-se do raciocínio, pelo menos, em tese, lógico, que o prioritário
associa-se ao indispensável; é o que se deve dizer da obra ou serviço que não
permite ser relegado. Acresce considerar a ausência de fiscalização,
contribuindo para o abandono inevitável. Isso posto, vem, em deplorável
sequência, o dinheiro de uma nação pobre, correndo para o desperdício, ou
- sem novidade - para desvios que
fomentam os dutos da corrupção, essa muitas vezes coautora interessada no
desleixo que se verifica em centenas de canteiros de obras; canteiros que se
assemelham a cemitérios, onde, em vez de placas, valeria instalar lápides, para
mostrar que ali está sepultado um pedaço da incompetência dos desgovernos.
Outro aspecto para contribuir no cenário sinistro está na
utilização improvisada desses restos para abrigo de famílias sem teto, sujeitas
aos inevitáveis riscos de desabamento. O abandono é o endereço da morte, como
se confirmou em São Paulo, na semana passada.
Não se trata, portanto, de um problema de grandeza
inferior, se a ele se conferir o conjunto das dificuldades e dos prejuízos, os
que já foram somados ao longo dos anos e os que estão por acontecer. Em uma
próxima e desejável avaliação da robusta relação das coisas começadas e não
continuadas, o governo pode, antes de tudo, sinalizar onde tão variado descaso
põe em risco a vida das pessoas.
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