sábado, 29 de setembro de 2018

TOLERÂNCIA NÃO É SUBSERVIÊNCIA


Por Edson Travassos Vidigal*


Alguns amigos me perguntam sempre por que eu “perco tempo” com pessoas que parecem ter solicitado serem meus amigos no facebook apenas para tumultuar minhas postagens com insultos, “memes” ofensivos, frases feitas e outros tipos de artifícios em defesa de políticos notoriamente corruptos.

Perguntam-me por que eu simplesmente não deleto tais comentários e desfaço tais amizades.

A resposta a tais perguntas é simples: minhas palavras são fruto de estudo, de reflexão, de análise honesta, de buscas coerentes tendo como foco a aniquilação da hipocrisia, do erro, da ignorância. Dediquei toda minha vida a isso, e continuo dedicando. Aprendo (ou pelo menos me esforço para aprender) com os meus erros, e com os dos outros. Não tenho medo de discutir ou argumentar com ninguém. Ouço tudo o que me dizem, penso, analiso, reflito. Digo o que penso. Se houver diálogo, todos saem ganhando. Mas diálogo é falar o que quer e estar disposto a ouvir o que não quer.

Eu aceito esses termos. Quem quiser tentar me convencer a ser comunista, socialista, ou mesmo petista, sempre terá essa chance, pois não sou intransigente. Agora, falem o que quiser, mas não queiram coibir o meu direito de também falar. Ouçam o que querem ouvir e também tenham honestidade para ouvir, refletir e pensar sobre o que não querem ouvir.

Existem muitas inverdades por ai, sendo disseminadas pintadas de flores, que escondem por trás terríveis mentiras. Abram o olho.

Peço aos meus amigos que também acreditem no diálogo e no pensamento crítico consciente, que persistam, que aguentem as provocações, que não se rebaixem a trocar frases feitas, ironias, agressões, e outros artifícios que visam apenas nos transformar em massa de manobra, como a maioria acaba se deixando transformar.

Paciência. Se somos conscientes do que falamos, tenhamos paciência para explicar. Sejamos coerentes.

Tolerância é saber conviver com opostos, com outros pontos de vista, outras visões, sempre dentro de um espírito democrático.

É saber atacar ideias de forma racional, gentil e civilizada, e não atacar pessoas com grosserias, ironias e palavras vazias de qualquer sentido lógico, sem nenhum propósito construtivo.

Apenas falácias não resolvem nenhum problema. E o que mais temos ao nosso redor são problemas a serem resolvidos.

Ainda assim, vemos todos os atuais candidatos prometerem mais e mais absurdos populistas sem dizerem, contanto, de onde sairá o dinheiro para isso. E nenhum ataca nosso real problema, nem oferece alguma solução a ele: o fato de que nosso país está completamente quebrado em consequência de mais de uma década de políticas populistas irresponsáveis aliadas a verdadeiros ralos de recursos públicos sugados pela corrupção
(Se alguém me prometer "tirar o Governo do SPC", e me mostrar como fará isso, terá o meu voto).

Precisamos trocar nossos governantes, que aprenderam que política é a arte de vencer discussões sem ter razão (com bravatas, ironias, ofensas pessoais e outros tipos de falácias) por cidadãos dispostos a elevarem os debates, o nível de nossa política, que tem sido rasteira, e de fato tentarem resolver algum problema com consciência e comprometimento com nós, cidadãos.

E dizem que nosso povo é assim, que a corrupção é cultural, que a ignorância é cultural, que a malandragem é cultural. Sim, de fato é cultural. Tem sido cultuada e cultivada por nossos governantes durante séculos. Séculos de maus exemplos, que, claro, são seguidos por nosso povo, como se fosse normal, pois não conhecem outra realidade diferente dessa.

Precisamos ser tolerantes com nossos concidadãos.
Todos, independentemente de ideologia, buscam o mesmo que nós - ser felizes. Precisamos dialogar com seriedade, calma, paciência, buscando, não ganhar a discussão, mas aprender com ela. Buscando um consenso no qual todos saiamos ganhando.

Por outro lado, ser tolerante não é ser subserviente. Não podemos abaixar a cabeça a tudo de errado que há por ai.

A corrupção é um mal que assola a todos nós, cidadãos. E deve ser combatido por todos nós, unidos.

Precisamos afastar da política os corruptos. Precisamos livrar nossas instituições democráticas do domínio do poder econômico. Nossos políticos têm sido eleitos não por nós, mas pelo dinheiro. E somente ao dinheiro é que devem satisfação. É essa a democracia que queremos?

* Edson Travassos Vidigal é advogado membro da Comissão de Assuntos Legislativos da OAB-DF e da Comissão de Direito Eleitoral da OAB-SP. Professor universitário de Direito e Filosofia, músico e escritor. Assina a coluna "A CIDADE NÃO PARA", publicada todos os domingos no JORNAL PEQUENO.

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