José Sarney
Já afirmei algumas vezes que, durante a Colônia e o
Império, coube à classe comerciária do Maranhão, depois reunida na Associação
Comercial, pensar nos problemas estruturais do Estado.
Tivemos grandes homens, de sólida formação, educados na
Europa que, aqui chegando, se dedicaram à atividade mercantil. Para destacar o
primeiro deles, cito João Gualberto da Costa, que idealizou a Comissão da
Praça, matriz da Associação Comercial, que fundou a Companhia Confiança
Maranhense e que construiu a Casa das Tulhas.
Ali era um terreno alagado, com vários casebres
paupérrimos onde eram vendidos os gêneros chegados dos barcos que atracavam na
praia vindos do interior. Eram cereais, frutas, aves, peixes secos, cachaça,
tiquira, cofos, chapéus e tudo. O nome de Casas das Tulhas não era o único,
pois Mestre Jerônimo Viveiros diz que aquele lugar também era conhecido como
Curro e Terreiro Público.
O certo era que a atual e bela Praia Grande, hoje com
seus deslumbrantes sobradões de azulejos, ficava cercada por uma orla de praia,
onde desordenadamente eram construídos barracos para receber os gêneros dos
barcos que chegavam.
Era uma bagunça danada, com grande dificuldade de
desembarque de mercadorias nas costas de escravos e catraeiros. Então, em 1799,
um Governador, D. Diogo de Sousa, teria dito, segundo Cezar Marques, “não haver
cidade alguma mais necessitada de um terreiro público para a guarda e venda dos
gêneros que os lavradores colhiam, como São Luís”.
E assim foi feito, e em 1820 finalmente se ergueu o
terreiro, com planta vinda de Lisboa e venda dos terrenos com obrigação dos
compradores de edificar depósitos para os gêneros. A primeira referência a esse
local de casebres está na Poranduba Maranhense, de Frei Francisco de Nossa
Senhora dos Prazeres; já em Dicionário Histórico de Cezar Marques aparecem como
tulhas para armazenagem.
Mas só em 1855 nova construção, a Casa da Praça,
iniciativa da Comissão da Praça, foi autorizada a funcionar por decreto
municipal. A data até hoje está no portão principal com o monograma da
Companhia Confiança Maranhense, C M, e a data, 1861. É, assim, uma relíquia de
São Luís. Ficou no lugar do antigo Terreiro ou Feira da Praia Grande.
Tudo isso para dizer que li que a Casa das Tulhas está
pedindo socorro, em total abandono e ameaçada de destruição. Liguei para Kátia
Bogéa, Diretora do IPHAN, que está fazendo uma obra notável no Instituto,
falando da notícia lida.
Ela, que já vem restaurando São Luís — são trabalho seus
as recuperações da Praça Deodoro, da Rua Grande, do Engenho Central, da Estação
de Rosário, do Altar Mor da Sé, do Museu de Arte Sacra, entre outros (com
recursos exclusivos federais, sem Prefeitura nem Governo do Estado), tem sido
uma grande benfeitora da nossa cidade, que lhe deve uma contribuição
inestimável. Kátia é uma referência nacional de gestora pública, destaque para
a recuperação da maravilha da Sé-Catedral de Salvador, Bahia, onde Vieira teve
o “estalo”, da Basílica de Congonhas do Campo, em Minas Gerais, do Forte
Orange, no Recife, entre tantas outras obras no Brasil inteiro.
Como sabe tudo da cidade, sabia tudo da Casa das Tulhas e
prometeu socorrê-la. A Praia Grande precisa e merece.
José Sarney
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