Entre dezembro de 2014 e dezembro de 2017, o crescimento
do número de brasileiros incluídos na linha de pobreza foi de 33%. O Centro de
Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas (FGV) estima que esse percentual
passou de 8,38% para 11,18% do total da população brasileira. Cálculos apontam
que, nesse período, 6,27 milhões de pessoas perderam emprego e renda, elevando
para 23,3 milhões a quantidade de pobres no País. Os inseridos nesse grupo possuem uma renda
per capita mensal de R$ 233,00, o correspondente a 24% do salário mínimo (R$
954,00).
Os analistas relacionam o empobrecimento da população à
crise econômica, acirrada pelo fechamento de postos de trabalho, queda no nível
de renda e aumento da informalidade nas relações de mercado.
De acordo com o IBGE, no Brasil, o desemprego atinge
atualmente 12,9 milhões de pessoas (12,3% da população ativa). Os reveses
econômicos também afetaram outros 4,8 milhões de indivíduos que, em função das
dificuldades encontradas no mercado de trabalho, desistiram de procurar
emprego.
O IBGE ainda aponta queda de renda média entre todos os
grupos em idade ativa. Entre 2015 e 2018, a perda acumulada é de 3,44%. Os mais
jovens têm recebido o maior impacto: quedas de 20,1%, na população com idades
entre 15 e 19 anos, e de 13,94% na faixa de 20 a 24 anos. Também têm sido
afetados com diminuição de rendimentos os que possuem apenas o ensino médio
incompleto (perda de 11,65%) e os chefes de família (-10,38%).
A desigualdade econômica, agravada pela dificuldade de
acesso a serviços essenciais, é uma realidade no Brasil. O último Relatório de
Desenvolvimento Humano (RDH) do Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (Pnud) coloca o Brasil como o 10º país mais desigual do mundo,
num ranking de mais de 140 países. Um estudo de 2017 da organização
internacional Oxfam aponta que os seis maiores bilionários brasileiros têm
riqueza equivalente à da metade mais pobre da população.
Esse diagnóstico reforça a gravidade do cenário que
espera pelo novo governo, em 2019, o qual deverá abraçar o compromisso de
erradicação da pobreza. A difícil equação implicará na adoção de medidas que
promovam a retomada do crescimento econômico com outras que assegurem o combate
às desigualdades sociais.
Por essa perspectiva, a saúde, assim como saneamento,
educação e segurança pública, é uma das áreas que deverá merecer atenção
especial por parte da União. Manter as
áreas sociais em pleno funcionamento e com capacidade de investimentos é ponto
fulcral para o desenvolvimento da Nação de modo responsável e sustentável.
Sem esse cuidado, a pobreza e a desigualdade se manterão,
gerando efeitos deletérios. Dentre eles, o aumento nos índices de violência e a
desaceleração no crescimento, estabelecendo-se um clima de falta de
perspectivas e de oportunidades que comprometem a harmonia coletiva.
Historicamente, os médicos têm sido defensores de uma sociedade mais ética e
justa. No Brasil, têm agido dessa forma ao longo dos séculos, em especial em
favor da implantação de políticas públicas desenvolvidas com planejamento e de
modo estruturante. O Sistema Único de Saúde (SUS) é um dos principais exemplos
dessa preocupação.
Por conta desse engajamento, a categoria, através de suas
entidades representativas nacionais, tem apresentado aos principais tomadores
de decisão o Manifesto dos Médicos em Defesa da Saúde, composto por medidas
exequíveis em curto, médio e longo prazos, elaboradas a partir das conclusões
do XIII Encontro Nacional das Entidades Médicas (Enem), realizado em 26 e 27 de
junho, em Brasília (DF).
A implementação dessas propostas assegurará direitos dos
pacientes, aperfeiçoamento da assistência e qualidade no exercício da medicina,
num movimento positivo que ajudará no combate aos efeitos da pobreza.
Cabe aos políticos perceberem a oportunidade de construir
uma nova realidade a partir da adoção dessas medidas, um compromisso que será
monitorado pelos médicos e pelos cidadãos preocupados com a valorização da
ética, da cidadania, da saúde e da vida.
* É presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM).
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Este blog só aceita comentários ou críticas que não ofendam a dignidade das pessoas.