Estadão
Um grupo de fiéis aliados egressos das Forças Armadas,
liderados por três generais do Exército, vem ampliando seu espaço de influência
na campanha de Jair Bolsonaro (PSL). Equipes temáticas, especialmente da área
de infraestrutura, que estavam sob comando do economista Paulo Guedes, no Rio,
estão sendo integradas aos debates conduzidos pelos generais.
Com isso, parte das discussões passou para a órbita de
Oswaldo Ferreira, um dos homens fortes do grupo de Brasília. Esse time, que foi
montado por Bolsonaro no início do ano, é composto por generais de sua
confiança. Ex-chefe da missão de paz da ONU no Haiti, o general Augusto Heleno
desfruta de grande proximidade com Bolsonaro, é conselheiro para assuntos de
segurança e defesa e tem atuado em temas de relações exteriores. Ferreira e
Aléssio Ribeiro Souto completam o grupo de generais que coordenam debates técnicos
sobre diversas áreas do eventual governo.
O movimento é visto dentro da campanha como natural, já
que havia grupos diferentes trabalhando em sugestões para as mesmas áreas
simultaneamente nas duas cidades. Guedes segue mantendo forte liderança sobre
os economistas e especialistas civis que discutem no Rio as diretrizes
econômicas de um possível governo Bolsonaro. Esses colaboradores repetem que
ele tem a palavra final. Alguns se referem a Guedes até como “chefe”.
Os generais em Brasília trabalham a partir da direção
apontada por Guedes, que mira em corte de gastos e enxugamento da máquina
pública. Não há, contudo, hierarquia entre os generais e o coordenador do
programa econômico. Os generais, que trabalham numa sala alugada no subsolo de
hotel quatro estrelas de Brasília, respondem diretamente a Bolsonaro.
Lá, eles têm a contribuição de pesquisadores e de
militares de outras patentes, como um brigadeiro e coronéis da Aeronáutica e do
Exército. Ao total, são quase 30 equipes temáticas envolvidas na elaboração do
programa de governo, em discussões sobre educação e gestão de tecnologia.
Com relação de longa data com o candidato do PSL, Heleno
é em quem Bolsonaro mais confia. É uma relação de pai e filho, descrevem
pessoas próximas aos dois. Eles se conheceram ainda nos anos 1970, quando
Bolsonaro era cadete na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman) e Heleno, um
tenente que treinava a equipe de pentatlo. “Era um aluno esforçado”, lembra o
general.
A relação ficou mais próxima após o impeachment de Dilma
Rousseff, em 2016. Em abril do ano passado, em entrevista ao Estado, Bolsonaro
afirmou que Heleno ocuparia em seu governo a posição que quisesse.
Em julho, durante viagem de pré-campanha a Marabá e
Parauapebas, decidiu que Heleno, que o acompanhava, seria o candidato a vice em
sua chapa. O PRP, partido de Heleno, não quis a parceria e o candidato acabou
escolhendo para o posto Hamilton Mourão – que conhece há décadas, chegou a ser
seu comandante no Exército, mas tem causado embaraços à campanha. Heleno vem
sendo cotado para chefiar o Ministério da Defesa, mas tem mostrado influência
em outras áreas, como relações exteriores.
Mais discreto e despojado dos oficiais da reserva que
estão na campanha de Bolsonaro, o general Oswaldo Ferreira, ex-chefe do
Departamento de Engenharia e Construção do Exército, foi levado para a campanha
a convite de Bolsonaro, mas aceitou a missão somente após assegurar que Heleno,
por quem nutre grande admiração, estaria no time.
Transportes
Ferreira é colega de turma e amigo de Mourão, mas hoje
tem papel mais estratégico na campanha que o vice. Ele vem sendo apontado como
um nome forte para assumir a pasta dos Transportes ou a coordenação de governo.
Ex-chefe do Centro Tecnológico do Exército, o general
Aléssio lidera discussões sobre educação, ciência e tecnologia. Foi levado para
a campanha por Ferreira, com quem atuou no Departamento de Engenharia e
Construção quando ambos eram coronéis.
Encontraram-se casualmente no início do ano, após anos
sem contato. “No meio militar, a gente passa 20 anos sem se ver, mas somos
amigos, porque temos em comum a cor da pele emblematizada na roupa”, diz.
As propostas devem servir a mais de uma pasta em um
governo Bolsonaro, que tem no radar os ministérios da Educação, Esporte e
Cultura e outro de Ciência, Tecnologia e Comunicações.
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