José Sarney
O Brasil é o país das reformas. Nunca deixou de estar na
agenda política, desde os tempos de Nabuco de Araújo, Conselheiro, Senador e
pai do grande Joaquim Nabuco, quando, no manifesto do Partido Liberal, no
Século XIX, lançou o dilema de reforma ou revolução. O mesmo dilema viveu o
socialismo na famosa discussão entre Rosa Luxemburgo e Eduard Bernstein. Ela
partidária da luta de classe — a revolução —, o outro da socialdemocracia das
reformas paulatinas, a que chamavam de reforma social (o SPD, cujo controle
disputavam, ainda é um dos principais partidos alemães).
Agora, mais uma vez, só se fala em reformas, só que agora
pontuais, da previdência, da política, do sistema eleitoral, e tudo mais,
porque nada agrada a ninguém.
Sempre defendi que a principal reforma que devíamos fazer
no Brasil era a reforma administrativa. Quando se fala em burocracia, papelada,
demora, superposição de órgãos e atribuições, emperramento da máquina, custo
Brasil, tudo isso nada mais é do que uma estrutura administrativa bolorenta,
antiquada e emperrada.
Qualquer que seja o assunto que tenha o cidadão com o
poder público esbarra numa série de órgãos que devem opinar, autorizar, além de
precisar de reconhecimento de firma, certidões etc. Calculem que agora mesmo,
para o registro de candidaturas nas eleições, o candidato tinha que apresentar
uma dezena de documentos. Tudo isso podia ser resolvido com uma declaração do
candidato “estou apto pela lei a ser candidato”. Se não tiver que arque com as
sanções legais. Mas aqui não se acredita na seriedade da cidadania nem o poder
público na palavra dos requerentes. Ninguém acredita que a lei pune a mentira e
todos arrumam certidões mentirosas.
Vejo o presidente eleito Bolsonaro vivendo esse momento.
Todos querem extinguir ou preservar órgãos públicos. E a administração entra
numa perplexidade de não saber o que vai acontecer.
Quando assumi o governo do Maranhão a primeira coisa que
fiz foi a reforma administrativa, feita em serviço, isto é, dentro da
repartição e acompanhando o processo. Daí chegamos ao que que era necessário
acabar e ao que tínhamos que modificar. Como não tínhamos recursos humanos para
essa tarefa de modernização, fizemos convênio com o Instituto do Serviço
Público da Bahia (referência no assunto) e, através da Usaid, que era a agência
americana para o desenvolvimento internacional, trouxemos a Universidade de
Miami para trabalhar conosco.
Deixamos uma máquina ágil, desburocratizada, que concluiu
pela necessidade da fundação de uma Faculdade de Administração, que criamos,
para formar recursos humanos para o setor.
Depois, na Presidência da República, tentei fazer o
mesmo. Não consegui. A reação foi tão grande, o lobby dos privilégios foi tão
forte, que a coisa não andou. Apenas criei uma instituição necessária, a ENAP —
Escola Nacional de Administração Pública, que, infelizmente, não tem o destaque
que merece.
Esse ideal de desemperrar a administração é de sempre.
Mas é difícil. O Bolsonaro vai provar desse desejo e o poderá satisfazer.
José Sarney
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Este blog só aceita comentários ou críticas que não ofendam a dignidade das pessoas.