Dom Walmor Oliveira de Azevedo - Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte – MG
Fazer sempre o bem. E fazer bem o que se faz. São esses
os princípios éticos que devem orientar a vida de todos, para que floresçam as
potencialidades sociais, políticas e culturais da sociedade. A simplicidade
desses princípios tem força para operar transformações e recompor a moralidade
no tecido cultural, pois a cultura desprovida de moralidade conduz a sociedade
rumo a fracassos. Acirra disputas predatórias, acentua o desrespeito às instituições.
Produz destruição pelas ações dos que se consideram “os donos da verdade”.
Reconhecer o bem como princípio ético permite a cada indivíduo avaliar,
prioritariamente, a própria interioridade, ao invés de, sempre, julgar o outro.
Estar atento ao próprio interior é dinâmica educativa indispensável.
Fazer bem e promover o bem são atitudes que dependem do
cuidado com a dimensão interior, conquistando clareza de consciência. É preciso
reconhecer o papel que se tem no mundo. os parâmetros ideológicos que moldam a
própria mentalidade, o que permite a cada pessoa fazer escolhas com mais
lucidez. E todo cuidado é pouco no sentido de evitar impor ao outro, ou mesmo a
instituições, certas perspectivas que são apenas convicções pessoais, traços da
própria identidade, muitas vezes problemáticos. Quem age sem observar esses
princípios distancia-se da tarefa de exercer nobre missão, prejudicando
contextos pessoais, comunitários e institucionais.
E é, especialmente, nas redes sociais que hoje se evidencia
a necessidade de se cultivar o bem como princípio ético capaz de orientar todas
as atitudes. O ambiente digital abre novas e bem-vindas possibilidades de
interação, mas, ao mesmo tempo, torna-se verdadeiro “campo de batalha”. As
recorrentes agressões, cada vez mais presentes na internet, obscurecem o
caminho da verdade, inviabilizando o bem. Com frequência, indivíduos assumem
falsa autoridade, apresentam-se como detentores da verdade, e sentem-se no
direito de proferir vereditos. Porém, por serem incapazes de fazer distinções,
promovem uma mistura que coloca, no mesmo quadrado, “ovelhas, bois e
carneiros”, como se diz proverbialmente.
Há um agravante a ser considerado: para muitas pessoas,
falta formação humanística, ética e espiritual. São necessários investimentos
para corrigir essa carência, para que todos possam oferecer contribuições
relevantes às instituições e ao mundo.
Se essa necessidade não for reconhecida, continuarão desvirtuados
sentidos intocáveis, no âmbito político, cultural e, muito gravemente, no
contexto religioso, que não pode se deixar corromper, justamente por ser
referência para a ética e a moralidade. Por isso mesmo, não basta apenas o
grande volume de informações que circula no planeta para construir um futuro
melhor. É fundamental dedicar atenção ao desenvolvimento cognitivo de cada
indivíduo, cultivando o princípio ético que inspira todos a fazerem o bem - e a
fazer bem o que fazem.
O horizonte pluralista do contexto contemporâneo permite
à humanidade reconhecer e apontar para tudo, mas, ao mesmo tempo, não se
comprometer com nada. Uma situação que precisa ser superada, pois o princípio
ético alicerçado no bem convoca cada pessoa a tornar-se força transformadora
que modela nova cultura. Essa cultura renovada, urgente, está exatamente na
contramão de escolhas bizarras que assombram a sociedade e deterioram boas
práticas. Passo decisivo para a requerida mudança é promover sempre o bem,
dedicando-se a cumprir adequadamente as próprias tarefas e responsabilidades.
Ajuda a moldar novas práticas e, consequentemente,
constituir uma cultura renovada, deixar-se guiar por nobres princípios:
promover sempre o bem, e fazer bem o que se faz. Não se deixar vencer pelo mal, mas vencer o
mal com o bem. Reconhecer que é bom ser bom. Saber que o bem se promove com o
bem. Esses princípios, se aprendidos, permitem superar o circuito vicioso
formado por perversidades, inveja, incompreensões, descompromisso com
referências fundamentais.
Não se transforma a realidade buscando apenas os melhores
índices da economia, nem só pela força da política, ou pela influência de
confissões religiosas. Urgente é o despertar da consciência cidadã a partir do
compromisso com a ética. É tempo de escrever, não em páginas de livros, mas no
coração humano, a gramática da lei moral. Uma atitude prioritária para
conquistar o desenvolvimento integral e configurar uma qualificada cidadania.
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