Brasil / Especiais de Natal
Des-Contos de Natal, de Mhario Lincoln
Mhario Lincoln é o presidente da Academia Poética Brasileira.
23/12/2022
Por: Mhario Lincoln / Fonte: Mhario Lincoln
DES-CONTOS DE NATAL
* Mhario Lincoln
No dia em que Papai Noel se sentiu sozinho, ele pensou em todas as crianças que não mais acreditavam nele, no seu ho-ho-ho melódico e encantador, relicário de alegria e da expectativa de presentes. Estava bem triste!
Lembrava que antes da nova era, dos novos tempos, muitas crianças ficavam felizes com o barulhinho dos sinos. Aumentava as expectativas quando penduravam suas meinhas nas iluminadas árvores de natal, fossem elas pequenas ou grandes, ricas ou pobres, algumas feitas de restos de árvores velhas. Mas a magia estava ali presente.
Todo esse clima fazia com que as crianças desenvolvessem a imaginação, tivessem sonhos, aprendessem com isso. Imaginar o que Papai Noel poderia trazer (ou não trazer), com certeza lhes serviam de suporte para o crescimento pessoal da personalidade adulta, ensinando-as a superar obstáculos e a entender o Mundo ao seu redor, quando ficavam sem presentes.
E lá estava o velhinho de roupas vermelhas, triste, caminhando para a caixa de cartas de sua morada. Na trajetória, imaginava tudo que acontecera no ano anterior. Poucos pedidos, minguadas cartinhas de Natal. E ele tinha certeza de isso não poderia acontecer pois, quando as crianças deixam de acreditar em Papai Noel elas também deixam de ver outras possibilidades, além do fator material. Isso, por sua vez, pode afetar sua capacidade de sonhar, pois elas não acreditam mais que outras coisas são possíveis, como a confraternização, a amizade, o reconhecimento. É necessário crer que existem coisas boas no Mundo. Isso é importante para que se sintam seguras.
Contudo, a cada passo, as botas dele eram molhadas de lágrimas. Existia uma sensação profunda de solidão e tristeza, "o Natal não pode continuar assim", pensava ao longo da caminhada até a caixa dos correios toda iluminada com lâmpadas coloridas e um gorro vermelho e branco, cobrindo a estrutura, em forma de casinha nas cores verde e dourada.
Parou! Enxugou as lágrimas com as luvas brancas. Esfregou as mãos por sobre os olhos após tirar os óculos redondinhos. Tirou o gorro, beijou a bolinha branca e sussurou: "Meu Deus querido, nunca deixe morrer o milagre do Natal".
Estendeu a mão direita para retirar a única carta. Abriu devagarinho, delicadamente tirou restos de palha. O pergaminho cheirava manjedoura. Lá estava escrito:
Meu querido Papai Noel,
há milhares de crianças lhe esperando.
Não desista. Saiba que existe
muitas carentes de carinho.
E elas precisam do seu amor.
Papai Noel, por favor,
Não desanime. Ore por todas elas.
Muitas precisam de afeto
para se aquecerem,
ou, apenas, de um abraço...

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