Milícias jornalísticas
Percival Puggina
31/01/2023
“Não confie em todas as pessoas, mas nas pessoas de valor;
o primeiro caminho é insensato, o segundo é sinal de prudência”. Demócrito
(Sec. V a.C.)
Chico Alves, colunista do UOL, escreveu no dia 27, sob o
título “Milícias digitais atacam Pacheco e agitam corrida à presidência do
Senado”:
Em tempos de polarização política, a caça aos votos para a
eleição à presidência do Senado, marcada para o início da nova legislatura, em
1º de fevereiro, ganhou um inédito tom de agressividade. Bolsonaristas adeptos
da candidatura de Rogério Marinho (PL-RN) fazem duros ataques ao candidato à
reeleição Rodrigo Pacheco (PSD-MG) nas redes sociais e tentam constranger os
senadores que anunciaram votos no atual presidente da Casa.
Rezando pelo mostruário de etiquetas que a militância
esquerdista usa para desqualificar quem não se ajoelha para rezar na sua
capelinha, o jornalista autor da matéria apresentada como “reportagem” (aqui)
deixa claro não ver razões racionais para que as ”milícias digitais” dos
“bolsonaristas” se mobilizem contra a reeleição do omisso senador Pacheco.
Dá-me forças para viver!
Essa visão sobre o poder político no Brasil assume um ponto
de vista extremamente confortável. É uma poltrona fofa, com banqueta para os
pés. Dali, as instituições de Estado se tornam autossuficientes porque têm a
representação constitucional da sociedade, cabendo às “milícias jornalísticas”
do consórcio a representação pontual da opinião pública. Feito! Toda
mobilização da sociedade assume, a priori, um aspecto criminoso, marginal,
análogo ao bando de malfeitores e seus responsáveis que a 08/01 se infiltrou no
vácuo de lideranças em que foi enfurnada a atual oposição brasileira.
Os senhores da República não veem a si mesmos por falta de
espelho nos salões do poder e das redações. Nada do que fazem passa pelo crivo
de consciências bem formadas. Dezenas de milhões de cidadãos que perderam a
confiança nas instituições e em tal jornalismo são tratados como desprezíveis e
ironizados manés. Não obstante, esses bons cidadãos entendem, como o filósofo
grego citado acima,, que só podem confiar em quem revelar valor! E aí, os
senhores do poder ficam em situação extremamente deficitária.
Quanto lhes é necessário Rodrigo Pacheco presidindo o
Senado! Ele é a garantia de que não haverá freio nem contrapeso. Significará
mais dois anos de formalização dessa “democracia” encomendada pelos donos do
poder. Com ele, preservam-se os objetivos de silenciar a nação, de impedir as
pessoas de sentir o que sentem, de expressar emoções e efetuar cobranças a quem
faz política, quer esteja num parlamento ou numa Corte de justiça.
Sim, as Cortes fazem política. Em O Globo de hoje (aqui),
sob o título “O temor do STF com a votação para a presidência do Senado”, lê-se
(mantidos os erros gramaticais de praxe):
Não à toa, alguns ministros do Supremo tem telefonado para
senadores para sondar o ambiente e pedir que votem em Pacheco, com o argumento
de que a reeleição do atual presidente do Senado seria fundamental para o
distensionamento da crise política e a pacificação entre os poderes.
Essa pax de Brasília não é a paz do Brasil. É a paz que
preserva a censura, ressuscita o cala-boca, criminaliza a divergência e opera o
imenso aparelho persecutório agilizado na Esplanada.
No Brasil, a justiça é lenta, mas a arbitrariedade anda em
ritmo acelerado, sem freio nem contrapeso.
Percival Puggina (78), membro da Academia Rio-Grandense de
Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e
Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no
país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia;
Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.


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