sábado, 5 de agosto de 2023

Josué Montello por Mhario Lincoln

Brasil / Literárias

Montello invade os tambores de Mina, revela os mistérios de uma Noite em Alcântara e leva São Luís para a eternidade literária

Mhario Lincoln é editor-chefe do Facetubes e presidente da Academia Poética Brasileira, nascido em São Luís-MA.

02/08/2023

Por: Mhario Lincoln / Fonte: Mhario Lincoln/Josué Montello



*Mhario Lincoln c/ fotos antigas enviadas pela amiga da APB, Judith Bogéa Bittencourt


 Vinte e um de agosto é o ápice da semana em homenagem ao romancista maranhense Josué Montello e, com certeza, a Casa de Cultura Josué Montello, localizada na Rua das Hortas, Centro de São Luís, se prepara para mostrar um acervo valioso, composto por cerca de 50 mil itens, inclusive o fardão da Academia Brasileira de Letras, além da biblioteca pessoal, possibilitando aos visitantes uma imersão na vida e obra do escritor.

Montello recebeu elogios e reconhecimento de diversos críticos e escritores renomados ao longo de sua carreira. Suas obras foram aclamadas tanto pelo público quanto pela crítica literária. O autor é especialmente conhecido por sua habilidade com a escrita e sua capacidade de evocar um Maranhão que se perdeu no tempo, fazendo-o destacar-se como um raro artista literário.


Entre críticas importantes estão a de colegas, como, por exemplo, Jorge Amado, que considera "A Décima Noite" o maior romance de Montello e "um dos mais sérios já publicados no país", Tristão de Athayde que também enaltece a literatura de Montello, apontando "Os Degraus do Paraíso" como uma "obra que representa o auge da montanha literária que o autor vinha escalando ao longo de vinte anos".

Manuel Bandeira, por sua vez, compara a prosa montelliana à de Machado de Assis, um dos maiores escritores brasileiros de todos os tempos. A precisão e "o cuidado com as palavras na obra de Montello são elogiados, destacando a ausência de excessos e desleixos em sua escrita".

Gilberto Freyre destaca a capacidade do escritor maranhense "de evocar um Maranhão que quase não existe mais, tornando suas obras uma representação autêntica da cultura e da história da região".

José Lins do Rego, outro grande nome da literatura brasileira, também faz uma comparação entre Montello e Machado de Assis, afirmando que o primeiro vai discretamente além do segundo em suas novelas. "Labirinto de Espelhos" é mencionado como "um exemplo da tradição da novela espanhola, tratada de forma grotesca, demonstrando a versatilidade do autor em abordar diferentes gêneros e estilos narrativos".

Wilson Martin considera o trabalho de Montello como "uma série de obras-primas, elogiando especialmente o conto 'O Velho Diplomata,' em razão da correção de linguagem, equilíbrio emocional e perfeição técnica presentes em suas obras".


Já a arte sutil e direta do narrador, no trabalho de Montello, é elogiada por Antonio Olinto, que o enxerga "como um ficcionista de vanguarda no Brasil contemporâneo". Octavio de Faria vê em "Duas vezes Perdida" o ponto culminante da carreira do escritor, com novelas variadas em gênero e tom, "todas com uma composição impecável e um domínio completo da arte literária".

Finalmente, Virginius da Gama Melo e Oscar Mendes Martins destacam a técnica de Montello como "digna dos grandes criadores de ficção, ressaltando a maestria com que ele maneja suas histórias e personagens". São opiniões fortes e vindas de quem estuda, analisa e conhece muito bem, inclusive pela convivência pessoal, as artimanhas literárias de Josué, cuja contribuição para a novelística brasileira é exaltada por todos nós, além deles, fato que o torna um nome incontornável na literatura brasileira do século XX.

Bom frisar que Montello, falecido em 2006, tem algumas características incontestáveis, a meu ver. Eu particularmente gosto demasiadamente das suas narrativas realistas e regionalistas, que frequentemente retratam a cultura, os costumes e a história do Maranhão, (onde nasci e ele também), com obras cheias de uma forte identidade regional, explorando as peculiaridades e a diversidade do Estado e de seus habitantes.


A prosa montelliana sempre evitou excessos e desleixos. Sua linguagem é considerada elegante e bem trabalhada, o que contribui para o apreço de leitores e críticos. E mais, ele acaba fazendo com que nós, leitores, voltemos ao passado. Em muitas de suas obras ele traz à tona a história e a memória do Maranhão. Seus romances e contos frequentemente resgatam eventos e personagens históricos, conferindo um aspecto nostálgico e melancólico a suas narrativas. Aliás, a grande versatilidade em sua escrita, transita igualmente na análise da perspicácia da sociedade e dos indivíduos, explorando as complexidades da mente humana. Seus personagens são retratados com profundidade psicológica, tornando suas histórias ricas em nuances e reflexões sobre o comportamento humano.

Com certeza, todos esses atributos espalhados pela imensidão de cada obra. Um exemplo: "Tambores de São Luís", uma história que se desenrola em apenas uma noite, em São Luís, no Maranhão, onde Damião, enquanto cruza a cidade, ao som dos tambores da Casa-Grande das Minas, para visitar sua bisneta, que logo ganhará um filho, trineto dele. O incrível disso é que nesse pequeno espaço de tempo, Montello consegue incluir mais de quatrocentos personagens, numa narrativa mais que mágica, me lembrando, também, o fantástico "Cem Anos de Solidão", de Gabriel García Márquez.

Enfim, ler, relembrar e mergulhar nas coisas e no tempo montelliano, a partir de 21 de agosto, na Casa de Cultura Josué Montello, em São Luís, é ter a sensação de que ele está vivíssimo e lhe dizendo: "entre, a casa é sua!"

*Mhario Lincoln é presidente da Academia Poética Brasileira.


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