sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024

O AMOR ESTÁ NO AR - artigo de Carlos Alberto Lima Coelho, poeta, jornalista e escritor


O AMOR ESTÁ NO AR

Carlos Alberto Lima Coelho*






Quem é do ramo sabe que programa de rádio ou de TV que detém boa audiência são copiados. Todos queremos estar bem, fazendo o que o povo gosta, e consequentemente conquistando a preferência popular. Na década de 1990 muitos, por esse Brasil a fora apresentavam programas românticos, que iam desde música, poesias e crônicas, até anúncios de pessoas que queriam encontrar a sua “cara metade”. Logo, a maioria dos programas utilizavam o slogan “O amor está no ar”, ou título bem parecido. Tudo para incentivar o amor carnal, sentimento da relação entre o homem e a mulher, etc. Sempre assim, tudo para o mundo que nós chamamos de profano.

       Nos lembramos que no começo da carreira, um antigo e experiente apresentador de programa de rádio (ainda não havia televisão no Maranhão) ao observar a nossa disposição em apresentar um programa diferente, voltado mais para a área cultural (história da cidade, seu acervo arquitetônico, etc), nos chamou para dizer que aplaudia a nossa intenção mas que infelizmente não iriamos alcançar a audiência desejada pois, na visão dele, o grande público queria algo na área do entretenimento. Estávamos em plena efervescência da Jovem Guarda. E assim, como iniciante na arte, e vindo de pessoa mais experientes, resolvemos entrar na era do IêIêIê...Foi tudo de bom para quem estava na faixa dos quinze a dezesseis anos de idade.

     Décadas depois, entramos nessa de O amor está no ar. Tudo em busca de audiência popular. Mas ficava sempre uma pergunta na cabeça sem que de fato buscasse a resposta. Um dos programas era iniciado com a oração de São Francisco de Assis. O restante era puramente profano: música, poesia, e assuntos rotineiros. Nenhuma preocupação religiosa, nenhuma outra mensagem que pudesse nos levar à uma reflexão mais intensa sobre as exigências que a vida nos cobrava neste mundo de disputa econômico-social.

     Os tempos mudaram. A visão é totalmente diferente mas talvez não seja para a maioria das pessoas ainda presas às vaidades que o mundo oferece. O amor está no ar, sim. Poderíamos aproveitar para disseminar o que realmente temos aprendido nessa transformação físico-mental que procuramos enfrentar no nosso dia-a-dia.

      Neste dia de reflexão, ao acordarmos cedo para exercícios físicos e caminhadas em parque próximo da nossa casa, ao estacionarmos o carro em local público, nas primeiras horas de sol, já fomos acossados por um vigia de carro, presente pela primeira vez no local. A primeira tentativa de reação foi de não tomar conhecimento de que aquela área também estaria privatizada. Quer dizer: alguém iria receber dinheiro por ocuparmos o espaço. Dava pra ver no semblante daquele homem, mal dormido, que ele necessitava de alguma ajuda para se alimentar ou coisa parecida. Não pensamos que ele pudesse usar o que recebesse de dinheiro para comprar drogas. Aliás, ficara gravado em nossa mente um exemplo dado por um palestrante justamente sobre o amor, de que muitas das vezes, ao sermos abordados por um flanelinha ou vigia de carro, pensamos e dizemos que querem dinheiro para usar drogas, etc. Isso no primeiro impulso. Não imaginamos se aquele cidadão, aquele homem, está faminto, se a sua família também está sem alimentação e há quanto tempo. Não, rechaçamos de imediato o comportamento desse irmão.

        Será que nos bastam as mensagens que recebemos nos nossos whatsapps, tais como: “A felicidade faz você ser doce. A dor faz você ser humilde. A luta faz você ser forte. Ou uma definição de amor que está na Bíblia, no capítulo 13, da primeira carta do Apóstolo Paulo aos Coríntios. A Igreja da cidade de Corinto era rica tanto no sentido financeiro como no espiritual, era uma que conhecia todos os dons. No capítulo anterior, Paulo faz uma exortação a esta igreja e já no capítulo 13 ele diz de maneira dura, porém amorosa, que de nada adianta aos Coríntios ter todas estas riquezas se não praticarem o dom do amor gratuito ao próximo. “Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o sino que ressoa ou como o prato que retine. Ainda que eu tenha o dom de profecia e saiba todos os mistérios e todo o conhecimento, e tenha uma fé capaz de mover montanhas, mas se não tiver amor, nada serei. Ainda que eu dê aos pobres tudo o que possuo e entregue o meu corpo para ser queimado, mas não tiver amor, nada disso me valerá. O amor é paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se vangloria, não se orgulha. Não maltrata, não procura seus interesses, não se ira facilmente, não guarda rancor. O amor não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta...”

        Aliás, as mídias estão cheias de mensagens positivas, muitas para reflexão, para autoestima, outras de incentivo ao amor fraterno e há também aquelas que nos provocam a dor da incompetência para resolver os problemas nem sempre maiores dos nossos irmão. Mas, na verdade, a maioria, enviadas por pessoas que nem sempre conhecemos, que de forma aleatória repassa suas iras, incompreensões, mal estar a quem nem conhece pessoalmente.

       E as boas mensagens? As recebemos bem e aproveitamos para fazer reflexões acerca dos nossos comportamentos? Aproveitemos para pegar esse amor que estar no ar para colocarmos em nossos corações. Como disse Chico Xavier: “Ninguém pode voltar atrás e fazer um novo começo. Mas qualquer um pode recomeçar e fazer um novo fim”. Aproveitemos a oportunidade que a vida terrena nos oferece. Que melhoremos o nosso comportamento acreditando que é possível fazer sempre mais em benefício daqueles que necessitam de mais luz em suas vidas.

*Carlos Alberto Lima Coelho é poeta, jornalista e escritor


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