terça-feira, 22 de julho de 2025

O Brasil pode afundar nessas águas - Artigo de Roberto Kenard, jornalista, poeta e escritor


O Brasil pode afundar nessas águas

Roberto Kenard, jornalista, poeta e escritor 

Estamos metidos, perigosamente, num nó institucional. Todas as fronteiras entre os três poderes foram borradas. Não porque todos avancem sobre a competência do outro. Simplesmente, um deles, o Supremo Tribunal Federal, virou um buraco negro e sugou as atribuições do Executivo e do Legislativo.

A insegurança jurídica hoje reina. Tudo o que as leis diziam até ontem, hoje pode não ter validade, a depender do humor e dos interesses dos senhores ministros do STF. O salto sobre as leis ganhou uma expressão: defesa da democracia. Todo pipoqueiro de esquina sabe que quando se fala em defesa da democracia, é porque democracia não há mais.

Mas um poder não se sobrepõe, se os outros, por incompetência ou vilania, não se agacham. É justo o que se passa. Temos o governo Lula, que repete o desastre administrativo dos 14 anos anteriores do lulopetismo. O que tem levado à escalada de desaprovação do governo. Um governo, portanto, fraco.

De outra parte, há um Legislativo igualmente fraco. Fraco por dois motivos: 1) só tratam de questões que os beneficiam e 2) são corruptos. Alguém há de dizer que há exceções. Sim, há, mas exceções são só exceções. Pergunto: que homem ou mulher corrupto tem coragem para enfrentar um juiz? Aí está a atual desmoralização dos deputados e senadores. O STF pinta e borda sobre a cabeça deles.

É nesse panorama caótico e de danações que surge a decisão do Executivo de abrir guerra aos Estados Unidos, quando Lula propõe o uso de outra moeda comercial para os Brics. Reparem que a Rússia, que tem poder de apitar no cenário geopolítico, tratou logo de colocar um ministro para dizer que a ideia foi do Brasil. Ou seja, a Rússia não quer aumentar os entreveros com os Estados Unidos. O nanico Brasil no cenário mundial acha que tem poderes para enfrentar uma tal guerra, desnecessária, acrescente-se.

Com a reação americana de taxar o Brasil em 50 por cento, o desgastado governo Lula decidiu que era o momento de sair do subterrâneo de desaprovação e fazer bravatas de patriotismo de fundo de quintal e ganhar fôlego eleitoral. Uma cartada perigosa, porque leva em conta interesses eleitoreiros e não os interesses do Brasil. De quebra, um ministro, Alexandre de Moraes, decide se pronunciar e chamar de inimigo os Estados Unidos. Argumento: defesa da soberania. Esquecido, o ministro, de que os Estados Unidos, sob o governo anterior, interferiu em nossa soberania nas eleições de 2022, como já está provado e até assumido pelo atual presidente do STF, ministro Roberto Barroso.

Resta saber até que distância Trump pretende esticar essa corda. Porque se decidir esticar as consequências para o Brasil serão desastrosas (e, pelo visto, também para os ministros do STF). Eu não me importo com o que aconteça de ruim a Lula, aos congressistas e aos ministros do STF. Minha preocupação é com o brasileiro comum, que sob esse governo vem contando moedas para comprar um reles pacote de café. O afogamento econômico do Brasil é o afogamento de todos, mas sobretudo dos que contam moedas. Eis a irresponsabilidade do Executivo, do Legislativo e do STF, que deixam interesses pessoais se sobreporem aos interesses do brasileiro.


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