terça-feira, 1 de julho de 2025

Quem guiará nossos passos no caminho da Paz? - Artigo de Dom Itacir Brassiani, Bispo de Santa Cruz do Sul (RS)


Quem guiará nossos passos no caminho da Paz?  

Dom Itacir Brassiani

Bispo de Santa Cruz do Sul (RS)

 27/06/2025

A humanidade vive hoje tempos difíceis, como, aliás, quase sempre. Não há mais uma guerra fria, mas muitas guerras quentes e destruidoras, em muitas frentes. Mais de um terço das nações do mundo estão envolvidas em algum conflito violento! E pessoas que gostam de ser considerada “gente de bem” estão engajadas em batalhas ferozes para destruir reputações e espalhar bombas e minas que um dia explodirão, nalgum lugar. 

Somente indivíduos que renunciaram ao que há de mais humano deixam-se levar por essa onda de insanidade ou ficam assistindo tudo como se fosse um jogo ou um filme que não tem nada a ver com a vida. Aqueles que renunciam a comprometer-se para que “ao sul do coração faça tempo bom” tornam-se seres minúsculos de pouca importância, zumbis estranhos, mas com grande potencial de destruição. 

Ainda ressoa com força o grito musicado por John Lennon e Yoko Ono, em 1969: “Todo mundo está falando de revolução, evolução, inflação, flagelação, integração, mas eu falo: Deem uma chance à paz!” Muito antes, no cântico com o qual rompeu seu silêncio descrente, Zacarias saudou o filho João Batista dizendo que ele chegava para preparar os caminhos do Senhor, aquele que dirige nossos passos no caminho da paz (cf. Lucas 1,79).

Há mais tempo ainda, ressoa a voz do profeta e do Salmista, eco do projeto de Deus: “Subamos ao monte do Senhor. Ele nos ensinará seus caminhos. Ele julgará entre as nações, e ensinará a muitos povos. De suas espadas, eles forjarão arados, e das suas lanças forjarão foices” (Isaías 2,3-4). “Ele anunciará a paz ao seu povo e aos seus fiéis. A misericórdia e a fidelidade se encontram, a justiça e a paz se beijam…” (Salmo 84,11). 

Causa tristeza e apreensão constatar que muita gente, inclusive gente piedosa e religiosa, ignora essa vontade expressa de Deus e esse grito pungente da humanidade. Alguns “poderosos miseráveis” têm a desfaçatez de criar inimigos e parir guerras em nome de interesses econômicos mesquinhos e de alimentá-la recorrendo a argumentos religiosos. E se apresentam, sem disfarçar sua empáfia, como promotores e negociadores da paz.  

No momento em que sanha guerreira voltou a ocupar homens dos negócios e do poder, o Papa Francisco nos adverte: “O nosso mundo pretende garantir a estabilidade e a paz com base numa falsa segurança, sustentada pelo medo e pela desconfiança. Esmorecem os sentimentos de pertença à mesma humanidade, e o sonho de construirmos juntos a justiça e a paz parece uma utopia doutros tempos”.  

E afirma, profeticamente: “É possível desejar um planeta que garanta terra, teto e trabalho para todos. Este é o verdadeiro caminho da paz, e não a estratégia insensata e míope de semear medo e desconfiança. A paz real e duradoura é possível só a partir de uma ética global de solidariedade e cooperação ao serviço de um futuro modelado pela interdependência e a corresponsabilidade na família humana inteira”.  

Mas essa conquista não virá dos negociadores de gabinete, comprometidos até o pescoço com as armas e as guerras, nem de inofensivas postagens nas redes sociais. A um trabalho artesanal e contínuo, feito a muitas mãos pelos “artesãos da paz”. “Bem-aventurados os que promovem a paz, pois eles serão chamados filhos de Deus” (Mateus 5,9). 


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