A essência profissional de Flávia Prazeres, jornalista. Londrina-Paraná
(*) Especial Mhario Lincoln/
Fotos: http://www.debatepublico.com.br/
Por ela mesma (foto): "Eu sou jornalista de alma, mas como disse alhures estou ingressando no Direito. Minha escola de erros e acertos foi na Assembleia Legislativa do Estado do Paraná. Trabalhei lá por mais de uma década, vi muita coisa. Nesse lugar nutri a paixão por política, mas também muitas de minhas decepções, especialmente com o ser humano. Parece que o poder tem mesmo um efeito nocivo sobre as pessoas. Sempre dizia: Dê a chave da porta do banheiro para alguém administrar e pronto você verá a verdadeira face”. É bem por aí. As pessoas quando estão no poder se esquecem que tudo é temporário na vida, o que realmente fica é aquilo que nutrimos pelas pessoas e o que elas sentem por nós. O resto é tão efêmero. Ninguém leva para a eternidade os seus bens ou mesmo seus status. Isso torna sua vida mais fácil, mas não faz de você melhor do que ninguém. Aliás, os políticos, uma categoria a parte, um dia irá sentir o que estão fazendo com os nossos. Hoje se sentem acima do bem e do mal, porém terão que como o resto de todos os mortais, sentir na pele o que é o descaso dado aos nossos jovens. A violência está avançando e irá atingi-los de forma assustadora. E, talvez, quando chegar a hora será tarde demais para tentar dar oportunidade para quem agora bate na sua porta com uma arma na mão. Os corruptos são os maiores responsáveis por todas as mazelas. Por isso, sou contra a prescrição desse crime. E continuando. Depois que saí da Assembleia comecei a escrever o Blog Debate Público, um espaço sobre política, que me rendeu dois prêmios no TopBlog, vencendo o Blog da Dilma e o Pragmatismo Político. Acessem www.debatepublico.com.br É uma ação independente, que não conta com nenhuma ajuda financeira. A ideia era de que as pessoas colaborassem, a fim de que pudesse contar com recursos necessários para fazer um trabalho de fiscalização. A falta de recursos financeiros é bastante limitador. Mas, ainda tenho como aliada as palavras, como as amo! E assim sigo tentando, na luta. Às vezes parece ser um esforço em vão, mas nunca devemos desistir de nossos sonhos e sempre manter viva a chama da esperança."
A ENTREVISTA
1 Quais seriam dois ítens indispensáveis numa possível Reforma Política no Brasil?
Resposta: A questão do financiamento de campanha, temos que acabar de vez com campanhas milionárias e faraônicas. Só assim poderemos ter igualdade na disputa. E outro item que deveria ser válido é a implantação de cota para mulheres eleitas e não só mulheres candidatas. Sei que foram pedidos apenas dois itens, mas incluiria mais um: candidatura avulsa.
2 Vc acha que os partidos políticos discriminam candidatos com pouca experiência eleitoral?
Resposta: Não só discriminam como utilizam do candidato de forma vexatória. Eu senti na pele isso. Não obtive nenhum apoio do partido. Vi que apenas aqueles que fazem parte do grupelho são beneficiados com "agradinhos", apoio. Do contrário, é tratado pior que tapete. Mas, a campanha eleitoral no Paraná foi uma sucessão de erros. Nunca vi uma campanha com tanta gente despreparada e senti também que muitos entram nessa só pra colocar o nome para uma disputa municipal, especialmente vereadores. A nossa coligação foi só no nome mesmo, os candidatos não tiveram apoio e ficaram ressentidos com isso. O meu candidato ao governo, que não escondo de ninguém, Roberto Requião, não contou com uma equipe boa o suficiente para eleger o cara que já estava eleito, ao contrário, fizeram ele perder a vitória, numa inércia sem precedentes, a espera de um segundo turno que não chegou. Fiquei bastante decepcionada com a participação no embate eleitoral em todos os sentidos. E vi que a política é ocupada mesmo só por aqueles que detém o poder, o povo também não busca novos nomes. A única coisa que me deu uma certa satisfação foi ver uma mulher ser eleita com um número expressivo. Cristiane Yared a deputada federal mais bem votada. No mais, fiquei bastante decepcionada com os resultados, seja com a reeleição de uma Assembleia Legislativa do Paraná subserviente ao nome do governador Beto Richa que foi chancelado de primeira. Estamos carentes de lideranças. Continuando sobre o partido. Pra se ter uma ideia da falta de apoio do partido não recebi nem mesmo sobre o processo eleitoral, ficamos à mercê, como barcos à deriva. Senti uma grande decepção. Me senti refém de um processo eleitoral e que parece não ter como lidarmos com tudo isso. É coisa pra peixe graúdo. Sinto que isso só mesmo com a força do povo pode ser mudado. Mas, as pessoas parecem estar tão acomodadas e aceitarem que não adianta nada. Porém, o esforço conjunto pode fazer verdadeiras mudanças, acredito muito nisso. Só devemos tomar cuidado com esses que aparecem por aí para se autopromover e usam da boa-fé do povo.
3 Durante a campanha notei sua indignação com o apoio que parte da sociedade e dos partidos políticos dispensavam aos 'fichas-sujas'. É isso?
Resposta; Creio que a resposta acima responde muito dessa pergunta. Mas, na verdade fico indignada com a falta de conhecimento da população. O povo não lê. Por isso, fica informado a partir de um bando de bobagens que estão dispostas na internet. Temos hoje uma disputa de mercado e isso atinge todas as esferas de nossa sociedade, sobretudo a política. A política virou um negócio altamente rentável. Então, investem como num negócio e querem o retorno depois. O problema é que grande parte da sociedade está como João Bobo desses que estão no poder, sem saber pra que lado. Outra coisa que me causou constrangimento foi a desfaçatez de colocarem tantos parentes na política. Foi uma campanha de pai para filho. E eu sou veemente contra isso. Não podemos ter um comando familiar na política, isso é muito prejudicial para a democracia.
4 Por que há tantos empresários, advogados etc e poucos jornalistas e intelectuais no Congresso Nacional?
Resposta: Porque aquilo lá há muito tempo virou terreno improdutivo, terra de ninguém. Difícil gente séria querer ingressar na política. Até porque não há espaço para essa espécie. Com pouquíssimos casos, há um esforço hercúleo de algumas correntes, mas parece não conseguir romper as barreiras, ficamos em círculos. E depois a população vota em cada nome que realmente fica difícil alguém querer competir com isso, a tal da popularidade, o vale-tudo eleitoral.
5 Vc concorreria a Prefeitura de Londrina pelo seu atual partido. Ou mudaria de agremiação?
Resposta: Olha depois dessa experiência frustrante creio ser difícil colocar meu nome novamente. Mas, nunca digo dessa água não beberei. Até porque como cidadã, jornalista, engajada, sei das minhas responsabilidades e nunca fujo às minhas lutas. Contudo, sei do fator limitador. Muito embora, adoraria ver alguém realmente interessado e apaixonado por Londrina na Prefeitura. Eu certamente atuaria com essa força. Quero ver minha cidade no local de destaque que merece, pois é tremendamente especial, mas sofre com administrações corruptas e fracassadas. Atualmente, estamos vivendo diria uma lacuna, um espaço em branco, não vejo administração por onde ando em Londrina. Quanto ao partido, ainda não dialoguei com o presidente do partido, mas não nego meu desgosto com a sigla que não deu nenhum respaldo e apoio. E na minha opinião se demonstrou fraca. Voltando lá na Reforma Política, uma redução de partidos também seria interessante.
6 Qual o principal erro e acerto do jornalismo profissional nas Redes Sociais?
Resposta: Na minha opinião não existe jornalismo profissional na rede social, ou melhor, diria de forma ainda muito tímida. Os blogs na política aqui ainda dão um show de furos e saem na frente dos noticiários locais. Acredito que poderíamos melhorar muito. E não é só isso, o Jornalismo não inovou na rede social, continua seguindo o padrão. Creio que precisamos despertar para uma nova tendência, pessoas que leem menos e gostam de se informar com mais agilidade. Acho sofrível essa diminuição de leitura, mas temos que encarar como realidade.
Resposta: O espaço é democrático, mas como toda liberdade em excesso pode ser mal utilizada. As pessoas parecem sofrer uma transformação quando estão diante da tela do computador, tiram máscaras, só que não são aquelas que teríamos que nos desnudar, mas a da civilidade. Se o outro não compartilha da minha opinião então eu parto para agressão verbal? Não é por aí. Antes de tudo temos que nutrir o respeito mútuo. A internet mostra como estamos uma sociedade doente. E partimos para o caos, sobretudo se quisermos impor nossas vontades e opiniões como crianças mimadas, no vozeirão, no palavrão. Sigo a velha máxima: “Posso não concordar com sua opinião, mas vou defender até a morte seu direito de expressá-la”. Um caso que aconteceu comigo recentemente ilustra bem o comportamento nas redes sociais. Um comentário na rede social feito por mim rendeu uma resposta bastante mal educada de uma outra pessoa que é conhecida e tem militado na política. E outras tantas na mesma linha. Parece que virou um meio para o ataque. Fiz uma pergunta apenas baseada em suas próprias alegações diante da imprensa. As pessoas, sobretudo as que têm um espaço na mídia, deveriam fazer uso dela para o bem e pensar antes de expressarem sua opinião. A fim de que depois isso não possa causar danos e prejuízos para sua própria imagem ou mesmo mostrar contradições. Ainda estou pensando num processo legal, afinal comportamentos errados devem ser punidos. Aliás, acredito que falta muito isso em nossa sociedade, a punição. Por isso, tantas pessoas transgridam o limite da lei.
8 O que é realmente a liberdade de imprensa? Quais foram seus objetivos e sonhos ao ingressar no jornalismo?
Resposta: A liberdade de imprensa tem suas limitações e pode ser uma arma muito perigosa se estiver à serviço do capital. Quando ingressei no Jornalismo aspirava a escrita. Sempre quis ser escritora, mas acabei deixando esse sonho para quem sabe quando alcançar mais idade. Por ora, estou cursando Direito e aspirando outras paixões. Sou incansável na defesa dos direitos e da justiça.
9 Na atual conjuntura, vc seria favorável à retomada do Planalto pelos Militares?
Resposta: Esse é um assunto controverso porque rende debates acalorados e marcados por muitos equívocos. Aqueles que viveram a época do golpe sabem como foi duro e a censura pesava nos ombros. Certamente, não poderia responder a essa entrevista com essa liberdade. Acredito na liberdade de expressão. E ao meu ver passamos desse tempo. Mas, entendo que há sim necessidade de impingirmos aos nossos jovens alguns limites e, sobretudo, senso de responsabilidade. Afinal, estamos perdendo eles para o tráfico. Isso não pode continuar como está. Só que ao meu ver um sistema ditatorial não seria a solução para os nossos conflitos, que são mais de natureza humana, do que qualquer outra coisa. As pessoas já estão em guerra contra si e o resto do mundo, então, não precisamos de estabelecer um sistema militar, mas, sim mais contato com a humanização. Por outro lado, vi no programa de um canal televisivo sobre o ensino e o método em escolas militares, parece que tem funcionado bem, com grande aprovação nos vestibulares. Logo o jornalista criticou algumas formas de abordagem do conteúdo, especificamente sobre a Era Militar. Ao interpelar a secretária de educação do Estado, no qual há diversas escolas desse tipo, falou sobre isso não estar interferindo no aprendizado. Vejamos, se eles estão sendo aprovados no vestibular não há problema algum. O difícil é fazer com que nossos jovens voltem a acreditar num futuro que não seja no mundo da criminalidade. E nossas excelências poderiam dar o exemplo: políticos sendo honestos e magistrados punindo os que transgridam a lei.
10 Ao longo dos anos os Militares evoluíram seus Comandos para fazer, atualmente, um governo democrático?
Resposta: Acredito que isso é matéria saturada. Respeito nossos militares, mas o Exército está sucateado. Se acaso estourasse uma guerra não sobreviveríamos, porque não temos nem sequer artilharia. Outra coisa muito danosa é o tal do militar temporário. Estamos a criar um exército de desqualificados e desempregados. É isso o que ocorre. O jovem ingressa no Exército para prestar o serviço temporário e por lá fica até oito anos, conforme legislação. Ao sair, maior parte das vezes, não conta com nenhuma qualificação profissional e passa a receber um salário inferior ao que recebia no Exército. Precisam ver isso. Muitos deles enveredam no mundo das drogas, do crime ou caem na depressão.
11 Por que vc quer ser Parlamentar ou participar da vida pública?
Resposta: Na verdade eu nunca quis ser parlamentar, mas sei das minhas responsabilidades e não fujo do embate. Queria participar, conhecer a realidade. E a verdade é que a política é para profissionais, a política é para políticos. Eles contam com um processo muito bem engendrado, excelentemente retratado na obra O Nobre Deputado de Marlon Reis.
12 Todos nós temos um ícone de admiração. Profissionalmente, qual o seu?
Resposta: Puxa eu nunca tive ícones, ídolos. Admiro as pessoas por sua força, sua luta, sua batalha. Creio que nutro uma admiração fora do comum por meus pais. São grande fonte de inspiração para mim, pois são seres incansáveis, que batalharam muito para conquistar tudo o que tem na vida. E com meu pai tive o melhor de todos os aprendizados: estude, porque o conhecimento é a unica coisa que nunca poderão tirar de você. Pena que hoje para muitos valha mais a pena um carrão importado do que a sabedoria. Porém, eu ainda sigo os ensinamentos do meu pai.
13 Qual a influência de sua família no processo eleitoral ou profissional?
Resposta: Essa parece ter sido plenamente respondida pela anteriormente. Mas, vejamos, minha mãe sempre gostou de política e incutiu isso em mim. Esse espírito crítico e que não se curva. Por outro lado, eles não queriam que eu disputasse, justamente por já conhecerem o processo eleitoral e suas armadilhas. Infelizmente, não há espaço para o novo, mas apenas para a reeleição e os filhos daqueles que já estão no poder. Vivemos uma espécie de histeria coletiva. As pessoas vociferam contra o poder, mas continuam jogando o jogo dos poderosos. Tá aí outra coisa que poderia acabar REELEIÇÃO, um mal danoso para a democracia.
14 Após sua experiência eleitoral deste 2014, vc faria tudo outra vez no mesmo partido?
Resposta: Não. Eu não teria saído candidata por esse partido. Aliás, nem sei se teria entrado na disputa. Embora, eu me sinto realizada em poder dizer eu fui lá, participei, coloquei meu nome, dei uma alternativa. Dessa forma, não sou omissa. Mas, vi que a política carece de líderes natos e enquanto isso os carreiristas de plantão vão deitando e rolando.
Leia o site e assista vídeos históricos gravados por Flávia Prazeres no endereço: http://www.debatepublico.com.br/
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