Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)
O tempo do Advento coloca-nos diante da realidade da
história e o anúncio da esperança: Consolai o meu povo! Estamos na Campanha
para a Evangelização com o tema “Cristo é a nossa paz”, que também nos introduz
no ano da Paz no Brasil. Nós unimos esse clamor com o ano da Esperança em nossa
Arquidiocese e o Ano Mundial da Vida Consagrada, iniciado domingo passado.
Esses sinais de vitalidade da Igreja, unidos ao tempo do Advento, são para nós
uma bela ocasião para retomarmos com afinco a nossa vida de discípulos-
missionários neste mundo de tantas perseguições e dificuldades para as pessoas
de fé. Por isso mesmo que o Advento nos interpela sobre a Esperança e a
Preparação dos caminhos do Senhor em nossa vida e na vida de nosso povo. A
sociedade necessita de cristãos que testemunhem a alegria da vida em Cristo e
contagiem com o bem a história de hoje.
Por mais que a humanidade se julgue autossuficiente, é tão
insuficiente; por mais que deseje ser seu próprio deus, não passa de pó que o
vento leva.
Poderíamos pensar: pobres de nós que vivemos uma vida tão cheia de
percalços e angústias, de lutas e lágrimas, de desafios que, às vezes, parecem
mais fortes que nós! Eis a humanidade! Como no passado, ainda hoje precisamos
de um Salvador; como Israel que esperou, nós, Igreja de Cristo, suplicamos:
Vem, Senhor! Manifesta o teu poder! Que passe logo esse mundo de tanta
ambiguidade e provação; que venha a plenitude do teu Reino, que venha o teu
Dia, que venha logo a plenitude da tua graça! É este o horizonte para
contemplarmos a Palavra de Deus deste II Domingo do Advento. A antífona de
entrada da Missa deste domingo é tirada do Profeta Isaías, e já nos é de tanto
consolo: “Povo de Sião – somos nós, meus irmãos, somos nós! –, o Senhor vem
para salvar as nações! E, na alegria do vosso coração, soará majestosa a sua
voz!” (Is 30,19.30). Sim! O Senhor vem! Aquele que nunca nos deixou, e vem
sempre nas pequenas coisas e ocasiões da vida, ele mesmo virá, um Dia, no
fulgor da sua glória: ele, nossa justiça, ele, nossa esperança, ele, nosso
Salvador. Aquele que virá no final dos tempos já veio no Mistério da Encarnação,
nascido de Maria – e vem até nós no tempo que se chama “hoje”.
Portanto, sejamos anunciadores da esperança da salvação em
Cristo Jesus e, por isso, não desanimemos, não temamos, não percamos o rumo da
nossa vida, não esfriemos na nossa fé e na nossa esperança: tudo caminha para
esse encontro com Aquele que vem! Deus não se esqueceu de nós, não virou as
costas para o mundo, não abandonou a sua Igreja! Recobremos o ânimo, renovemos
as nossas forças, colocando no nosso Deus a nossa esperança e a nossa certeza!
Olhando para o nosso Deus, quanta esperança e certeza de salvação!
É neste tempo litúrgico que a Igreja propõe à nossa
meditação a figura de João, o Batista. Este é aquele de quem falou o profeta
Isaías, dizendo: “Voz do que clama no deserto; preparai os caminhos do Senhor,
endireitai suas veredas”. Somos chamados a nos preparar para renovar a alegria
do dom da Encarnação que celebraremos neste Natal. E somos chamados a anunciar
essa vida ao mundo de hoje. A missão de João Batista foi a de ir à frente do
Senhor para preparar os seus caminhos. Esta seria sua vocação: preparar para
Jesus um povo capaz de receber o Reino de Deus e, por outro lado, dar
testemunho público d´Ele. Não se dedicará a essa missão por gosto pessoal, mas
por ter sido concebido para isso! E irá realizá-la até o fim, até dar a vida no
cumprimento da sua vocação.
A vocação abarca a vida inteira e leva a fazer girar tudo em
torno da missão divina. Cada homem, no seu lugar e dentro das suas próprias
circunstâncias, tem uma vocação dada por Deus: para que ela se cumpra dependem
muitas outras coisas queridas pela vontade divina. Preparai os caminhos do
Senhor, endireitai as suas veredas… O Batista é a voz que anuncia Jesus. Essa é
a sua missão, a sua vida, a sua personalidade. Todo seu ser está definido em
função de Jesus, como teria que acontecer na nossa vida, na vida de qualquer
Cristão. O importante de nossa vida é Jesus.
O Precursor indica-nos também a nós o caminho que devemos
seguir: o importante é que Cristo seja anunciado, conhecido e amado. Só Ele tem
palavras de vida eterna, só n’Ele se encontra a salvação. A atitude de João é
uma clara e enérgica advertência contra o desordenado amor próprio que sempre
nos incita a colocar-nos indevidamente em primeiro plano. Uma preocupação de singularidade,
a ânsia de sermos protagonistas não deixaria lugar para Jesus. Sem humildade,
não poderíamos aproximar os nossos amigos de Deus. E então a nossa vida ficaria
vazia.
Na próxima semana, no Domingo Gaudete, iremos fazer
nacionalmente a coleta pela evangelização! Uma iniciativa da CNBB, que deve ser
acolhida por todos nós. Que a nossa generosidade seja do tamanho de nosso país.
Esse momento deve nos envolver para que sejamos corresponsáveis pelos lugares
aonde não há recursos financeiros para a ação evangelizadora. Sejamos generosos
e vamos colaborar com a evangelização.
A nossa grande alegria será termos aproximado de Jesus, como
fez o Batista, muitos que estavam longe ou se mostravam indiferentes, sem
perdermos de vista que é a graça de Deus, não as nossas forças humanas, que
consegue levar as almas ao Senhor. Ensinava Santo. Agostinho: “Não queirais
viver tranquilos até conquistá-los para Cristo, porque vós fostes conquistados
por Cristo”.
Deus quer se servir de nós, de você, para preparar os homens
de hoje para a vinda do Cristo no Natal. Preparemo-nos para preparar os
caminhos do Senhor no coração das pessoas!
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Este blog só aceita comentários ou críticas que não ofendam a dignidade das pessoas.