Edson Vidigal
Começa o dia, você liga o rádio, vê a televisão, folheia os
jornais e se lhe perguntam pelas novidades, a resposta logo se transfigura em
outra pergunta – novidades? Não há novidades.
Essa inundação de noticias quase afogando o silêncio do
amanhecer vai se diluindo com o correr das horas nos reencontros com a rotina,
mas a impressão que fica é que não há novidades mesmo.
É muita tragédia. Muitas ações cínicas usurpando os espaços
das ações cívicas. Muita imoralidade. Muita desonestidade. Muita crueldade. Muita
indiferença. Inseguranças e doenças. Muito desrespeito. Agressões irreparáveis
à natureza. Políticos mentindo adoidados. Atentados à ética? Que é ética. Eles
têm sua própria ética.
Um sax ao longe parece entoar o desalento como se chamasse o
verso pertinente – “E uma aflição medonha me faz implorar / O que não tem
vergonha, nem nunca terá / O que não tem governo, nem nunca terá / O que não
tem juízo...”
Você se antena e logo se cansa na quase certeza de que isso
tudo é antigo, os nomes não os mesmos às vezes, os lugares também não são os
mesmos às vezes. De tudo, resta a quase certeza da mesmice, que não há boas
novidades mesmo.
Aqui, na Ilha do Amor, as coisas transcorrem conforme o interesse
do dono de cada voz, tudo fazendo lembrar daquele cãozinho da logomarca da RCA
Victor - a voz do dono.
Tirando a Dilma que parece não estar querendo saber de nada
disso, quem é que não sabe, e não é de hoje, que a maioria dos eleitos mandados
para Brasília não são donos das suas próprias vozes. Que os digam os
empreiteiros sobre as propinas descobertas nas investigações da Operação Lava
Jato.
Mas o que fazer, a estas alturas, com tanta indignação
represada? Tu chegas hoje a Brasília a impressão que cola e não desprega de ti
é a de que o País está encalhado num desses atoas da vida. Está sem governo e
no médio prazo, tudo indica, assim seguirá.
Resta apenas protestar, protestar. Nós nos esgoelando em
milhões de gritos parados no ar, mas sem enganchar os aros dessa enorme
corrente para que assim legítima e forte possa resultar no que mais pede o
Brasil hoje – as renúncias do Cunha e da Dilma.
Quando não haviam ainda o que chamamos de redes sociais da
internet, Clarice Lispector, a propósito dessa coisa de protestar em artigos
para revistas ou jornais, perguntou a Rubem Braga se ele ainda acreditava que
isso pudesse ter alguma influencia, gerar algum resultado.
O bom e grande Rubem Braga respondeu contando que, uma vez,
ao voltar de Paraty escreveu sobre as belezas do lugar, mas também reclamando
contra um alto falante na praça que nas tardes de domingo, num tom altíssimo,
ensandecia as pessoas.
A crônica fez sucesso, todo mundo comentou, as pessoas de
Paraty lhe escreveram agradecendo os elogios ao prazeroso lugar, mas tempos
depois quando retornou lá nada havia mudado - o alto falante continuava no
mesmo lugar com o seu som altíssimo desacatando o sossego das pessoas.
No Brasil, sentenciou Braga a Clarice, a gente escreve é
para os colegas. Apesar das redes sociais, penso sempre nisso.
Tempos atrás em Portugal surgiu um movimento social
reivindicando dos políticos e da mídia para que parassem com as mentiras
velhas. “Queremos mentiras novas!”
Não tenho ideia de como seria isso hoje aqui no Brasil,
incluindo o Maranhão, é claro. Talvez o movimento logo se esvaziasse como esse
do impeachement.
Então vocês querem é mentiras novas, ah é? Pois aqui estão
elas, novinhas em folha. Entre nós não falta político bom nisso. Nem mídia. Com
vozes de um dono só.
Daí que depois de tudo, atiçado por aquela impressão, a
mesma de Torquato, num dos seus mais belos poemas, Domingou, – “as noticias que leio conheço, já sabia
antes mesmo de ler “ – só me resta, em busca de alguma novidade, garimpar os
anúncios classificados.
É lá que estão as grandes novidades. Como esta aqui, por
exemplo, – “Cantinho da Vovó, jogo de búzios e tarot, amarração e feitiços para
o amor, faço e desfaço trabalhos. Trago a pessoa amada aos seus pés em 24.hs. “
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Este blog só aceita comentários ou críticas que não ofendam a dignidade das pessoas.