Mhario e seu pai advogado José Santos |
Papai, eu te amo!
(*) Mhario Lincoln
TOMO I
Ei, José
Tua falta me consome,
Ninguém até hoje
conseguiu te substituir em
minha vida.
Meu ídolo!
Permaneces vivo.
Mas a saudade de teu cheiro
e do teu carinho
É grande.
Água Velva, Manhãs douradas
O cheiro de um novo dia.
Quantas vezes,
Indo para a escola
Desejei fazer a barba.
Mas as lâminas afiadas me apavoravam
Cresci e deixei a barba crescer junto.
O cheiro da Água Velva
Foi-se no perfume inebriante
De Dolores.
Minha colega de classe.
Olhos de mormaço.
Meu carma juvenil.
Morena de olhos verdes,
Morreria por ela.
TOMO II
Dos paletós aos meus jeans descosturados.
A camisa entreaberta.
Belos pelos nos peitos nus.
Halterofilista dos fins de semana,
Golista de toda a semana.
A ‘água velva’ virou meu lúpulo. Tudo passa!
Anos depois, a volta do ídolo aos tribunais,
Defesas incontestes,
Brasília. Eu também fui.
Supremo, os homens de toga,
Os gritos de vitória
De um advogado nordestino.
Meu ídolo voltou a vencer os fortes,
a favor dos fracos e oprimidos.
Democracia, luta, exemplo!
Meu pai José Santos, ou como o chamavam:
José de todos os Santos...
TOMO III
Depois, foi-se a família. Perdeu-se o vínculo.
José se foi, também....
Eu fiquei.
Dezoito anos se foram...
Eu fiquei!
Reencontro dramático
no sétimo andar do edifício ‘BEM’.
Abraços e soluços. Meu ídolo ali!
Meu velho e o velho cheiro de Água Velva.
A volta triunfante do delírio,
E os acordes da solidão.
Mais vinte anos juntos, até...
que Deus o levou!
Numa manhã sombria e triste,
Com ascendente em câncer,
Coração parou de bater às 10 horas.
Um curto-circuito intenso na minha alma.
Depois achei
que ele viveria em mim mesmo assim.
Mas a saudade de sua ausência,
dos seus conselhos, dos seus carões,
da sua lida, da sua amizade,
não têm mais vida.
O cheiro de jasmim no lenço,
A risada abafada incontida,
Não ecoa nem mesmo
nos doze metros quadrados
de seu escritório, no fundo de sua casa.
Livros e vida, leve e solta mensagem de sabedoria.
Material e etéreo.
Diferença abissal!
TOMO IIII
Hoje eu acordei com muita saudade de meu pai.
Abracei sua imagem e não senti seu cheiro.
Beijei sua sombra etérea
E não sequei as lágrimas no lenço de jasmim.
Ouvi seus soluços.
Mas não pude acalentá-lo.
Ele também sente a minha falta.
Hoje, eu acordei com uma vontade imensa
De dizer para meu pai:
Eu te amo e sinto a tua falta.
Mas ele, não deve estar escutando mais...
Era para tê-lo feito em vida,
Mas não o fiz.
Era para tê-lo beijado em vida,
Mas não o fiz.
Era para tê-lo respeitado em vida,
Mas não o fiz.
Era para tê-lo acompanhado em vida,
Mas não o fiz.
Hoje eu acordei com uma vontade imensa
De falar com meu pai...
Porém, não o posso fazer mais...
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