*Américo Domingos Nunes Filho
A nação brasileira passa por momentos graves, quando a corrupção se dissemina e atinge uma intensidade que envergonha a todos os que vivem em nosso País e, igualmente, no estrangeiro. Ao mesmo tempo, uma crise econômica de grande proporção enfraquece o poder aquisitivo do povo, tornando-o mais pobre. A inflação dispara, a moeda se desvaloriza.
Diariamente, as notícias veiculadas revelam a podridão
moral que avassala a Petrobrás, a qual se encontra em grave crise e sofrendo
intensa desvalorização de suas ações. Louva-se o trabalho bem desenvolvido da
Polícia Federal e dos resultados satisfatórios das investigações. No momento em
que o cerco se amplia, com muitos políticos sendo investigados e com a
possibilidade futura de se chegar até à intimidade do Poder Executivo, o povo,
descrente e desesperado, vai para a rua, em gloriosa e histórica manifestação.
Contudo, a dúvida paira em todos os setores da população, não acreditando que
as punições aconteçam, ainda mais com o envolvimento agora do Poder
Legislativo. Então, há possibilidade de, mais uma vez, as penas se tornarem
brandas ou nada acontecer e acabar tudo, como diz o ditado popular, em pizzas.
As leis humanas são falhas e sujeitas à intimidação dos
poderosos. Contudo, surgindo o final da vida, a morte nivela todas as pessoas,
atingindo os ricos e os pobres, os honrados e os desonestos, os portadores de
cargos públicos de alta responsabilidade, como até os indivíduos mais simples.
Chegando o momento propício do decesso corporal, ninguém encontrará no outro
lado da vida o seu paraíso fiscal, porquanto nada poderá levar para o outro
mundo de bens físicos e o que vai valer de verdade é o estado de sua
consciência.
Na vivência da carne, o indivíduo pode enganar à vontade,
dissimulando suas emoções com facilidade, esquivando-se com subterfúgios,
utilizando-se de sofismas como a argumentação de que o dinheiro alheio é
necessário para manter seus partidos políticos e até tentar a explicação de que
a corrupção sempre existiu como se fosse normal ser desonesto.
Na dimensão extrafísica, o poder judiciário é
verdadeiramente “supremo”, porquanto “o que dá as cartas na mesa” é exatamente
a Lei Divina e que insere precisamente na consciência de cada um. Nos arraiais
da Espiritualidade, não há possibilidade de enganar, de fingir, de aparentar
honestidade, porquanto o veículo da comunicação é o pensamento. O ser se revela
como ele realmente é sem haver chance de simulação.
Se na dimensão física foi um corrupto que se locupletou
de dividendos roubados refletirá, na Espiritualidade, todo o mal que praticou,
porquanto seu julgamento é realizado em um tribunal situado dentro de si mesmo,
acarretando um sofrimento atroz. Nesse momento, estando desencarnado, sem a
limitação que o corpo físico lhe proporciona, a aflição parece que nunca terá
fim, que nunca mais acabará. Daí a expressão “pena eterna” ou “fogo eterno”,
citada emblematicamente no Evangelho (Mateus 18:8).
Disse o Mestre Jesus: “Ai de vós os que estais agora
fartos! Porque vireis a ter fome. Ai de vós os que agora rides! Porque haveis
de lamentar e chorar. Ai de vós quando todos vos louvarem! (Lucas 6: 25-26).
No livro Recordações da Mediunidade, escrito pela
estimada e saudosa Yvonne Pereira, há um diálogo bem significativo em relação
ao tema em tela. A médium pergunta a um Espírito sofredor: “- Quem te vem
punindo, Deus?” O ser respondeu: “- Oh! Como podes julgar que Deus pune alguém?
Quem me pune sou eu mesmo, é a Lei de Causa e Efeito, é a minha consciência, o
desajuste em que me sinto à frente da harmonia universal...” (pág. 127, FEB).
A D.E., amalgamada com o Evangelho de Jesus, ensina que
os atos maléficos acarretam dívidas (“A cada um segundo suas obras”), as quais
terão de ser expurgadas dos refolhos do ser. Portanto, apoderar-se de bens
alheios faz com que, após a desencarnação, o indivíduo vivencie um tenebroso
sofrimento e tenha que reencarnar para reparar os seus erros e ressarcir suas
vítimas. Se as infrações lesam milhões de pessoas, o resgate será
indiscutivelmente intenso, porquanto o corpo espiritual é lesado
proporcionalmente de acordo com a responsabilidade assumida, dos créditos
recebidos e da gravidade das faltas cometidas. Afinal, fazer parte dos Poderes
do Executivo, do Legislativo e do Judiciário, que são responsáveis por
proporcionar o bem-estar de milhões de pessoas, oferece a oportunidade da
conquista de veemente crescimento espiritual, como igualmente a chance de um
fracasso desolador. Portanto, o povo brasileiro deve de se manifestar à vontade
e tem que fazê-lo, pois é vergonhoso tanto roubo, quando os impostos cobrados
são escandalosos e o retorno para o povo é insignificante: saúde doente,
educação deficiente, pensões diminutas em relação ao dinheiro recolhido,
transporte caro e ruim e muito mais deficiências e omissões.
A D.E., revivendo o excelso Evangelho de Jesus,
enfatizando a prática do perdão, ensina que, mesmo quando é intensamente
prejudicado, o ser deve se manifestar de forma pacífica, sem caminhar para a
violência e orar com veemência pelos algozes, pois a pena espiritual que lhes
espera é de grande proporção. Contudo, “Deus é Amor” e, no decurso das
vivências físicas sucessivas, terão a chance de expurgar suas deficiências,
paulatinamente, através de expiações marcantes, principalmente ostentando
deformidades congênitas ou portando doenças psiquiátricas ou vivenciando a
miséria total, e que, a seguir, no curso das reencarnações, poderá surgir a
oportunidade, tendo a aptidão necessária, de purificar-se de forma mais
intensa, praticando intensamente “o amor que cobre multidão de erros”, pois “é
dando que se recebe , é perdoando que se é perdoado”.
A semeadura é livre, a colheita é obrigatória.
Reencarnação ou Inferno Eterno
E agora? A Teologia dogmática ressalta a existência de
uma punição eterna para os infratores da Lei Divina, porém o Evangelho do
Cristo, estudado não pela “letra que mata, mas pelo espírito que vivifica”
(2-Coríntios 3:6), indica o caminho da misericórdia do Pai. Um discípulo
perguntou a Jesus: “- Senhor, até quantas vezes meu irmão pecará contra mim,
que eu lhe perdoe? Até sete vezes?” Respondeu-lhe o Cristo: “- Não te digo que
até sete vezes, mas até setenta vezes sete” (Mateus 18: 21-22).
Esta afirmativa de Jesus mostra quão incomensurável é o
amor de Deus para todos os seus filhos. Como pode um pai castigar para sempre
um fruto da Sua Seara? Disse o Mestre: “Qual dentre vós é o homem que se
porventura o filho lhe pedir pão, lhe dará uma pedra? Ou se lhe pedir um peixe,
lhe dará uma serpente? Ora, se vós, que sois maus, sabeis dar boas dádivas aos
vossos filhos, quanto mais vosso Pai que está nos Céus...” (Mateus 7: 9-11). O
amor desmedido do Criador sobre todas as Suas criaturas foi bem exemplificado nesses
ensinamentos de Jesus. A antítese desse amor divino é a existência de uma única
vida com constituição de laços de família e amizade que se desfazem por toda a
eternidade, após a fixação definitiva das almas equivocadas no inferno eterno.
Se Deus é Amor (1 João 4:8), que amor é esse que separa
para sempre, sem esperança de jamais se reunirem: pais, mães, irmãos, parentes
e amigos? Como pode existir felicidade no céu, sabendo-se que inúmeros irmãos
sofrem por todo o sempre no inferno? Há correntes religiosas que ensinam um
esquecimento total por parte daqueles que conquistaram o paraíso; havendo,
portanto, perda da individualidade, acarretando-se a formação de seres sem
vontade própria, verdadeiros fantoches à mercê do seu Criador, que praticaria,
após o julgamento final, uma completa “lavagem cerebral” nos seus eleitos,
vitoriosos no processo da salvação.
Se existissem mesmo as penas eternas, haveria contradição
no que está contido, em Mateus 5: 25-26: “Entra em acordo sem demora com o teu
adversário enquanto estás com ele a caminho, para que o adversário não te
entregue ao juiz, o juiz ao oficial de justiça e sejas recolhido à prisão. Em
verdade, te digo que não sairás dali enquanto não pagares o último centavo”.
Portanto, a prisão é transitória, a pena não é perpétua e existem meios de
serem pagas as dívidas contraídas, através de novas oportunidades que a
reencarnação (“nascer de novo”) proporciona. O próprio Cristo visitou e pregou
aos Espíritos em prisão (1-Pedro 3: 19), revelando o amor incomensurável do Pai
para com todas as criaturas, sejam elas boas ou más, justas ou injustas.
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