O PSDB e o DEM anunciaram que vão recorrer ao Supremo
Tribunal Federal contra a decisão de fatiar o julgamento da agora ex-presidente
Dilma Rousseff no impeachment, que levou ao abrandamento da pena e livrou a
petista da inabilitação política por oito anos. Parlamentares dos dois partidos
se reunirão ainda hoje para definir os detalhes do recurso e como
passarão a se comportar na base aliada do presidente Michel Temer (PMDB). O
voto dos peemedebistas causou uma crise com tucanos e democratas.
O presidente nacional do PSDB, o senador Aécio Neves (MG)
culpou o PMDB pelo desfecho do julgamento e se disse surpreendido em cima da
hora. Ele colocou em dúvida o compromisso real de lideranças peemedebistas com
o governo Temer e as reformas propostas econômicas e acordadas com o partido.
“Saíamos dessa sessão histórica por um lado aliviados pela virada de pagina e
pela possibilidade de o presidente Michel assumir definitivamente, mas por
outro lado saímos preocupados com essa posição setores do PMDB que não nos dá
segurança em relação à parceria para o futuro”, afirmou Aécio. “O Brasil não
comporta mais ambiguidades. É preciso que setores do PMDB digam até que ponto
estão comprometidos com esse projeto, até que ponto estarão ao lado de reformas
preconizadas pelo presidente Michel Temer e apoiadas pelo PSDB. Isso deixa
dúvidas”
Nos bastidores, a articulação de aliados de Dilma para
conseguir fatiar o julgamento em duas etapas (uma para a perda de mandato e
outra para a inabilitação política) foi atribuída a um acordo com presidente do
Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Renan sempre se disse desconfortável com o
impeachment, mas declarou na sessão desta quarta, sentado à Mesa Diretora, ser
contra a suspensão dos direitos políticos da petista.
Parcela do PSDB passou a defender ao fim da votação um
rompimento com Temer. Eles reclamaram de não terem sido avisados da posição
dividida do PMDB. “O PMDB começou a tratar o PSDB da maneira que era tratado
pelo PT”, reclamou o líder do PSDB, senador Cássio Cunha Lima (PB). “”Nós e o
Democratas fomos surpreendidos. Não houve uma palavra de ninguém do PMDB na
direção dessa mudança de posição”, disse Aécio. “Se nós percebermos a
quantidade de ambiguidades que já havíamos denunciado e sinalizado antes,
certamente esse apoio não poderá existir, já que não haverá compromisso com
essas reformas. Para nós não foi nada positivo a posição final de inúmeros e
ilustres líderes do PMDB na segunda etapa dessa votação.”
O líder do DEM, senador Ronaldo Caiado (GO), afirmou que
o abrandamento da pena foi um acordo entre PMDB e PT: “Esse resultado
indiscutivelmente surpreende. Houve uma acordão nas últimas horas.” “Passa-se
meia mensagem ao povo brasileiro. Os senadores rasgaram a Constituição e
revogaram a lei das inelegibilidades. O condenado não é punido de forma
terminativa”, disse o senador Álvaro Dias (PV-PR).
Líder do PMDB, o senador Eunício de Oliveira (CE) se
absteve na votação que manteve os direitos políticos de Dilma. Ao fim da
sessão, ele negou qualquer acordão para poupar a petista e disse que não deu
seu voto porque a bancada não fechou um encaminhamento. “Havia uma divisão muito forte dentro do
plenário e eu não tinha conversado com a bancada. Qualquer posicionamento que
eu tomasse para um lado ou para outro poderia contaminar o sentimento dos
senadores que fazem parte do PMDB. Portanto, como não teve orientação, preferi
não punir a presidente duas vezes”, afirmou.
Oliveira nega que a votação traga uma primeira sequela na
base de Temer após ele ser confirmado presidente da República. “Não houve
entendimento, não houve acordo e isso em nada altera o comportamento da base. A
base ficou clara: Temer recebeu 61 votos para governar o Brasil”, disse o líder
peemedebista.
O recurso ao STF a ser impetrado pela base de Temer,
liderado por PSDB e DEM, vai questionar a decisão do Senado de dividir o
julgamento. “Não poderia ter havido o desmembramento da votação. Esse
fatiamento merecerá uma reflexão profunda do STF. E a Constituição é clara
quando diz que a sanção é clara, a perda do mandato com a consequente perda dos
direitos políticos”, disse Aécio.
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