Carlos Chagas
Quem abrir a janela, hoje de manhã, verá a mesma luz do sol, se não estiver
chovendo, e a mesma balbúrdia proveniente do trânsito, das crianças indo para a
escola, e das donas de casa apressadas para as compras de sempre.
Numa palavra, nada terá mudado. O gosto da pasta de
dentes, do café e o frio do chuveiro
serão iguais.
Sendo assim, melhor ninguém se entusiasmar com os
editoriais dos jornais ou a euforia dos locutores e comentaristas de rádio e
televisão, a respeito de o Brasil ter amanhecido outro, diferente e promissor, por conta da deposição de Dilma
Rousseff na véspera. Ou por dispormos de um novo presidente, senão cheio de
promessas, ao menos disposto a minorar os efeitos da crise econômica. É verdade que Michel Temer mandou-se para a
China, quando deveria estar se mostrando por aqui, ou melhor, começando a
trabalhar.
Mas é preciso insistir: o país não mudou um milímetro,
exceção de Madame ter sido afastada e seu substituto, assumido, apesar de há
mais de cem dias estar nas telinhas e nas primeiras páginas como interino. Fica
devendo uma apresentação por inteiro, em especial sobre os sacrifícios que
exigirá da população e com quem espera contar para eles.
Itamar Franco, na mesma situação, reuniu os líderes de todos os partidos e disse que renunciaria
caso não dispusesse da boa vontade de todos na busca de soluções para os graves
problemas nacionais. Só o PT saltou de banda, colhendo depois duas derrotas do
Lula para Fernando Henrique. Bem feito, mas a perspectiva, para agora,
parece igual.
Ficam o vazio e a interrogação: como conter o desemprego que ultrapassou doze
milhões de trabalhadores? De que maneira retomar o crescimento econômico
reduzindo conquistas sociais e abrindo maiores espaços para os privilégios das
elites.
Enfim agosto se foi
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