*Sebastião Nery
SALVADOR – Dilma diz que foi derrubada por um golpe do
congresso. Se tivesse o bom hábito de ler os doutores da Igreja saberia que o
pecado foi dela: a soberba. Sem ouvir ninguém, sem ler ninguém, sem conversar
com ninguém, ela empurrou a economia do país para o abismo. E ainda queria
ficar mais 2 anos brincando de casinha de boneca no Palácio do Planalto.
Encontro aqui em Salvador um mestre guardião da pátria: o
doutor em economia, baiano, três vezes deputado federal pelo MDB e PMDB do
Paraná, Hélio Duque, que com sua sabedoria, me mostra que Dilma não foi
empurrada. Ela pulou.
1 – A pobreza do debate público no Brasil não fica
limitada à sociedade. Penetra na política. A proposta do Governo de emenda
constitucional para limitar o crescimento do gasto público vem sendo combatida
pelos que não entendem a importância de uma gestão fiscal responsável. Sem
forte ajuste nas contas públicas, impedindo que as despesas cresçam mais do que
as receitas, torna-se impossível retomar o crescimento econômico. A brutal
recessão que mergulhou a vida nacional na crise tem no descontrole das despesas
sua origem.
2 – O Estado não é gerador de riqueza, mas arrecadador de
tributos para devolver em benefício da sociedade, com investimentos em áreas
essenciais para o desenvolvimento humano e econômico. Responsabilidade fiscal é
um valor que deve ser cultivado pela sociedade, acima de preferencias pessoais
ou ideológicas. O governante deve em primeiro lugar estruturar uma boa
administração econômica. Sem ela o fracasso é garantido. Governos populistas e
corporativistas geram a disfuncionalidade do Estado.
CONGRESSO
3 – Grupos organizados no Congresso ensaiam, através de
emendas incabíveis, torpedear o programa de ajuste e limitação das contas
públicas. Desejam a perpetuação da tragédia econômica e social que pode ser
vista na recessão econômica dos últimos anos: desemprego de 11 milhões de
trabalhadores e um déficit fiscal de mais de 10% do PIB (Produto Interno
Bruto), aumento da relação dívida bruta/PIB de 53% para 70% e déficit acumulado
de mais de 400 bilhões de dólares. E uma taxa de inflação atingindo o poder
aquisitivo dos assalariados, com imensa redução na inclusão social e
distribuição de renda.
4 – A situação real da economia brasileira foi escondida
da população por largo tempo, com a conivência dos partidos políticos que
apoiavam o governo. Lamentavelmente, para muitos homens públicos política
econômica e política social são coisas diferentes. Os populistas e os seus
agregados infantilizados acreditam que a primeira é defensora dos ricos,
poderosos e privilegiados, enquanto a segunda é uma conquista dos pobres e deve
integrar o seu universo existencial. Nada mais falso. Elas estão integradas.
São ligadas umbilicalmente. Os recursos gerados pela política econômica é que
garantem o dinheiro para o investimento em educação, saúde, segurança, nos
programas assistenciais e nos programas sociais. Não existe política social sem
dinheiro, desde tempos imemoriais. Quando faltam recursos, a desigualdade
social aumenta.
5 – Até 2014, a melhoria do padrão de vida de milhões de
brasileiros permitiu que muitos ascendessem à baixa classe média, comprovando
que sem crescimento da economia que gera emprego e salários melhores, é
impossível garantir a ascensão social. A perversa e cruel realidade foi
responsabilidade de um governo que acreditava que os recursos públicos são
infinitos, não aceitando disciplina e responsabilidade na administração do
dinheiro público.
6 – Os parlamentares brasileiros deveriam meditar sobre
essa realidade, empenhando-se na aprovação das reformas sem as quais a crise
econômica se agravará. O economista Mansueto Almeida, do Ministério da Fazenda
sintetizou:
– “Se o Congresso não quiser aprovar a PEC contra o
crescimento do gasto nem reforma da Previdência, não haverá ajuste fiscal.”
E sem ajuste fiscal, o governo terá de se financiar com
juros crescentes, levando à explosão da dívida pública. Seria o descontrole da
inflação e um tiro fatal na retomada do crescimento econômico.
O país esta de olho no Congresso.
*Sebastião Nery é escritor, jornalista e ex-deputado
federal
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