por Daniella Priolli F. E Carvalho
Conhecer, ler, estudar, sentir e viver Jesus
Há uma grande diferença entre conhecer, ler, estudar,
sentir e viver os ensinamentos de Jesus.
Todos nós, cristãos de diferentes denominações, podemos
dizer que conhecemos um pouco daquilo que Jesus nos legou há mais de dois mil
anos. Já ouvimos falar de muitas passagens de sua vida, descrita nos Evangelhos
e conseguiremos, caso interpelados, citar algum acontecimento ou dito das
Sagradas Escrituras. Isso já faz parte da cultura popular. Talvez até alguns
irmãos de outras religiões não cristãs e mesmo alguns materialistas ou
agnósticos1 também tenham conhecimento do assunto.
Quanto a ler, no entanto, ficaremos surpresos com o
escasso número daqueles que, considerando-se cristãos e, consequentemente,
seguidores da doutrina ensinada por Jesus, podem dizer, com sinceridade,
haverem lido, ao menos uma única vez, os quatro evangelhos canônicos.2 Mesmo
entre nós, espíritas, o montante seria diminuto. Quando muito, alguns conhecem
os episódios evangélicos, incluídos por nosso respeitado codificador - Allan
Kardec - na terceira obra do Pentateuco Espírita: O Evangelho segundo o
Espiritismo, lançado em 1864.
Encontramos, pasmem! cristãos que nunca leram os
Evangelhos completos e espíritas que jamais os leram e tampouco O Livro dos
Espíritos na íntegra. Seria algo como um advogado que sequer folheou o Código
Penal de seu país ou um médico que mal abriu um livro de Anatomia. Descendo
para um número mais restrito, vamos encontrar os que estudam os ensinos do
amado Mestre Jesus. Contam-se nos dedos! E quão ricas são essas lições.
Existem, é verdade, pessoas que dedicam encarnações inteiras a esse
conhecimento. São os chamados exegetas.3 Mas, nós também, cristãos, podemos
examinar com profundidade, sem fazer disso uma quase profissão. Há várias
maneiras de fazermos boa imersão nos textos evangélicos: leitura/reflexão;
pesquisa de contexto histórico (muito importante para entendermos as analogias,
costumes da época); estudo “miudinho”, analisando com profundidade cada palavra
no contexto geral, apoiado nas obras espíritas complementares (Coleção Fonte
viva, de Emmanuel; livros de Irmão X e Amélia Rodrigues4 - os chamados
historiadores espirituais -, na psicografia de Chico Xavier e Divaldo P.
Franco, entre outros). Com razão diz-se que “a Doutrina Espírita é a chave para
entender Jesus”. Mas, temos tempo para isso? Não somos sempre tão ocupados,
distraídos; não estaremos dormindo? Lembremos, então, as palavras de alerta
proferidas pelo próprio Mestre amado, em seu sermão profético, ao se referir ao
tempo de vigilância:
[...] Portanto, vigiai, pois não sabeis quando vem o
senhor da casa [...]; ao vir repentinamente, não vos encontre dormindo. O que
vos digo, digo a todos: Vigiai!(Marcos, 13:35 a 37.)5
Mas essas, só quando lemos e estudamos é que as
conhecemos.
Quando estudamos, nos instruímos; ou melhor, segundo a
etimologia latina, “construímos dentro”. Construímos informações, valores
morais, novas regras de conduta e novos hábitos também. Ao assimilar os ensinos
de Jesus, edificamos valores novos sobre a rocha, alicerces sólidos, cujos
ensinos constam em Mateus (7:24 a 27) e em Lucas (6:46 a 49) com o título Três
advertências. Tudo isso é de vital importância ao nosso aprimoramento moral, à
nossa evolução.
No entanto, nada mais fácil! Puro trabalho braçal, isto
é, mental. Requer dedicação, boa vontade e disposição, é claro; direi mesmo,
leitor, que essa é a parte mais simples da aquisição de valores espirituais.
O difícil é sentir Jesus! Mas... você perguntaria, o que
é sentir Jesus? Sentir é quando toda a sua mensagem faz sentido dentro de nós,
na nossa consciência. Quando entendemos seus ensinamentos como verdades
imutáveis, como expressões das leis de Deus; quando não encaramos mais os seus
postulados como inacessíveis; quando compreendermos que podemos nos esforçar
para praticá-los e que não há regeneração possível sem o seguirmos. Sentir é
ter a certeza de que Ele é o Caminho que nos conduzirá a Deus e à perfeição, ao
domínio de nossas dificuldades espirituais. Caminho que consiste em seguir seus
passos, tentar pensar como Ele, tentar fazer o que Ele faria em nosso lugar.
Sentir Jesus é ter a certeza de que Ele está no comando, como preposto de Deus,
governador espiritual do nosso planeta; que é o Irmão maior, que nos tutela e
nos ama incondicionalmente. Esse momento é muito pessoal, individual.
Representa um divisor de águas nas nossas vidas como Espíritos imortais. Muitos
de nós demoramos quase dois mil anos para atingir esse estágio; outros nem conseguiram
ainda, mas todos, sem exceção chegaremos lá.
É o verdadeiro Natal nas nossas vidas, na acepção real da
palavra. Representa o nascimento de Jesus nos nossos corações. Que emoção, que
maravilha! Esse momento sublime, de quando começamos a sentir e amar Jesus,
nunca se apagará de nossa memória imortal. Porém, para chegarmos a este
estágio, precisamos vencer outras etapas: conhecer o Mestre, ler sobre seus
ensinamentos e estudá-los para entender e sentir sua presença viva dentro de
nós.
E, por fim, quando estivermos amadurecidos
espiritualmente, nos habilitaremos a viver a sua mensagem em plenitude;
agiremos cada vez mais conforme os exemplos que Ele vivenciou no período do
messianato terreno. Estaremos educados com Jesus. Pois educação é o que exteriorizamos;
o que mostramos de nós, da nossa essência; o que colocamos para fora; mostramos
“do que está cheio o nosso coração”6(Mateus, 12:34; Lucas, 6:45).
Com Jesus conhecemos a verdade que liberta. E a verdade,
conta-nos o Espírito Amélia Rodrigues, conforme Jesus nos fala, é
[...] o conhecimento de si mesmo, a autoafirmação no Bem,
a transformação pessoal para melhor, com incessante esforço de superação das
imperfeições, a busca da vida eterna, a saúde integral.7
E isso tudo, meus amigos, só é verdadeiramente possível
quando vivenciamos Jesus. Quando, em vez de lermos os Evangelhos, eles são
lidos em nossas atitudes. Só acontecerá dentro de nós quando, a exemplo de
Paulo de Tarso, o magnífico apóstolo difusor do Evangelho do Mestre amado,
pudermos dizer do fundo de nossos corações:
Eu vivo, mas, já não sou eu quem vive, é Cristo que vive
em mim. (Galátas, 2:20.)
******
1No sentido religioso, agnóstico é aquele que não
acredita na existência de Deus, por se encontrar num patamar racionalmente inacessível.
2Os Evangelhos de Marcos, Mateus, Lucas(os três sinóticos
- que contêm muitas partes em comum), e o de João compõem o cânone (ou régua)
do Novo Testamento.
3Aquele que faz exegese; que faz a inter pretação
profunda de um texto bíblico, jurídico ou literário.
4Educadora, escritora e poetisa baiana (1861-1926), que
tem escrito livros com temas evangélico-doutrinários espíritas pela psicografia
de Divaldo Pereira Franco.
5DIAS, Haroldo D. (Trad.) O novo testamento.Brasília:
Edicei, 2010. p. 227.
6“E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.”
(João, 8:32.)
7FRANCO, Divaldo P. Pelos caminhos de Jesus. Pelo
Espírito Amélia Rodrigues. 7. ed. Salvador: Ed. Leal. cap. 2, p. 24.
Reformador, de fevereiro de 2013
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