O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tornou-se réu
pela quinta vez esta segunda (19), a quarta em processos relacionados à
Operação Lava Jato, depois que o juiz federal Sérgio Moro aceitou a denúncia do
MPF (Ministério Público Federal) feita na quinta (15). Lula também é réu em
outros dois processos na Lava Jato, além de outro decorrente da operação Janus
(um desdobramento da Lava Jato) e mais um na operação Zelotes.
O MPF denunciou o ex-presidente pelos crimes de corrupção
passiva e de lavagem de dinheiro por contratos firmados entre a Petrobras e a
construtora Norberto Odebrecht S/A. O ex-presidente foi apontado como o
"responsável por comandar uma sofisticada estrutura ilícita para captação
de apoio parlamentar, assentada na distribuição de cargos públicos na
administração federal". O ex-presidente afirma que "nunca solicitou
vantagens indevidas e sempre agiu dentro da lei" (veja a defesa completa
abaixo).
Também viraram réus nesta ação o empresário Marcelo
Odebrecht, acusado da prática dos crimes de corrupção ativa e lavagem de
dinheiro; o ex-ministro Antonio Palocci e seu ex-assessor Branislav Kontic,
denunciados pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro; e Paulo
Melo, Demerval Gusmão, Glaucos da Costamarques, Roberto Teixeira e a
ex-primeira-dama Marisa Letícia Lula da Silva, acusados da prática do crime de
lavagem de dinheiro.
Compra de imóveis
Na última segunda-feira (12), a PF (Polícia Federal)
indiciou Lula, Marisa, Palocci, Gumão, Kontic, Teixeira e Costamarques com base
em dois inquéritos: um sobre a frustrada negociação de compra de um terreno em
São Paulo para o Instituto Lula e outro sobre a compra de um apartamento em
frente ao que o ex-presidente mora, em São Bernardo do Campo (SP). No despacho
desta segunda, Moro decretou o sequestro do imóvel vizinho ao apartamento do
Lula, "diante dos indícios de que foi adquirido com proventos do
crime".
A compra do imóvel que seria usado como sede do Instituto
Lula foi realizada em nome da DAG Construtora Ltda., empresa de Demerval
Gusmão. No entanto, a transação foi feita com recursos originados da Odebrecht.
A transação contou com auxílio de Glaucos da Costamarques, parente de José
Carlos Bumlai, sob a orientação de Roberto Teixeira --amigo de Lula e advogado
do ex-presidente--, que atuou como operador da lavagem de dinheiro, diz a
força-tarefa da Lava Jato.
A denúncia aponta que parte das propinas destinadas a
Costamarques foi repassada para o ex-presidente na forma da aquisição da
cobertura contígua à sua residência em São Bernardo de Campo (SP). "De
fato, R$ 504 mil foram usados para comprar o apartamento vizinho à cobertura do
ex-presidente". Costamarques, segundo o MPF, teria atuado como testa de
ferro, já que o imóvel foi adquirido em seu nome.
A procuradoria aponta que a mulher do ex-presidente,
Marisa Letícia, assinou um contrato fictício de locação com Costamarques em
fevereiro de 2011. "Mas as investigações concluíram que nunca houve o
pagamento do aluguel até pelo menos novembro de 2015", diz o MPF, que viu
a ação como uma tentativa real de dissimular a real propriedade do apartamento.
Executivo da Odebrecht Realizações Imobiliárias, Paulo
Ricardo Baqueiro de Melo é citado em decisão de Moro na 35ª fase da Lava Jato,
na qual foi preso o ex-ministro Antônio Palocci. Segundo o texto, José Carlos
Bumlai apontou Melo, em depoimento à polícia, como um interlocutor "de
questões relacionadas à implementação do Instituto Lula, inclusive compra do
terreno".
Segundo a denúncia, R$ 75,4 milhões foram repassados a
partidos e políticos que davam sustentação ao governo de Lula, especialmente o
PT, o PP e o PMDB, "bem como aos agentes públicos da Petrobras envolvidos
no esquema e aos responsáveis pela distribuição das vantagens ilícitas, em
operações de lavagem de dinheiro que tinham como objetivo dissimular a origem
criminosa do dinheiro". Esse valor é o equivalente a percentuais de 2% a
3% dos oito contratos celebrados entre a Petrobras e a Odebrecht.
Lula: Lava Jato virou 'perseguição'
Em nota publicada na página de Lula no Facebook, o
Instituto Lula afirma o ex-presidente "nunca solicitou vantagens indevidas
e sempre agiu dentro da lei antes, durante e depois da presidência da
República." O instituto acusa a Lava Jato de ter se tornado "uma
perseguição ao ex-presidente Lula, aceitando ações capengas e sem provas sobre
um apartamento que o ex-presidente aluga e um terreno que jamais foi pedido ou
usado pelo Instituto Lula para justificar uma perseguição política que tem como
objetivo impedir que Lula seja candidato em 2018". Ainda de acordo com o
comunicado, o instituto "nunca teve outra sede a não ser o sobrado onde
funciona até hoje, adquirido em 1990 pelo Instituto de Pesquisas e Estudos do
Trabalhador (IPET)", sempre recebendo
doações legais, declaradas e dentro da lei."
Já o advogado Cristiano Zanin Martins, que defende Lula e
sua esposa, disse em nota que o casal jamais foi beneficiado "por qualquer
dos dois imóveis indicados na denúncia e muito menos receberam qualquer
vantagem indevida proveniente de contratos firmados pela Petrobras. E o
advogado Roberto Teixeira agiu sempre dentro do estrito dever profissional e
com a observância de todos os deveres éticos inerentes à profissão."
Segundo Martins, a decisão de Moro mostra que "agentes do Estado, sem
qualquer isenção, usam processos judiciais para perseguir Lula, seus familiares
e advogados", com "ânsia desmesurada e crescente de prover acusações
a Lula em tempo recorde."
No começo da tarde, o UOL entrou em contato com os
escritórios de José Roberto Batochio, advogado de Antônio Palocci e Branislav
Kontic; e de Lourival Vieira, defensor de Demerval Gusmão; além da assessoria
de imprensa da Odebrecht Realizações Imobiliárias. Até o horário da última
atualização deste texto, nenhum deles havia se posicionado sobre a decisão de
Moro. Os advogados de Glauco da Costamarques e Paulo Melo não foram encontrados
pela reportagem.
No escritório de Nabor Bulhões, advogado que defende
Marcelo Odebrecht, ninguém atendeu as ligações do UOL. A Odebrecht informou que
não se manifestaria sobre o tema, mas reafirmou que colabora com a Justiça.
"A empresa está implantando as melhores práticas de compliance, baseadas
na ética, transparência e integridade", disse em comunicado.
Entenda as acusações anteriores
Lula já era réu em outros quatro processos, sendo dois
deles no âmbito da Operação Lava Jato. No primeiro, o ex-presidente responde
por tentativa de obstrução das investigações para evitar a colaboração premiada
do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró. No segundo, é acusado de corrupção
passiva e lavagem de dinheiro, supostamente tendo recebido vantagens indevidas
na construção e reforma de um tríplex no Guarujá (SP) e no pagamento do
armazenamento do acervo pessoal do ex-presidente, ambas custeadas pela
construtora OAS, numa soma de R$ 3,8 milhões.
O terceiro processo diz respeito à operação Janus, um
desdobramento da Lava Jato. A Justiça aceitou denúncia acusando Lula dos crimes
de corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro, tráfico de influência e
organização criminosa.
No quarto, correspondente à Operação Zelotes, Lula é réu
pelos crimes de tráfico de influência, lavagem de dinheiro e organização
criminosa. A denúncia do MPF apontou a atuação de Lula para interferir na
compra de 36 caças do modelo Gripen pelo governo brasileiro e na prorrogação de
incentivos fiscais destinados a montadoras de veículos por meio da Medida
Provisória 627. (Com Estadão Conteúdo)
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