Marcus Vinicius de Azevedo Braga
Tiroteio na comunidade carente. Mandamos a polícia,
carros blindados, armas.
Tampamos a panela de pressão.
Brigas em casa, discussões. Cada um fica em um quarto e
sem se falar, convivem friamente.
Tampamos a panela de pressão.
Deprimido, triste, a namorada o abandonou e mergulha nos
remédios de “tarja preta”, na automedicação que busca a paz química.
Tampamos a panela de pressão.
Tampamos diariamente, à luz dos problemas, as panelas de
pressão de nossas vidas. Cortamos a aparição do efeito e jogamos as
contradições para dentro, fugindo do âmago dos problemas, o cerne das questões.
Ocultamos e não tratamos, esperando o dia que esses efeitos se tornem
incontroláveis, no famoso caldo que entorna.
Deixamos na conta do tempo, na esperança de que tudo
passará. Mantemos os conflitos, os atritos e nos postamos contritos, como
meteoritos a vagar sem rumo, fugindo de novos impactos, pelos quais nos vemos
atraídos novamente, pela irresistível força da gravidade.
A postura de colocar a “tampa na panela” é um paliativo,
utilizado por todos nós, a mancheias, mas que pouco contribui com a edificação
do homem de bem. O Evangelho Segundo o Espiritismo, no seu Capítulo V, já
tratava desse assunto, quando diz que: “(...) Essas aflições são, ao mesmo
tempo, expiações do passado, que nos castigam, e provas que nos preparam para o
futuro. Rendamos graças a Deus que, em sua bondade, dá ao homem a oportunidade
da reparação e não o condena irremediavelmente pela primeira falta”.
Ou seja, a oportunidade de reparação é uma benção que não
pode ser desperdiçada. Mas, essa reparação se dá, em um nível mais profundo,
quando avançamos sobre as questões centrais, nas causas de nossas aflições.
Munidos das ferramentas do diálogo, da paciência, do perdão e da indulgência,
um arsenal do amor, podemos, de forma gradual, ir abrindo essa vaporosa panela,
para tentar equilibrar a temperatura.
Ao invés da resolução dos conflitos pela acomodação ou
pela negação, empurrando para o futuro, recordemos que a hora é agora, nessa
encarnação, de crescermos e avançarmos. Emmanuel, na psicografia de Chico
Xavier, na obra Fonte Viva, indica no texto “Eia agora”, que “(...) Agora é o
momento decisivo para fazer o bem. Amanhã, provavelmente... O amigo terá
desaparecido. A dificuldade estará maior. A moléstia terá ficado mais grave”.
Depois, amargaremos o sabor da oportunidade perdida, e teremos que reiniciar,
talvez em uma situação nem tão privilegiada como a presente, ainda que não
enxerguemos essas situações promissoras.
Fato, também, que por vezes não damos conta das questões
e somente nos restam as soluções paliativas. Mas, isso não inibe a nossa
necessidade de saber das nossas fraquezas e que teremos que, em algum momento,
retornar aquele ponto. Tal é a Lei.
Coragem para enfrentar os problemas, em um nível
profundo... Coragem para resistir à tentação de contornar o problema, deixando
sua resolução para outro momento. Essa postura que diferenciará nosso avanço na
presente encarnação, como indivíduo ou coletividade. As pressões nos intimidam,
mas o calor do momento pode ser equilibrado com o diálogo fraterno e a
persistência que faz aquela água fervente retornar ao seu estado natural.
Peçamos a Deus essa coragem, diante dos múltiplos
desafios de nossa encarnação, para que possamos, de cabeça erguida, enxergar
cada desafio como uma luta a vencer na linha do bom combate e não um dragão que
tenhamos que nos esconder, rezando que ele vá embora.
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