Dom José Alberto Moura
Arcebispo Metropolitano de Montes Claros
Parece um contrassenso a chamada Teologia da Prosperidade
comparada com a preferência de Deus pelos pobres. De fato, a primeira promove a
riqueza e o bem estar como finalidade de todo o trabalho humano e da própria
vida terrena. Entra de cheio na mentalidade e na prática do consumismo
materialista. Nela o dízimo tem o enfoque de dar a Deus para Ele fazer a
barganha e retribuir o ser humano, como se Ele precisasse de algo humano.
Na manifestação de amor pelos mais frágeis Deus manda seu
Filho, nascido pobre e vivendo assim, desapegado de tudo, mostrando que a vida
tem o sentido absoluto e de riqueza plena em Deus. Paulo fala da quênose ou do
esvaziamento do próprio egoísmo e das coisas materiais para se colocar dentro
de si a maior riqueza, que é Deus. Mais: “Deus escolheu o que no mundo é sem importância e desprezado, o
que não tem nenhuma serventia, para assim mostrar a inutilidade do que é
considerado importante” (1 Coríntios 1, 28). Quem coloca Deus como finalidade
de vida, usa do que é material, cultural e espiritual para servir a quem não é
servido.
Jesus fala das bem aventuranças, destacando, em primeiro
lugar, os pobres em espírito (Cf. Mateus 5,3), ou seja, felizes são os que
colocam na vida a base de sustentação da verdadeira riqueza, que é Deus. O que
é material e transitório não pode ser colocado como finalidade de vida.
Até a vida de mais simplicidade e de não
muitas exigências na ordem material e de conforto deve ser buscado. A moderação
não faz mal a ninguém. O supérfluo e exagerado, ou até o não estritamente
necessário devem ser colocados a serviço dos mais carentes. Hoje temos, no
Brasil e no mundo, um número bem pequeno de pessoas que detêm cerca de 50% de
toda a riqueza de ambos. Até os impostos são pagos mais pelos assalariados,
proporcionalmente, do que pelos que detêm fortunas.
A pobreza material é caracteriza pela falta ou o ganho do
necessário para se viver dignamente. Há ricos material e ou intelectualmente
que assumem a preferência evangélica pela defesa da causa dos pobres. Eles se
juntam aos pobres social e materialmente falando, para defender sua promoção e
dignidade. Hoje, mais do que nunca, precisamos promover os preferidos de Deus
para sermos como o alongamento da pessoa e do Evangelho de Jesus, implantando
mais na sociedade, o sentido e a prática dos bem aventurados, os pobres em
espírito.
O profeta Sofonias lembra o valor dos pobres: “E deixarei
entre vós um punhado de homens humildes e pobres. E no nome do Senhor porá sua
esperança no resto de Israel” (Sofonias 2, 12.13). Os pobres, de fato, colocam
sua esperança em Deus. A riqueza material e os outros tipos de riqueza são
bons, mas quando usados responsavelmente para se fazer o bem, sendo-se
solidário com a justiça e a promoção da dignidade humana. Então, se participa
da pobreza em espírito, por se colocar a lei de Deus em prática. Deus quer a vida terrena digna para todos.
Por isso, é preciso viver-se a pobreza
evangélica de quem coloca em prática a justiça e a solidariedade, com uma vida
simples e desapegada.
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