RIO – Um terço da população não é capaz de ler e compreender um texto mais elaborado. Segundo o Inaf (Indicador
Nacional de
Alfabetismo Funcional), em pesquisa nacional, só 26% do povo brasileiro é
plenamente alfabetizado. Mesmo entre os com curso superior, encontram dificuldades
de entender nas suas mais diversas áreas do conhecimento, em setores
profissionais fundamentais para o desenvolvimento. E o mais dramático é que o
Brasil investe em educação o equivalente aos países mais desenvolvidos. A
grande vítima dessa realidade é a própria população. Há anos a OAB (Ordem dos
Advogados do Brasil) vem realizando exames para os bacharéis saídos das
Faculdades de Direito. A cada ano aumenta o número de reprovados para obtenção
da carteira de advogado: 8 de cada 10 não alcançam o nível de conhecimento
jurídico para se filiar ao órgão. É um número espantoso que atinge as centenas
de milhares de saídos dos cursos de Direito, ao longo das últimas décadas.
Agora, o Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado
de São Paulo) diz que 56% dos médicos formados nas 46 escolas de medicina em
atividade no Estado entram no mercado de trabalho sem conhecimentos básicos:
80% não sabem interpretar uma radiografia e 70% não conseguiram diagnosticar um
paciente com crise hipertensiva, doença que atinge o quase cotidiano de 25% da
população brasileira. O conselho médico de SP, ao divulgar os resultados dos
exames realizados em 2016, constatou que dos 2.766 inscritos, somente 43,6%
atingiram a pontuação que os habilita para o pleno exercício profissional.
O médico Bráulio Luna Filho, diretor do Cremesp e
coordenador dos exames, que vem realizando desde 2005, constatou:
-“Com exceção do exame de 2015, nos últimos dez anos o
índice de reprovação ficou acima de 50%. É preciso que as escolas médicas promovam
melhorias nos métodos de ensino e imprimam mais rigor em seus sistemas de
avaliação”.
Infelizmente as provas e o caótico resultado não impedem
os futuros médicos do exercício profissional. Somente para o programa de
residência médica, instituições como a USP, Unicamp, Unifesp e Santa Casa desde
2015 passaram a exigir aprovação nos exames do Cremesp, para ingresso.
A “Folha de S.Paulo” publicou em 9 de fevereiro deste ano
assustadora matéria da competente jornalista Claudia Collucci, mostrando as
áreas problemáticas: “As médias mais baixas foram em saúde
pública/epidemiologia (49,1%); pediatria (53,3%); e obstetrícia (54,7%);- 71%
dos recém-formados não acertaram diagnóstico e tratamento para hipoglicemia de
recém-nascido, problema comum nos bebês”.
– “As escolas médicas privadas continuam com pior
desempenho em relação às públicas (33,7% contra 62,2%) de aprovação, Em ambas
houve aumento de reprovação em relação a 2015. Entre as públicas de 26% para
38%. Entre os cursos privados, de 59% para 66%.” Sendo a saúde ,
como dizia o saudoso medico e prefeito de Londrina, Dalton Paranaguá, a suprema
lei, o resultado oficializado pelo Cremesp, no Estado mais desenvolvido do
País, é devastador. Se na paulicéia onde, indiscutivelmente, o padrão da
medicina hospitalar está anos à frente da totalidade dos Estados brasileiros,
imaginem o que pode estar ocorrendo em outras unidades federativas.
A saúde está doente e não é só nas filas dos hospitais.
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