Laura Gelbert Delgado, da ONU News em Nova Iorque.
O Conselho de Segurança das Nações Unidas realizou nesta
quarta-feira uma reunião de emergência sobre a Síria. O alto representante da
ONU para assuntos sobre desarmamento, Kim Won-soo, falou ao órgão sobre o
suposto ataque com armas químicas ocorrido em Khan Shaykhun, no sul da zona rural
de Idlib.
Segundo Kim Won-soo, se confirmado, este será o maior
ataque com armas químicas na Síria desde a ação na região de Goutha, em agosto
de 2013. Ele afirmou estar em contato com o chefe da Organização para a
Proibição de Armas Químicas, Opac, que está coletando informações.
Sufocamento
A Organização Mundial da Saúde, OMS, relatou que pelo
menos 70 pessoas teriam morrido e centenas teriam sido afetadas pelo ataque em
Khan Shaykhun.
Médicos em Idlib informaram que dezenas de pacientes com
dificuldades de respirar e sintomas de sufocamento chegaram a hospitais da
província precisando de atenção médica urgente, muitos deles mulheres e
crianças.
Segundo a OMS, a probabilidade de exposição a um ataque
químico é ampliada pela aparente falta de ferimentos externos relatada em casos
que mostra rápido.
Outros casos parecem mostrar sinais adicionais
consistentes com a exposição a uma categoria de químicos que inclui agentes que
atuam no sistema nervoso.
Vetos
Em fevereiro, o Conselho de Segurança da ONU vetou um
projeto de resolução que determinava sanções contra a Síria pelo uso e produção
de armas químicas.
Os vetos vieram de Rússia e China, que como membros
permanentes do Conselho, têm poder para derrubar o documento. Além deles, a
Bolívia também votou contra a resolução.
"Mensagem clara"
Na reunião desta quarta-feira, o embaixador britânico
junto às Nações Unidas, Matthew Rycroft, afirmou que, naquele dia, o Conselho
poderia ter enviado uma "mensagem clara" de que "haveria
consequências para o uso destas armas terríveis e para violação de lei
internacional".
Ele defendeu este teria sido um sinal de que há
"união global e do Conselho de Segurança" em relação a qualquer uso
destas armas. No entanto, segundo o embaixador britânico, após os vetos, parece
que a única mensagem enviada ao presidente sírio, Bashar Al Assad, foi uma de
"encorajamento".
Julgamento da História
Para Rycroft, as consequências desses vetos puderam ser
vistas na terça-feira nos rostos das crianças de Khan Shaykhun mortas
potencialmente, segundo ele, "por um regime que não vai parar em nada para
segurar o poder".
Segundo o embaixador britânico, a história vai julgar a
todos sobre como respondem a estas "inesquecíveis e imperdoáveis imagens
dos inocentes que já haviam sofrido tanto mesmo antes" do ataque desta
terça-feira.
"Regime bárbaro"
Para a representante permanente dos Estados Unidos junto
à ONU, e presidente do Conselho de Segurança no mês de abril, o órgão não pode
"fechar os olhos para as imagens nem a mente para sua responsabilidade de
agir".
Nikki Hayley afirmou que ainda não se sabe tudo sobre o
ataque de terça-feira, mas declarou que muitas coisas já se sabe.
Segundo a embaixadora americana o ataque de terça-feira
foi um "novo ponto baixo mesmo para o que ela chamou de regime bárbaro de
Assad"
Para Nikki Hayley, a ação tem "todas as marcas do
uso de armas químicas pelo regime de Assad" e que estas já haviam sido
usadas anteriormente pelo governo contra a população síria, citando a
confirmação pela equipe independente de investigadores do Conselho.
"Falsas acusações"
O representante da Síria, Mounzer Mounzer, rejeitou o que
chamou de "falsas acusações" sobre o uso de substâncias químicas
tóxicas contra civis em Khan Shaykhun.
Segundo o representante do país, estes são usados como
"escudos humanos por grupos terroristas armados". Mounzer também declarou que a Síria reafirma
que o exército do país "tem nenhum tipo de armas químicas, nunca as usou e
nunca as usará".
Rússia
Para o vice-representante da Rússia na ONU, Vladimir
Safronkov, está "claro para o país que o terrorismo químico está
crescendo" e deve ser combatido de forma decisiva.
Safronkov ressaltou o que chamou de tentativas do país
nos últimos três anos para que o Conselho de Segurança reagisse aos crimes de
"terroristas" que estariam usando armas químicas de forma cada vez
mais frequente, não teriam sido bem sucedidas devido à oposição de países
ocidentais.
Às margens da Conferência Internacional de Apoio à Síria,
em Bruxelas, o secretário-geral da ONU, António Guterres, mencionou a reunião
de emergência do Conselho de
Segurança.
Após ter sido questionado por uma jornalista se o órgão
estaria a ser testado, Guterres afirmou que este é o momento da verdade e que
espera que o encontro possa mobilizar a capacidade de todos os que tenham
responsabilidade nesta situação.
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