Esquadrinhar a origem do universo ou provar a existência dos buracos negros são duas das tarefas às quais o Grande Telescópio Milimétrico (GTM) do México, o maior de seu tipo no mundo, dedicará seu tempo em 2018, ao completar 20 anos de trabalhos.
Uma gigante antena parabólica de 50 metros de diâmetro
define a silhueta do topo da Sierra Negra, no estado de Puebla, no centro do
México, um vulcão extinto de 4.600 metros de altura, onde as temperaturas
rondam habitualmente zero graus centígrados.
"É o maior telescópio do mundo do seu tipo. Não
há outro telescópio milimétrico deste diâmetro, a maioria tem entre 10 e 15
metros, e há alguns com 35 metros. É uma infraestrutura única", disse o
diretor e pesquisador principal do GTM Alfonso Serrano, David Hughes.
Este gigante observa a radiação eletromagnética milimétrica
das fontes astronômicas, inclusive alguns sinais muito frágeis, dos objetos
mais frios que viajam pelo espaço.
Ele não só observa longas distâncias, como um telescópio
convencional, mas analisa a matéria originária para estudar "toda a
história do universo", especificou Hughes.
Graças aos telescópios milimétricos é possível estudar a
formação e a evolução da estrutura do cosmos desde seu surgimento, no Big Bang,
há 13,7 bilhões de anos.
O GTM começou a funcionar em 2011 e realizou suas primeiras
pesquisas em 2014.
Em 2017 uma equipe de pesquisadores publicou um artigo na
revista "Nature Astronomy" sobre a observação de uma das primeiras
galáxias em massa que se formou, há 12,8 bilhões de anos.
"Ele conseguiu detectar uma galáxia no universo muito
distante. Quando ele tinha um sétimo da dimensão que tem hoje", detalhou o
especialista, que explicou que esta galáxia estava "escurecida nas
frequências óticas, mas muito luminosa em frequências milimétricas, por causa
da presença de gás molecular e pólvora".
A importância desta descoberta, acrescentou Hughes, não é
só pela juventude deste objeto astronômico, que permitirá entender "a
química de milhares de milhões de anos do universo", mas também porque
guarda uma "conexão", uma semelhança, com objetos que podemos
detectar no universo local.
Tudo isto foi possível quando o diâmetro do telescópio era
de 32 metros, e a ampliação a 50 pode multiplicar os resultados, inclusive
viajando para trás no tempo.
Sempre de maneira milimétrica - analisando radiações que chegam
à Terra, pois a galáxia em questão possivelmente já desapareceu.
Apesar de sua liderança mundial, este projeto - uma
parceria entre México e Estados Unidos, que conta com a estreita colaboração da
Universidade Massachusetts Amherst - faz parte de uma rede de telescópios que
trabalha desde o ano passado em um exercício que pode revolucionar a ciência:
comprovar a existência dos buracos negros, que foi matematicamente estabelecida
por Albert Einstein na famosa Teoria Geral da Relatividade em 1915.
"Estes objetos são relativamente pequenos na escala do
universo e precisamos de telescópios enormes para medir e detectar a sombra de
um buraco negro", explicou Hughes.
Mas, no centro da nossa galáxia, a Via Láctea, há fortes
indícios de um buraco negro com uma massa equivalente a seis milhões de vezes a
do nosso Sol.
Com o estudo simultâneo de nove telescópios milimétricos
distribuídos pelo mundo - da Antártida ao México, da Espanha ao Havaí - que
apontam para o centro da galáxia e depois analisam o conjunto dos dados durante
vários dias, seria possível obter resultados únicos.
"Estamos no processo de analisar os dados para
produzir, pela primeira vez, uma foto, uma imagem, que possa provar a
existência de um buraco negro. Seria uma sombra, uma região escura, e ao redor
a luz e a radiação milimétrica", detalhou Hughes.
Com estas perspectivas, 2018 pode marcar um antes e um
depois na astronomia, com a implementação de 100% do telescópio, um sonho do
cientista mexicano Alfonso Serrano, que morreu em 2011.
A fase de construção do telescópio, muito complexa pela
orografia e pelos custos, envolveu 120 pessoas.
O projeto custou US$ 200 milhões, 70% custeado pelo México
através do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia (Conacyt).
Finalizada a construção deste telescópio de vanguarda,
agora é vez da pesquisa e da instrumentalização científica.
Martí Quintana.
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