(Artigo publicado primeiramente no Jornal O TEMPO de BH)
Boa pergunta. As contas do governo de Minas Gerais indicam para
2018 um déficit anual de R$ 6,3 bilhões, o mais negativo entre os registrados
em todos os Estados da Federação. Não parou aí. Os últimos dados levam para um
resultado ainda pior, R$ 8 bilhões. Isso apesar de termos as maiores alíquotas
de ICMS do Brasil sobre energia, combustíveis e qualquer outro item que se
possa lembrar. Ou seja, passamos do limite de tributar, e nem por isso demos
conta de regular as contas públicas.
Já que o ano é de eleição para governador, e o futuro
preocupa o cidadão, seria interessante esclarecer-se, antes que a campanha
eleitoral fosse intoxicada pela demonização dos adversários, quais as causas e
as origens da desgraça.
Então, seja quem for o próximo governador, precisa
comprometer-se com as propostas de reparar erros anteriores (que foram muitos e
graves) e dar rumos novos. Já que temos ex-governadores no páreo, deveriam se
penitenciar pelos erros, pelas omissões em seus mandatos; assim passarão a ter
mais credibilidade.
Repetir a dose seria imperdoável.
Minas não tem mais décadas para desperdiçar empobrecendo
seu povo. Sua elite política e empresarial, desculpem-me os senhores, está mais
para leviana que para séria. Ganhar, ganhar fácil, pegar carona em privilégios
e se locupletar nos cofres públicos: isso adoeceu o sistema linfático do
Estado, e ainda estamos gestando novas gerações que serão problemáticas.
A passividade fez perder o protagonismo de Minas,
esquecer-se do exemplo de um JK. Os 40 anos em quatro? Em seis anos Minas
encolheu 20%.
É preciso inovar, desfazer-se de equipes destituídas de
respeito, algumas notadamente inconfiáveis e fracassadas. É preciso responder
ao eleitor. Neste ano terá uma campanha dura, e ainda pior poderá ser o
exercício de um governo alcançado com compromissos espúrios.
Não acredito que encontrarão na campanha momentos fáceis,
ou que poderão os candidatos usar suas siglas partidárias, seus padrinhos de
sempre para angariar simpatias. Fantasmas sairão dos armários, e os esqueletos
sairão dos túmulos para assombrá-los.
Minas não precisa de outro choque de gestão, que fez do
Estado uma Disneylândia da burocracia, dos privilégios, e terreno fértil para
corruptos. O choque colocou nas gavetas 30 mil pedidos de instalação de
atividades econômicas, colocou no congelador milhões de empregos e bilhões em
receitas públicas. A crise em Minas está aí, na falta de visão, de decisão e
até de moral para diferenciar o certo e o errado, abrindo a porta para fraudes,
como a de Mariana, e travar pequenos e médios empreendimentos corretos.
Um BDMG que nos três vales da pobreza de Minas investiu
menos de 1% de seus recursos. Essas são questões gravíssimas, que podem se
repetir e violentar o Estado com desequilíbrios, migrações em massa. Temos as
regiões mais pobres com um PIB per capita cinco vezes inferior ao da outra.
Não existe certamente um único culpado, mas um ambiente
poluído de espertezas e de irresponsabilidades generalizadas.
Os males são evidentes, a pior fratura nas contas públicas,
segundo o Ipea: “A despesa com previdência passou de 24,7% da receita líquida
em 2010, para 28,9% em 2014 e para 36,1% em 2016, superando por um décimo o Rio
Grande do Sul, que sempre ocupava a primeira posição”. Comprometeu-se assim
mais 11,4% das receitas, em seis anos, uma overdose mortal, não determinada no
atual governo, mas no escalonamento de acertos sancionados a partir de 2009.
Pesa também o crescimento econômico negativo,
constantemente travado pela burocracia do choque de burocratização que anulou a
previsibilidade do planejamento. Minas encolheu de 2013 a 2016 assombrosamente.
Perdeu 20% de seu PIB, enquanto Santa Catarina, apesar da crise nacional,
marcou crescimento no mesmo período. Exatamente porque as políticas e decisões
no âmbito do Estado podem fazer grande diferença. E Santa Catarina é o Estado
mais ágil e acolhedor das atividades que geram emprego e renda. Um Estado que
não escancarou suas estatais a empreiteiras da Lava Jato.
A campanha já começou mal, reeditando os acordos malucos de
bastidores, esquecendo as propostas e programas. Como sempre, o poder pelo
poder. O dejá-vu dos acertos com partilhas nefastas. Que dor!
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