Edson Vidigal
(15.08.18)
Um azul celeste deixando escapar pequenas nuvens brancas é
o cenário próprio ao hino de amor à vida que as torres multicoloridas da
Catedral de S. Basílio, como que flutuando sobre a Praça Vermelha atiçam a
força da fé calibrando uma certeza – ainda vale a pena confiar na humanidade.
Encantados com a frase tirada por Lênin de um escrito de
Marx – a religião é o ópio do povo, os bolcheviques, novos donos do poder na
Rússia, transformaram a extinção da fé do povo em política de Estado.
Destruir igrejas, sinagogas, mesquitas, enfim qualquer
espaço onde as pessoas se reunissem em profissão de fé, passou a ser programa
de Governo. Religião, não mais.
O ativismo ateísta, armado pela propaganda, tornaria as
pessoas mais vulneráveis ao catecismo do novo credo – a ditadura do
proletariado. Assim, a classe operária por inteiro alcançaria logo o paraíso.
Lênin, codinome que Vladimir Ilych Ulyanov adotou em homenagem
ao Rio Lena, na Sibéria, onde cumpriu pena por dois anos, acusado de
conspiração, era fluente em alemão, inglês, francês. Formado em Direito,
interessava-se também por economia.
Das teorias de Marx e Engels, Lênin fez um ensopado
misturando socialismo com ingredientes da economia de mercado capitalista
achando que daí viria o capitalismo de Estado. Viveu 53 anos. E seu Governo
durou 6 anos.
O camarada Stálin, que o sucedeu, priorizou não só a
perseguição a todas as religiões como também, ao mesmo tempo, a eliminação
todos que ligados ao camarada Lênin pudessem, de algum modo, atrair
rivalidades.
O camarada Leon Trotsky, possivelmente o mais culto entre
os leninistas, correu o mundo que lhe foi possível, sem lugar onde se esconder
da perseguição do camarada Stálin até ser assassinado a golpes de picareta no
jardim da casa onde morava em seu asilo no México.
Parcerias na nova fé, irmãos camaradas!
Vendo ser impossível destruir todos os templos, Stálin
pensou em adaptar alguns, modificando fachadas, para servirem como repartições
da burocracia soviética. No mais, destruir as demais. Nada de templos para a fé
religiosa. Era tudo casa de ópio, teorizava.
Assim, a Catedral de Cristo Salvador, a segunda igreja mais
admirada de Moscou, cuja construção durou 66 anos, que sobreviveu à invasão
destruidora das tropas de Napoleão em 1812, desabou em 5 de dezembro de l931sob
a implosão ordenada por Stálin.
No lugar da Igreja de Cristo Salvador seria erguido o
Palácio dos Sovietes, um colegiado surgido em 1905 no qual representantes do
proletariado, incluindo militares, exerciam os poderes do legislativo e do
executivo. Em 1917, Lênin proclamou – todo o poder aos sovietes. E foi com o
apoio deles que Lênin consolidou o seu poder.
A Segunda Guerra para a qual Hitler imaginava Stálin neutro
atirou os russos aos campos de batalha em reforço aos Aliados – Inglaterra,
Estados Unidos, França, Brasil e outros, moveu para depois a construção do
Palácio dos Sovietes.
Agora, finda guerra, já não havia dinheiro para a
construção do Palácio. No lugar da Igreja haveria um piscinão. A força da fé do
povo fez reerguer com seus próprios recursos a Catedral de Cristo Salvador, igualzinha
ao que sempre foi e já se vão 200 anos.
O gênio macabro do camarada Stálin, cujas barbáries,
assassinatos de milhares de dissidentes e de seguidores da fé cristã seriam
depois reveladas ao mundo por Kruschev, insistiu na demolição da Catedral de S.
Patrício. Houve reação inclusive dentro do Kremlim.
A Catedral de S. Patrício é essa maravilha da arquitetura
russa construída sob a ordens de Ivan, o Terrível, entre 1555 e 1561, que o
camarada Stálin insinuou desafiar.
Edson Vidigal, Advogado, foi Presidente do Superior
Tribunal de Justiça e do Conselho da Justiça Federal.
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