sábado, 8 de setembro de 2018

Parabéns São Luís pelos 406 primaveras!


Velha, São Luís eterna

Francisco Tribuzi

Parado o tempo, as folhas dos galhos das árvores seculares nem mexiam, um sol escaldante. a beira-mar parecia um quadro primitivo banhado de luz, contra a treva melancólica do provincianismo ludovicense. Os portugueses, senhores plenos do comércio de grande porte, chegavam com os primeiros raios da manhã e, espantavam os pássaros e estivadores que, sonolentos, cochilavam nas calçadas bordadas de pedras de cantaria, quando levantavam as portas sanfonadas de alumínio, dos armazéns. As senhoras, logo depois, chegavam com as comprar, com seus vestidos rendados e compridos e seus chapéus-de-sol. O mar furioso de agosto esmurrava a rampa Campos Melo adjacências, trazendo os primeiros barcos e lanchas com porcos, galinhas da terra, vindo das ilhas circunvizinhas, o famoso caranguejo da ilha do mesmo nome e dos peixes fresquinhos da hora, pescado ali mesmo, nas imediações do que hoje chamamos de Bacanga; trecho que liga por estrada asfaltada, o centro da cidade via madre de Deus à Universidade Federal do Maranhão e bairros do lado de lá do mar, tais como Sá Viana, Vila Embratel, Anjo da Guarda... Tudo era calmaria, a cidade, podemos dizer assim, funcionava a vapor. Suas ruas de paralelepípedos davam-lhe um ar histórico contracenando com a riqueza de suas lendas e seu vasto arsenal de cultura. Efervescia os primeiros movimentos culturais, associações... nas quais varavam as noites discutindo, declamando, aperfeiçoando, enfim, fazendo acontecer as tendências artísticas em suas variações e multiplicidades na pacata São Luís de então. Nos fins de semana, quando as estrelas ascendiam o céu e a noite resplandeciam fulgurante sobre o nosso telhado e sobradões de azulejo o cassino abria suas portas, para tertúlias onde os "coronéis" e barões de então acompanhados por damas de finas roupagens, embelezavam os salões encadeados por lustres e candelabros dos mais belos acabamentos. No fundo, uma orquestra formada por senhores de fraque e regida por um maestro francês que, aqui vindo a negócios apaixonou-se e, esqueceu-se por completo de sua decantada Paris. Nos bondes, sonolentos trabalhadores viajavam seus trajetos de volta ao lar, ansiosos para desfrutarem do manjar da última refeição do dia, do banho morno relaxador, enfim do tão esperado descanso de mais um dia de trabalho árduo, na ULEM, Refesa, nos Armazéns, no Liceu Maranhense na Escola Modelo Benedito Leito, nos postos do Banco do Brasil, nos Correios e Telegraphos... etc. Esta era a São Luís de outrora, uma cidade sitiada de lendas, bons costumes, bordada de azulejos com seus telhados melancólicos e seus passeios orquestrados por ruas rendadas de paralelepípedos - seus museus ricos em arquivos arquitetônicos e preciosidades históricas. Ilha plena de amor iluminada por um céu bucólico e estrelas-vagalumes de ternura e banhada por um mar vivo de poesia.

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