Velha, São Luís eterna
Francisco Tribuzi
Parado o tempo, as folhas dos galhos das árvores
seculares nem mexiam, um sol escaldante. a beira-mar parecia um quadro
primitivo banhado de luz, contra a treva melancólica do provincianismo
ludovicense. Os portugueses, senhores plenos do comércio de grande porte,
chegavam com os primeiros raios da manhã e, espantavam os pássaros e
estivadores que, sonolentos, cochilavam nas calçadas bordadas de pedras de
cantaria, quando levantavam as portas sanfonadas de alumínio, dos armazéns. As
senhoras, logo depois, chegavam com as comprar, com seus vestidos rendados e
compridos e seus chapéus-de-sol. O mar furioso de agosto esmurrava a rampa
Campos Melo adjacências, trazendo os primeiros barcos e lanchas com porcos,
galinhas da terra, vindo das ilhas circunvizinhas, o famoso caranguejo da ilha
do mesmo nome e dos peixes fresquinhos da hora, pescado ali mesmo, nas
imediações do que hoje chamamos de Bacanga; trecho que liga por estrada
asfaltada, o centro da cidade via madre de Deus à Universidade Federal do
Maranhão e bairros do lado de lá do mar, tais como Sá Viana, Vila Embratel,
Anjo da Guarda... Tudo era calmaria, a cidade, podemos dizer assim, funcionava
a vapor. Suas ruas de paralelepípedos davam-lhe um ar histórico contracenando
com a riqueza de suas lendas e seu vasto arsenal de cultura. Efervescia os
primeiros movimentos culturais, associações... nas quais varavam as noites
discutindo, declamando, aperfeiçoando, enfim, fazendo acontecer as tendências
artísticas em suas variações e multiplicidades na pacata São Luís de então. Nos
fins de semana, quando as estrelas ascendiam o céu e a noite resplandeciam
fulgurante sobre o nosso telhado e sobradões de azulejo o cassino abria suas
portas, para tertúlias onde os "coronéis" e barões de então
acompanhados por damas de finas roupagens, embelezavam os salões encadeados por
lustres e candelabros dos mais belos acabamentos. No fundo, uma orquestra
formada por senhores de fraque e regida por um maestro francês que, aqui vindo
a negócios apaixonou-se e, esqueceu-se por completo de sua decantada Paris. Nos
bondes, sonolentos trabalhadores viajavam seus trajetos de volta ao lar,
ansiosos para desfrutarem do manjar da última refeição do dia, do banho morno
relaxador, enfim do tão esperado descanso de mais um dia de trabalho árduo, na
ULEM, Refesa, nos Armazéns, no Liceu Maranhense na Escola Modelo Benedito
Leito, nos postos do Banco do Brasil, nos Correios e Telegraphos... etc. Esta
era a São Luís de outrora, uma cidade sitiada de lendas, bons costumes, bordada
de azulejos com seus telhados melancólicos e seus passeios orquestrados por
ruas rendadas de paralelepípedos - seus museus ricos em arquivos arquitetônicos
e preciosidades históricas. Ilha plena de amor iluminada por um céu bucólico e
estrelas-vagalumes de ternura e banhada por um mar vivo de poesia.
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