Sebastião Nery
RIO – Ao ignorar o limite de 54% para as despesas de
pessoal, os Estados brasileiros geraram a falta de liquidez do crescimento da
dívida pública, bloqueando investimentos e atingindo a população na prestação
de serviços públicos. Os novos governadores vão receber uma herança maldita: a
crise fiscal, buscando urgência no ajuste das contas públicas. Adiar essa questão
levará à insolvência muitas unidades federativas. É gravíssima a situação
fiscal na maioria dos Estados. Os governadores que assumirão o poder herdarão a
falta de prudência das administrações passadas, elevação de despesas sem a
contrapartida na capacidade de arrecadação.
A carência de investimentos dos Estados está se
refletindo na ausência de recursos nas áreas de educação, saúde, segurança
pública e infraestrutura. O descumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal
gerou a dramática realidade. A alternativa é buscar disciplinada política
fiscal, e reformas profundas. Vai exigir coragem de estadistas, não temendo a
impopularidade momentânea, implantando corajosa reforma no aparelho estatal
para evitar o colapso dos serviços públicos. Um exemplo é a extrapolação das
despesas com salários e aposentadorias que vem estourando o limite de gastos
com pessoal.
Recente relatório do Tesouro Nacional atesta que essa
questão vem se agravando, e 16 Estados podem vir a ser declarados insolventes.
É um grande desafio para os novos governadores. Muitos dos seus antecessores
desrespeitaram a Lei de Responsabilidade Fiscal que fixa o teto máximo de 60%
da Receita Corrente Líquida para a folha de pessoal. O Tesouro Nacional
constatou que em cinco Estados, o gasto com pessoal ultrapassou 75% da receita
corrente líquida: Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Rio Grande do Norte, Minas
Gerais e Mato Grosso do Sul. Acima de 60% da receita estão: Distrito Federal,
Piauí, Tocantins, Mato Grosso, Acre, Sergipe, Paraíba, Roraima, Alagoas, Bahia,
Paraná e Santa Catarina.
O alerta de Ana Carla Abrão Costa, ex-secretária da
Fazenda de Goiás é oportuno: “Todos os Estados estão na mesma correnteza, com
uma grande queda à frente na qual alguns já foram tragados. É trajetória
insustentável. Se os Estados não fizerem ajustes, as despesas com pessoal vão
consumir toda a receita, determinando o colapso dos serviços públicos”. O
economista Raul Velloso na mesma direção lembra que a principal fonte de
desequilíbrio está na folha de pagamento dos aposentados e inativos.
O Anuário Estatístico da Previdência Social traduz em
números essa realidade: em Minas Gerais os servidores ativos são 217.034; os
inativos e pensionistas, 319.043. No Rio Grande do Sul, os ativos são 117.934 e
os inativos e pensionistas, 205.835. No Rio de Janeiro são ativos 215.265
contra 253.009 inativos e pensionistas. Em Santa Catarina, são ativos 65.112 e
66.557 inativos e pensionistas. Nos demais Estados, o número de servidores
ativos ainda é maior com diferenças mínimas, mas tendente ao crescimento de
inativos e pensionistas ao longo dos próximos anos.
Alguns governos estaduais esconderam a fragilidade das
contas públicas pela maquiagem contábil. A finalidade era demonstrar que
estavam nos limites fixados pela Lei de Responsabilidade Fiscal, para a
política de gastos com pessoal. A artificialidade fiscal agora cobra o preço da
falsificação dos números. Desequilíbrio orçamentário é caminho seguro para o
insucesso de qualquer administração.

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