Dom Paulo Mendes Peixoto - Arcebispo Metropolitano de Uberaba – MG
O que aconteceu em Mariana, e agora em Brumadinho, é o
retrato perfeito de um desenvolvimento sem sustentabilidade. E certamente isso
não vai parar por aí se não houver uma ação efetiva de penalidade do Ministério
Público. Existe um relaxamento e uma conivência de autoridades permitindo que o
flagelo se repita. Na região do Triângulo Mineiro isso pode se repetir. Tomara
que não!
Não somos contra o processo de desenvolvimento e nem contra
as mineradoras. Mas é inconcebível ver vidas humanas sendo ceifadas da forma
como tudo está acontecendo. Os responsáveis têm sido alertados por moradores
das regiões próximas de rejeitos e não são levados em conta pelas empresas.
Isso aconteceu no fato de Mariana, e também nesse de Brumadinho.
Da catástrofe de Mariana eu ouvi pessoalmente de uma
senhora, de Bento Rodrigues, não levada pela lama que, dias antes do fato, numa
reunião com os técnicos da empresa e os moradores locais, alguém da comunidade
alertou sobre o perigo da represa, e recebeu como resposta grosseira de um
técnico: “Vocês não entendem nada disso. Nós técnicos é que entendemos”.
Parece que não existe culpado diante desses cenários
catastróficos. O Papa Francisco diz que devemos agir contra uma economia de
exclusão, que mata, e está matando como estamos presenciando no Brasil. Para o
grande mercado, as grandes empresas, a morte de pessoas tem menos valor do que
a notícia da descida de dois pontos na Bolsa de Valores (cf. EG, 53).
Vivemos um momento de indignação, de revolta e de dor.
Quantas famílias espalhadas pelo país em situação de luto, de incertezas e de
falência na sua história de vida. Ninguém recupera e nem paga o valor de uma
vida humana. Sem falar dos estragos naturais provocados por essas grandes
empresas, em grande parte pela ganância na conquista de mercados privilegiados.
A vocação do ser humano tem muito a ver com a santidade.
Passa por um caminho capaz de levar a pessoa à conquista da verdadeira
felicidade. Não significa ser majoritário na quantidade de valores materiais. A
vida com qualidade está acima de tudo, e ela pertence a Deus. Isso significa
que tudo passa, a morte é para todos. O que fica é o que é feito de bem, de
justiça e de honestidade.

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