Dom Gil Antônio Moreira - Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora – MG
A partir do livro ‘Maria, Mãe da Humildade’, de autoria
de Frei Bruno Varriano, atual guardião da Basílica de Nazaré, na Terra Santa,
prossigo reflexões iniciadas no artigo da semana passada, sobre a vida
cotidiana de Jesus, Maria e José.
Como família observante das leis divinas, em casa, Maria
era a mãe educadora da fé e ensinava, na ordem humana, os princípios da Torá e
dos Profetas ao seu menino Jesus que, diante dela, como toda criança hebreia,
tinha que recitar, todos os dias, o “Kaddish”, repetindo, com respeitosa
piedade, “Santo, Santo, santo é o Senhor”.
Na simplicidade da vida de Nazaré, um povoado perdido no mapa da Galileia, desprezado pelos romanos dominadores e até mesmo pela maioria dos judeus, é que Maria vivia com seu Jesus e José, celebrando na alma o que todos os judeus esperavam, ou seja, que um dia, o Senhor haveria de enviar a Luz. “E a luz brilhou nas trevas...” (Jo 1, 5), escreverá mais tarde João Evangelista, o discípulo a quem coube acolher Maria em sua casa, depois que toda a história chegou a seu cume e à sua vitória, iluminada pela luz esplendorosa do Espírito Santo, do primeiro Pentecostes cristão.
Observando o shabat, o sétimo dia sagrado para o povo
judaico, o sábado do descanso semanal, Maria, com sua família preparava, todas
as semanas, a mesa de sua casa, ao redor da qual sentava-se José que, como todo
bom judeu, dirigia a oração, tendo ao lado sua esposa Maria, e Jesus, para
elevar os corações a Deus e agradecer os inúmeros favores que fez e continuava
a fazer pelo seu povo. Às mulheres era reservada, entre outras tarefas, a preparação
das lâmpadas que acendiam em recipientes próprios para a festa sagrada.
Recordemos que quando Simeão, no templo de Jerusalém, comtemplou o menino Jesus
nos braços de Maria, exclamou: “Agora posso descansar em paz, Senhor, pois meus
olhos viram a tua salvação..., luz para iluminar as nações...” (Lc 2, 29).
Bruno Varriano conta que, certo dia, deu carona a um
jovem judeu com quem teve piedosa conversa sobre as coisas sagradas. Em
determinado momento, o rapaz lhe disse que, na semana do Yeshivá, a escola
rabínica onde os adolescentes aprendem a catequese judaica, ele não usava a
internet e nem mesmo o celular. Perguntado o porquê, respondeu o jovem: “porque
para interiorizar a Torá, é preciso fazer silêncio, e assim ser conduzido pela
Ruahar, o Espírito de Adonai, o Senhor”.
Aqui entendemos a alma judaica e encontramos as razões
mais profundas do silêncio de Maria.
Num mundo tão cheio de ruídos de hoje, de tantos barulhos
ensurdecedores desta época pós-moderna, Maria, a Virgem Santa de Nazaré, nos
ensina as condições para viver em família com Jesus, luz que brilhou nas
trevas, como modelo de pessoa orante que tem os ouvidos e a mente, o coração e
alma voltados para Deus. Na escola de Maria, aprendemos a amar a Cristo que, de
seu seio puríssimo, nasceu por obra do Espírito Santo para nos salvar.
A Virgem por Deus escolhida, preservada de toda mancha,
em previsão dos méritos de Jesus Cristo, nosso divino Salvador, é modelo de
como todos os cristãos devem celebrar o Natal, abrindo-se à luz que vem do alto.
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