Petrônio Souza Gonçalves
José Aparecido de Oliveira foi reconhecido em vida como “O
Melhor Mineiro do Mundo”. Nascido em 17 de fevereiro de 1929, tudo foi muito
precoce e intenso em sua vida, considerado por muitos como um dos maiores
mineiros em todos os tempos. Aos 11 anos de idade perdeu o pai e assumiu a
condução moral da família. Ao lado da mãe e mestra, Aracy Pedrelina de
Oliveira, ajudou a criar os quatro irmãos mais novos: Genesco, Maria Aparecida,
Alda e Modesto. Honrou até o último segundo de sua vida essa missão.
Antes dos 35 anos de idade já havia sido secretário
particular do Presidente da República, Jânio Quadros; deputado federal eleito e
depois cassado no Primeiro Ato Institucional do Golpe de 1964; e secretário de
Estado de Minas Gerais, ocupando simultaneamente duas secretarias. Em linha direta
do tio Clodomiro de Oliveira, José Aparecido de Oliveira era um brasileiro por
excelência. Poucos homens exerceram tanto fascínio no meio político, cultural e
intelectual do Brasil por tanto tempo.
Deputado cassado e gozando de notável prestígio, liderou
uma pioneira campanha nacional pela preservação do município do Serro, em 1974.
Pouco tempo depois participou da exitosa campanha de Tancredo Neves para o
governo de Minas, sendo ele o segundo candidato a deputado federal com a maior
votação no Estado naquele pleito. Criou e implantou a secretária de Estado de
Cultura de Minas Gerais, sendo o primeiro secretário da pasta. Com livre
trânsito no cenário político nacional, articulou a candidatura de Tancredo
Neves para a presidência da República, sendo ela vitoriosa em votação indireta.
José Aparecido dizia que um povo sem cultural é como um
corpo sem alma. Liderou e criou o Ministério da Cultura, sendo o primeiro
ministro. A convite do presidente José Sarney, tornou-se governador do Distrito
Federal, resgatando o Plano Piloto da Capital do país, junto com seus
idealizadores: Lúcio Costa e Oscar Niemeyer. Liderou o tombamento de Brasília
pela UNESCO, sendo ela a única cidade no mundo criada e tombada no mesmo
século.
Sempre visionário, tinha um sonho: irmanar os povos do
planeta pela Língua e quando assumiu a Embaixada Brasileira em Lisboa, liderou
e implantou a CPLP – Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, na presidência
do amigo Itamar Franco. Ao fim do mandato de presidente, Itamar queria
indicá-lo para a sua sucessão, o que não foi possível por Aparecido ter passado
por uma complicada cirurgia. De volta a Minas, participou ativamente da exitosa
campanha de Itamar Franco ao governo do Estado, que culminaria na defesa
intransigente do patrimônio público de Minas Gerais e da CEMIG.
Em 19 de outubro de 2007 José Aparecido de Oliveira nos
deixou, depois de ser vencido por um câncer. Podemos dizer que muitos ficaram
órfãos de suas ideias, ideais e valores. Sua obra maior, o Ministério da
Cultura, não existe mais. Aos poucos, vamos perdendo as referências de
Aparecido e de nossa mineiridade, ficando mais pobres em nós mesmos. Sei que
ele está, a cada dia, fazendo muito falta por aqui.
Petrônio Souza Gonçalves é jornalista e escritor
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