Adilson Motta de Santana
Antes de procurarmos entender o que é especificamente um
transe sonambúlico, precisamos definir o transe. Fomos buscar o pensamento do
estudioso Pierre Janet1, que conceitua transe como sendo “um estado de baixa
tensão psíquica”, o qual relacionamos à emancipação da alma. Diferencia-se do
sono por ser este comum a todas as pessoas e ocorrer por necessidade de repouso
do corpo físico. A alta tensão psíquica se refere ao estado de atividade
necessária para a realização de operações intelectuais, para o uso da vontade,
da atividade criadora etc. Já o estado de baixa tensão psíquica se caracteriza
pela passividade necessária ao funcionamento dos instintos, dos hábitos,
emoções, inspiração etc., que não requerem o uso da vontade, pois funcionam
automaticamente conforme as circunstâncias. Nessas situações, apesar do
rebaixamento da tensão psíquica, não há o transe, pois a alma não está
emancipada.
O transe é muito comum, quase todo mundo pode participar
dessa condição, porém é muito variado nas suas manifestações como nas suas
causas. Pode ser superficial, imperceptível até, ou muito profundo. Pode durar
alguns segundos ou vários dias, pode ter causa patológica ou não, ser provocado
ou surgir espontaneamente.
Dentre todos os níveis de transe, o sonambulismo é dos mais
profundos, podendo ser natural (espontâneo) ou magnético (provocado). O
sonâmbulo magnético pode demonstrar várias habilidades como enxergar com os
olhos fechados, ouvir sem utilizar os ouvidos, ver à distância, prever o
futuro, retornar ao passado, comunicar-se pelo pensamento, demonstrando os
potenciais da alma que age sem o uso dos sentidos físicos.
Como identificar o sonambulismo? A característica mais
apropriada para diferenciar entre o sonambulismo propriamente dito e os demais
estados de transe é através da memória pós-sonambulismo. Retornando à vigília o
sonâmbulo não recorda voluntariamente o que experimentou, viu, ouviu ou sentiu
durante o transe. Isso ocorre porque nesse nível profundo de transe as
vivências do Espírito não ficam registradas a nível físico. Como tudo, porém,
que atravessa os nossos sentidos sejam físicos ou espirituais fica gravado na
memória do Espírito, os conteúdos nunca se perdem, podendo ser acessados quando
o sonâmbulo entra novamente em transe. Somente serão lembrados caso o sonâmbulo
ainda em transe receba uma sugestão do seu magnetizador para que relembre das
suas vivências. Somente desse modo ele conseguirá lembrar-se de tudo ao entrar
novamente no estado de vigília.
Há transes de nível intermediário, pré-sonambúlicos ou
simples desdobramentos nos quais o sensitivo consegue demonstrar muitas
habilidades da alma emancipada, o que já é suficiente para exercer um bom
trabalho. Há aqueles mesmos que não precisam de transe algum e evidenciam uma
dupla vista com a mesma intensidade que o sonâmbulo, só que em plena vigília.
Emancipação da alma não significa necessariamente desprendimento do Espírito.
Na dupla vista o Espírito não se desprende do corpo, mas a alma ganha uma
relativa independência, se expande ao redor, já que o Espírito não se encontra
ligado ao corpo como se estivesse preso dentro de uma caixa, conforme
explicação de Allan Kardec.
1Pierre Janet (1859 — 1947) foi um psicólogo, psiquiatra e
neurologista francês que fez importantes contribuições para o estudo moderno
das desordens mentais e emocionais envolvendo ansiedade, fobias e outros
comportamentos anormais.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Este blog só aceita comentários ou críticas que não ofendam a dignidade das pessoas.