quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

O que podemos chamar de transe sonambúlico?


Adilson Motta de Santana







Antes de procurarmos entender o que é especificamente um transe sonambúlico, precisamos definir o transe. Fomos buscar o pensamento do estudioso Pierre Janet1, que conceitua transe como sendo “um estado de baixa tensão psíquica”, o qual relacionamos à emancipação da alma. Diferencia-se do sono por ser este comum a todas as pessoas e ocorrer por necessidade de repouso do corpo físico. A alta tensão psíquica se refere ao estado de atividade necessária para a realização de operações intelectuais, para o uso da vontade, da atividade criadora etc. Já o estado de baixa tensão psíquica se caracteriza pela passividade necessária ao funcionamento dos instintos, dos hábitos, emoções, inspiração etc., que não requerem o uso da vontade, pois funcionam automaticamente conforme as circunstâncias. Nessas situações, apesar do rebaixamento da tensão psíquica, não há o transe, pois a alma não está emancipada.

O transe é muito comum, quase todo mundo pode participar dessa condição, porém é muito variado nas suas manifestações como nas suas causas. Pode ser superficial, imperceptível até, ou muito profundo. Pode durar alguns segundos ou vários dias, pode ter causa patológica ou não, ser provocado ou surgir espontaneamente.

Dentre todos os níveis de transe, o sonambulismo é dos mais profundos, podendo ser natural (espontâneo) ou magnético (provocado). O sonâmbulo magnético pode demonstrar várias habilidades como enxergar com os olhos fechados, ouvir sem utilizar os ouvidos, ver à distância, prever o futuro, retornar ao passado, comunicar-se pelo pensamento, demonstrando os potenciais da alma que age sem o uso dos sentidos físicos.

Como identificar o sonambulismo? A característica mais apropriada para diferenciar entre o sonambulismo propriamente dito e os demais estados de transe é através da memória pós-sonambulismo. Retornando à vigília o sonâmbulo não recorda voluntariamente o que experimentou, viu, ouviu ou sentiu durante o transe. Isso ocorre porque nesse nível profundo de transe as vivências do Espírito não ficam registradas a nível físico. Como tudo, porém, que atravessa os nossos sentidos sejam físicos ou espirituais fica gravado na memória do Espírito, os conteúdos nunca se perdem, podendo ser acessados quando o sonâmbulo entra novamente em transe. Somente serão lembrados caso o sonâmbulo ainda em transe receba uma sugestão do seu magnetizador para que relembre das suas vivências. Somente desse modo ele conseguirá lembrar-se de tudo ao entrar novamente no estado de vigília.

Há transes de nível intermediário, pré-sonambúlicos ou simples desdobramentos nos quais o sensitivo consegue demonstrar muitas habilidades da alma emancipada, o que já é suficiente para exercer um bom trabalho. Há aqueles mesmos que não precisam de transe algum e evidenciam uma dupla vista com a mesma intensidade que o sonâmbulo, só que em plena vigília. Emancipação da alma não significa necessariamente desprendimento do Espírito. Na dupla vista o Espírito não se desprende do corpo, mas a alma ganha uma relativa independência, se expande ao redor, já que o Espírito não se encontra ligado ao corpo como se estivesse preso dentro de uma caixa, conforme explicação de Allan Kardec.


1Pierre Janet (1859 — 1947) foi um psicólogo, psiquiatra e neurologista francês que fez importantes contribuições para o estudo moderno das desordens mentais e emocionais envolvendo ansiedade, fobias e outros comportamentos anormais.

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