Sebastião Nery
RIO – Paes de Andrade, sempre que retornava a Fortaleza,
reunia em sua casa os amigos para um convescote. Chegávamos – uns vinte – para
o almoço de carneiro e para todas aquelas relembranças da história política do
Ceará, em que o Filho de Mombaça havia sido personagem marcante por mais de
meio século.
O carneiro do Paes, preparado pelas mãos competentes da
cozinheira Francinete e apresentado em várias modalidades culinárias, fazia o
regalo dos convidados e a inveja posterior dos que, por viagem ou distração,
haviam se ausentado daquela mesa farta de sabor sertanejo e prosaica
convivência.
Quando o nosso líder morreu, naquele malfadado 17 de junho
de 2015, em Brasília, resolvemos, na semana seguinte, reunir em Fortaleza,
naquele mesmo endereço da Praia de Iracema, os frequentadores do almoço do Paes
para a última carneirada.
Nesse dia todos compareceram. Eram uns trinta. Dona
Zildinha, ainda muito abalada, não veio, mas ficou, de Brasília, acompanhando
em tempo real toda a reunião. Estavam ali muitos familiares, filhas, genros e
netos. Antigos companheiros das jornadas políticas e várias gerações de
admiradores reprisavam passagens épicas ou simplesmente hilárias daquele
cavaleiro andante, que por décadas exercera mandatos legislativos e missões
públicas com desenvoltura lhaneza e afilada competência.
Eu havia pintado um retrato do ilustre personagem, que,
belamente emoldurado por providência de Carlos Castelo, deveria ser solenemente
entronizado naquela sala em que ele costumeiramente nos recebia.
Houve discursos e relatos memoriais. E, quando foi
descerrado o pano, declamei o poema composto de madrugada, sob forte impacto
emocional e justificada dor: Cantiga de Saudade para Paes de Andrade.
Juarez Leitão, poeta, historiador, membro da academia
Cearense de Letras e do Instituto do Ceará, com o brilho dos poetas relembrou
Paes de Andrade.
Em Roma e Paris, como Adido Cultural, fui testemunha e
participante do respeito com que era recebido pelas lideranças políticas e
culturais, como o professor da Universidade de Coimbra, José Joaquim Gomes
Canotilho, professor Diamantino Durão, Reitor da Universidade Lusíada de Lisboa
a direção da Mason da l’Amérique Latine e tantos outros.
Paes de Andrade, o político, o jurídico, o militante
democrático – editado pela Câmara dos Deputados, é o caloroso depoimento sobre
uma época.
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