Marli Gonçalves
Se há alguns anos algum vidente nos revelasse o que
aconteceria no Brasil, na política, na economia, na sociedade, mandaríamos
internar o meliante por charlatanismo, o prenderíamos por estelionato e até
quem sabe o acusaríamos de mau brasileiro e de tentativa de golpe. No próximo
dia 1º de abril – sim, já praticamente chegou – qualquer mentira que tentarmos
pregar será muito menor do que a realidade. Você acreditaria se tivessem te
contado isso?
O mito vai despencar na aprovação da administração e forma
de governar em menos de cem dias do governo, e uma decepção geral entre seu
eleitorado logo será sentida no ar que se respira. Dois ex-presidentes da
República serão presos, um popular e outro totalmente impopular, este último,
inclusive, será preso de forma açodada, no meio da rua, tirado do carro e
levado para outro Estado. Filhos do
presidente que será eleito com grande maioria criarão problemas diários e levarão
o governo à bancarrota; reformas previstas podem não sair do papel. Virão do
Supremo Tribunal Federal ordens para que sejam investigados e presos autores de
ameaças, e assim os julgadores é que irão atrás dos julgados, numa certa
controvérsia de papeis. Haverá quem dê mais atenção e valor às notícias falsas
do que às apurações da imprensa. Grupos acenderão velas e rezarão muito para
que a economia ande, senão pairará uma nuvem cinza sobre o país, e dela
choverão pontos de interrogação.
A oposição tomará um chá de sumiço. Os perdedores quase não
serão mais encontrados. De vez em quando alguns aparecerão apenas soluçando
pela libertação do grande líder, sem o qual eles não terão a menor ideia do que
fazer.
Os militares de alta patente voltarão ao poder, ocupando
cargos importantes, oito, para início da conversa. Seu porta-voz será o
vice-presidente, também general. Será esse general vice-presidente quem dará as
declarações mais ajuizadas, ponderadas, para surpresa geral da Nação, que
passará a admirá-lo criando ciúmes no presidente, sua família e auxiliares mais
próximos. A Lava Jato, logo depois de seu aniversário de cinco anos, sofrerá
revezes, e o seu poderoso juiz que largará tudo para ser ministro se verá
confuso no meio de embates políticos e comendo o pão que o diabo amassou para
manter seu prestígio, que também poderá ficar abalado e sofrer derrotas.
Um jovem presidente da Câmara será reeleito e de repente se
transformará em líder, mais maduro e independente, consciente de sua força na
articulação para aprovação de reformas que serão fundamentais para o país, mas
que enfrentarão forte resistência popular e política. Também ele será alvo de
torpedos apoiados e disparados pelos açodados filhos do presidente, mas
responderá um a um com palavras duras, mantendo-se firme na condução do que
acredita será a pavimentação de sua candidatura a presidente em uma eleição
próxima, quando disputará com outro “jovem”, que será governador de São Paulo e
que também só pensa nisso dia e noite.
Ainda na Congresso poderão ser encontradas figuras pitorescas
como um ex-ator, inclusive de pornôs, e vários polêmicos ex-jornalistas, que
abandonaram a imprensa justamente por acusações que vão desde doideiras gerais
a plágios e ligações com a indústria armamentista. Uns logo sumirão ali no meio
das raposas; outros tentarão ser as próprias raposas. Farão de um tudo para
aparecerem dando declarações sem sentido no horário nobre, quando tentarão se
mostrar “assim, ó” com o poder constituído. Poder esse que terá ministros e
pouquíssimas ministras; e entre eles alguns que chegarão a ser engraçados
quando falarem o que pensam, ou por ignorância ou pela religião que professam.
Na internet serão esculhambados diariamente em memes, piadas e charges.
A internet e as redes sociais serão usadas para governar, e
eles próprios gravarão vídeos que publicarão em seus perfis e a imprensa terá
de correr atrás; assim tentarão não ter de encontrar repórteres e suas
perguntas desagradáveis. Formarão um exército de colaboradores internautas,
escolhidos entre os mais mal-educados e agressivos, que passarão os dias
atacando e ameaçando quem pensar diferente e a imprensa, porque acreditarão
piamente que são importantes, que o legal é cantar o hino todo dia, uma
educação anódina e uma moral hipócrita. Muitos, aliás, terão como guru um velho
astrólogo de direita, catapultado a gênio, que não parará de dar palpites,
arrumar encrencas até com os generais, e que nem no Brasil mora.
Querem mais destas previsões, ou será melhor aguardar quais
serão as próximas “Máximas da Tosquice” das quais até nós já estamos tendo as
visões?
Marli Gonçalves é jornalista.
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