Jorge Oliveira
Agora, dois deles tentaram instituir a deduragem no país.
Estimulam uma geração a desde cedo conviver com a delação, prática nociva e
ainda tão viva do regime militar. Querem que os alunos se perfilem diante da
bandeira nacional e cantem o hino nacional. Acreditam que isso vai educá-los
melhor, melhorar o ensino e dar-lhes cidadanias na falta de melhores escolas,
mais professores e mais investimentos na educação. Os que se negarem a cantar
terão suas imagens enviadas para o Ministério da Educação, como se ali fosse o
DIP, a policia fascista do Getúlio controlada por Filinto Muller.
A punição à meninada antipatriota, comunista, rebelde e
desafiadora ainda não foi estabelecida, mas pelo que parece Vélez deve
consultar o seu guru Olavo de Carvalho, nos Estados Unidos, responsável por sua
indicação, para estudar caso a caso enquanto a educação, no caos, pede socorro.
Vélez, o nosso educador, foi mais longe numa tentativa
servil de bajular o capitão. Enviou uma carta, escrita por ele mesmo, isso
mesmo, do próprio punho, para toda rede escolar para que os alunos, perfilados,
gritassem, como faziam os adoradores do nazi-fascismo, o slogan de campanha do
governo: “Deus acima de tudo, Brasil acima de todos”. A proposta é tão
esdrúxula, tão idiota que assustou até o vice-presidente, o general Hamilton
Mourão. “É contra a legislação. Você não pode colocar uma mensagem que não é de
propaganda governamental a algo que seja ligado à propaganda”, disse ele,
condenando a iniciativa de Vélez. A reação em cadeia de todos os setores
educacionais e da cúpula do governo, logo teve o efeito esperado. Vélez
desistiu da ideia do slogan até mesmo porque fere a legislação. Dois dias
depois do anúncio, desistiu também de filmar os alunos nas escolas, uma decisão
sensata que só aconteceu por causa da repercussão negativa do seu ato. O
engraçado é que os bolsonaristas estão muito inquietos. Em um dia louvam o
governo por algumas atitudes que consideram corretas, no outro frustram-se com
os pedidos de desculpas.
Lá do outro lado do Atlântico, onde estava numa audiência
da ONU, Damares, a ministra biruta, apoiou a ideia de Vélez. Disse tanta
besteira, jogou tanta conversa fora para se solidarizar com o colega que,
francamente, não gostaria de registrar nesse artigo para não deseducar os
brasileiros. É coisa para divã. Mas, infelizmente, quem poderia ajuda-la, a
psiquiatra Nise da Silveira, já morreu. Por certo, do seu túmulo mandaria
também um recado para que o governo não volte com o eletrochoque nos hospitais,
como já anunciou. “Se fizer isso, por favor, comece pelos seus ministros”,
diria ela do além-túmulo.
Este governo deveria estar preocupado em resolver os
problemas cruciais do país, em coisas mais relevantes do que os factoides dos
seus ministros que atraem a atenção para um país folclórico, cheio de alegorias
ensandecidas. A professora Eliane da Costa Bruini, colaboradora do site Brasil
Escola, chama a atenção para os problemas educacionais do país. Segundo ela, “o
Brasil ocupa o 53º lugar em educação, entre 65 países avaliados.
Mesmo com o programa social que incentivou a matrícula de
98% de crianças entre 6 e 12 anos, 731 mil ainda estão fora da escola (IBGE). O
analfabetismo funcional de pessoas entre 15 e 64 anos foi registrado em 28% no
ano de 2009; 34% dos alunos que chegam ao 5º ano de escolarização ainda não
conseguem ler; 20% dos jovens que concluem o ensino fundamental, e que moram
nas grandes cidades, não dominam o uso da leitura e da escrita. Professores
recebem menos que o piso salarial”.
Ora, eis aí um problema que Vélez deveria se preocupar em
vez de perfilar alunos para cantar o Hino Nacional como se isso fosse resolver
os problemas na educação. Chamar-se-ia isso de “desocupação educacional”.
Trata-se de um cara vazio de propostas que tenta cobrir a sua ignorância sobre
o país que optou para viver com sandices e bajulações extremas para agradar o
chefe. É mais reacionário do que o próprio que o alojou lá dentro do Ministério
da Educação.
Esses factoides parecem uma coisa orquestrada, pois tiram
da mídia o foco das notícias desagradáveis contra o capitão e seus familiares.
Inclusive aquelas que botam no colo do Flávio, o Zero Um, a milícia do Rio de
Janeiro, que tinha Queiroz como seu principal artífice na extorsão dos salários
dos servidores do gabinete de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio.
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