Do Portal Banda B
A força-tarefa Lava Jato do Ministério Público Federal no
Paraná fechou acordo de leniência com a Rodonorte – Concessionária de Rodovias
Integradas S.A. em que a empresa confessa a prática de crimes e se compromete a
pagar multa de R$ 750 milhões. O termo foi firmado no âmbito de investigações
alvo da Operação Integração, braço da Lava Jato que mira suposta corrupção e
lavagem no Departamento de Estradas de Rodagem do Paraná (DER/PR), o
Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (DNER), no Ministério dos
Transportes e na concessionária.
De acordo com a força-tarefa, o termo de leniência ainda
será submetido à homologação do Juízo da 23.ª Vara Federal de Curitiba e, em
seus efeitos cíveis, da 5ª Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério
Público Federal (5CCR/MPF). “Dentre outros fatos, a Rodonorte reconheceu o
pagamento de propinas para a obtenção de modificações contratuais benéficas à
concessionária desde o ano 2000”.
A Procuradoria da República no Paraná detalha qual será a
destinação da multa paga pela Rodonorte até o fim da concessão que se encerra
em 2021:
1) R$ 35 milhões serão pagos a título de multa prevista na
Lei de Improbidade Administrativa;
2) R$ 715 milhões serão pagos a título de reparação de
danos, sendo que: a) R$ 350 milhões serão destinados para arcar com redução em
30% da tarifa de todas as praças de pedágio por ela operadas, a ser
implementada para o usuário no prazo de 30 dias contados da homologação deste
acordo pela 5CCR/MPF, e com duração pelo tempo necessário para que o montante
total da redução tarifária alcance o valor previsto; b) R$ 365 milhões serão
destinados à execução de parte das obras nas rodovias a ela concedidas,
conforme o plano de exploração original da rodovia, que ela não esteja obrigada
a executar em decorrência do contrato hoje vigente.
A Lava Jato afirma que “além de reconhecer os ilícitos
praticados, apresentar informações e provas relevantes sobre a participação de
terceiros nos crimes e de efetuar o pagamento de multa e ressarcimento de
danos, a empresa se comprometeu a implementar medidas especiais a fim de evitar
a repetição de condutas similares no futuro”.
“Nesse sentido, a empresa terá a obrigação de estruturar
programa de integridade (compliance), ética e transparência, apresentando
relatórios anuais ao Ministério Público Federal, com o objetivo de assegurar a
adequação e a efetividade dos mecanismos de controle e integridade. No mesmo
sentido, a Rodonorte concordou em se sujeitar a monitoramento independente pelo
prazo de 32 meses, que será realizado por profissionais especializados, às
custas da empresa e sob supervisão do Ministério Público Federal”, detalha a
força-tarefa.
Os procuradores ainda dizem que o “acordo prevê que a empresa
colaboradora pagará, a título de reparação de danos, valores destinados a
reduzir a tarifa de pedágio e a realizar obras rodoviárias no interesse direto
dos usuários da via”. “São benefícios diretos e imediatos aos cidadãos
decorrentes da assinatura do acordo.”
“Pela primeira vez na história a questão do pedágio no
Paraná caminha por uma resolução efetiva com redução tarifária substancial e a
realização das obras originalmente pactuadas. Infelizmente, em vinte anos de
vigência desses contratos não houve vontade política real de resolver o
problema em virtude da corrupção sistêmica que contaminou essas avenças”, diz o
procurador Diogo Castor de Mattos.
Reparação e ampliação das investigações
A Operação Lava Jato em Curitiba celebrou 11 acordos de leniência,
e este, celebrado com a Rodonorte, segundo os procuradores, “é um dos maiores
em termos de valores”. “Para além dos valores recuperados para cofres públicos,
as provas obtidas com o acordo permitirão que as investigações avancem ainda
mais, especialmente em relação a esquemas criminosos que se desenvolveram no
Estado do Paraná”.
Para o procurador da República Felipe D’Elia Camargo,
integrante da força-tarefa Lava Jato do MPF/PR, “os fatos revelados pela
empresa colaboradora e as provas trazidas por ela demonstram que o pagamento de
propina e o direcionamento de atos administrativos eram a ‘regra do jogo’ no
âmbito das concessões de pedágio no Estado do Paraná, em um típico ambiente de
corrupção sistêmica”.
“Essas novas evidências abrem a possibilidade de ampla
responsabilização de todos os agentes públicos e privados que cometeram
ilegalidades e prejudicaram a sociedade e os usuários das rodovias
paranaenses”, afirma.
‘Corrupção não é crime eleitoral’
A força-tarefa afirma que “o acordo revela pagamentos de
propina a agentes públicos e políticos em decorrência de benefícios em
contratos públicos”. “Casos como estes não se limitaram a destinar, de forma
oculta, valores a pessoas que pleiteavam ou ocupavam cargos públicos; para além
disso, havia uma contraprestação em prejuízo ao Estado – neste caso, em obras
rodoviárias. Não cabe, portanto, confundir ou reduzir corrupção a crime
eleitoral”.
Os procuradores lembram que a definição jurídica sobre a
competência para julgar fatos nesse contexto ocorrerá em 13 de março no Supremo
Tribunal Federal. “Entender que se trata de crime eleitoral poderá significar a
desconstrução de todas as apurações feitas pela Operação Lava Jato.”
“Jamais se revelaram tantos casos de corrupção e, mesmo
quando revelados, nunca houve um acordo antes da Lava Jato superior a 100
milhões.”
“Se a sociedade quer que esse tipo de investigação e
resultado continuem a existir, é preciso que o julgamento de 13/3 reforce o
sistema anticorrupção, em vez de destruí-lo. Essa data pode decidir o passado,
o presente e o futuro não apenas da Lava Jato, mas de todas as investigações de
corrupção que envolvam o nome de políticos”, diz Deltan Dallagnol, chefe da
força-tarefa
Defesa
Em nota à imprensa, o Grupo CCR informa que “a RodoNorte
celebrou Acordo de Leniência com o Ministério Público Federal do Paraná. O
acordo foi celebrado no âmbito do procedimento presidido pelo MPF-PR. Por
determinação legal, os termos e condições do acordo são sigilosos”.
E segue: “A companhia continua contribuindo com as autoridades
para o esclarecimento dos fatos envolvendo o Grupo e suas controladas. O Grupo
também mantém o compromisso de comunicar seus acionistas e o mercado eventuais
novos desdobramentos que tiverem relação com esse Acordo de Leniência.
“O Grupo CCR reafirma seu compromisso em manter os
investimentos na modernização da infraestrutura brasileira e continuar a
prestar serviços de qualidade para seus usuários em todas as concessões
administradas pela companhia. Também reitera sua confiança no poder concedente,
nas agências reguladoras, nos órgãos de fiscalização e no Poder Judiciário.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Este blog só aceita comentários ou críticas que não ofendam a dignidade das pessoas.